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CRISE

Cidade com indígenas pró-Evo em área opositora vira campo de batalha

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Em enterro de jovem de 20 anos, indígenas gritam palavras de ordem e dizem sofrer humilhação.

Flávia Mantovani e Bruno Santos
MONTERO (BOLÍVIA)

Senhores jornalistas de outro país. Nos ajudem a denunciar ao mundo inteiro que aqui na Bolívia a polícia e os militares estão matando as pessoas indígenas. Queremos justiça.”

O bilhete, à mão, foi entregue por uma vendedora ambulante à reportagem da Folha na cidade de Montero, região de Santa Cruz, na Bolívia.

Localizado a 55 quilômetros de Santa Cruz de La Sierra, reduto da oposição a Evo Morales, o município tem muitos apoiadores do ex-presidente e foi cenário de três mortes desde a contestada eleição presidencial do dia 20. O total de vítimas subiu para 15 com os violentos conflitos de sexta-feira em Cochabamba, que deixaram ao menos 20 feridos.

A Folha acompanhou o funeral de Roberth Ariel Calizaya, 20, morto na quarta-feira (13) com um tiro no peito. Segundo a mãe dele, o jovem, que era de outra cidade, estava em Montero visitando os tios e saiu para ir ao banco no momento em que havia uma concentração de apoiadores de Evo. Ela afirma que ele não era envolvido com política. “Nem votou na última eleição.”

O velório, porém, foi organizado por apoiadores do MAS (Movimento ao Socialismo, partido de Evo). Muitos eram vendedores do mercado da cidade e ressaltavam que não são militantes, “apenas camponeses, trabalhadores”. O caixão ficou debaixo de uma tenda, com velas, fotos e flores. No dia anterior havia circulado pelas ruas. Na entrada, havia faixas com dizeres como “Jeanine Añez [autodeclarada presidente] assassina” e garotos mascando folha de coca guardando o acesso.

Havia centenas de pessoas, e a Folha foi rodeada por várias delas, que reclamavam de como ficou sua situação após a renúncia de Evo. “Estão nos matando como animais”, “estão nos humilhando e discriminando”, diziam. Vários se queixavam de que a imprensa local não lhes dá ouvidos —jornalistas da cidade, por sua vez, afirmam que são hostilizados por eles quando tentam fazer as coberturas.

Por volta das 11h, um cortejo percorreu a pé os 3 quilômetros até o cemitério. Senhoras com tranças, saia e chapéu, vendedores de suco de tamarindo e sacolés e muitos homens em moto acompanhavam o caixão. Uma multidão subiu em lápides para ver o enterro, enquanto uma banda tocava o hino da Bolívia.

Um homem fez um discurso condenando os “traidores da pátria”, enquanto parentes choravam e pessoas gritavam “Justiça!” ou “Que volte Evo!”.

“Me senti sem pai nem mãe quando ele renunciou”, diz a vendedora Sofia Cruz, 51, que afirma ter conhecido Evo criança no Chapare, região cocaleira que é considerada o berço político do ex-presidente.

Cidade com cerca de 150 mil habitantes, Montero recebeu, entre 30 e 50 anos atrás, muitos migrantes do oeste do país, onde vivem povos indígenas e Evo tinha muito apoio. Existe também um Comitê Cívico atuante, formado por entidades empresariais, profissionais e de vizinhos.

Há muita tensão entre os dois grupos, e no dia 30 de outubro eles protagonizaram uma batalha de várias horas que resultou em dois mortos e dezenas de feridos. A região vivia uma greve geral para pressionar Evo a renunciar após denúncias de fraude nas eleições. Voluntários faziam bloqueios nas ruas e estradas.

Segundo a polícia, as mortes ocorreram na entrada de Guadalupe Cofadena, assentamento com cerca de 800 casas que a Folha visitou. Na entrada, havia guardas e restos de barricada. Em seguida, um centro comunitário pintado com o rosto de Evo Morales e o nome de seu partido onde um grupo cantava músicas religiosas.

Os moradores mostraram casas que, segundo eles, foram queimadas pelos “cívicos” —a quem uma delas chama de “inimigos”. “Era como uma guerra. Um monte de vândalos encapuzados chegaram em caminhonetes”, afirma. “Nos defendemos como conseguimos. As crianças estão traumatizadas.”

As versões para o acontecido variam, mas todas começam com o descontentamento do bairro com a greve. Segundo Máximo Flores, que se apresenta como presidente do lugar, houve protestos pacíficos contra os bloqueios. “Nós só queríamos chegar ao trabalho”, diz ele.

Já a polícia e o Comitê Cívico dizem que, no dia seguinte, eles voltaram armados com espingardas e explosivos caseiros e que houve confronto entre os dois grupos —ironicamente, em um lugar chamado Ponte da Amizade.

“Isso explodiu nas redes sociais e o povo ficou com raiva. Eles voltaram a se entrincheirar em seu bairro e foram encurralados. Tentamos apaziguar, mas a situação estava fora de controle”, diz Luis Saeltzig, membro do diretório do Comitê Cívico.

Foi aí que ocorreram as mortes, de acordo com a polícia. As vítimas são Marcelo Terrazas e Mario Salvatierra, que haviam ido defender os bloqueios da greve.

Máximo Flores, por sua vez, afirma que não há ninguém de Cofadena envolvido com a violência. “Acharam que éramos nós e vieram se vingar.”

 

Com a sociedade muito polarizada, vídeos são usados para corroborar ambas as narrativas. A reportagem da Folha recebeu vários deles, enviados pelos dois lados. Um deles mostra o momento em que Roberth foi baleado.

Segundo a polícia, em Cofadena ficou escondido um argentino membro das antigas Farc (Forças Revolucionárias da Colômbia), que se feriu em um enfrentamento e está hospitalizado em estado grave. Os moradores negam que ele estivesse lá.

No mesmo bairro, um jovem diz ter sido atingido por tiros ao tentar socorrer Roberth. Usando muletas, ele mostra o ferimento na coxa e afirma que não foi ao hospital por medo de ser preso.

Morador mostra ferimento durante confronto em Montero, na região de Santa Cruz
Morador mostra ferimento durante confronto em Montero, na região de Santa Cruz – Bruno Santos/Folhapress

Em meio a tudo isso, o prefeito socialista de Montero renunciou na quinta (14) à noite e foi substituído por um político de oposição, eleito pelos legisladores municipais. Alguns dizem que ele foi ameaçado e obrigado a renunciar. Outros, que foram encontradas provas do envolvimento dele com pessoas ligadas às mortes do dia 30.

Para Saeltzig, do Comitê Cívico, dirigentes do MAS estão por trás das marchas de camponeses. “Eles manipulam crianças, mulheres e idosos”, afirma. Em sua opinião, a gestão de Evo era um “narcogoverno” que controlava os mais pobres com “migalhas”. Ele afirma também que o comitê fez muito mais por Montero do que a administração pública. “Somos promotores do desenvolvimento econômico na nossa cidade. Todos têm carinho por nós.”

Os indígenas pró-Evo afirmam não se sentirem representados pelo comitê e defendem o legado do ex-presidente, dizendo que a vida melhorou e que a discriminação contra eles diminuiu nos últimos 13 anos. Alguns dizem acreditar que a fraude denunciada na eleição foi cometida por infiltrados da oposição no Tribunal Superior Eleitoral do país.

Sobrinho de uma das vítimas dos conflitos em Montero (Mario Salvatierra), Silver Heredia, 30, garante que seu tio nunca tinha se mobilizado politicamente antes deste ano e que “só queria que seu voto fosse respeitado” nas eleições. “Ele nunca foi de partido, mas quis participar da greve pacífica”, afirma. “Tinha três filhos, sua mulher é doente. Sua morte nos causa raiva, impotência. É muito doloroso que os bolivianos estejamos nos matando.”

ACRE

Justiça acreana entrega mais doações para as famílias atingidas pela enchente

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A união e parceria das instituições, além da sociedade civil, vêm ajudando as vítimas da enchente, levando solidariedade e alimentos arrecadados através da Campanha Solidária

A desembargadora-presidente do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) Regina Ferrari, e o presidente da Associação dos Magistrados do Acre (Asmac), Gilberto Matos, realizaram nesta quarta-feira, 6, doação de 50 cestas básicas para os dirigentes da rede Cáritas, organização sem fins lucrativos que possui representantes no Estado.



A presidente do TJAC, desembargadora Regina Ferrari, destaca que “o Judiciário vem ajudando diariamente as pessoas que estão desabrigadas e atingidas pelas cheias dos rios e igarapés, tanto em Rio Branco como nos outros municípios. É um momento de apoio, de solidariedade e reflexão.”

A união e parceria das instituições, além da sociedade civil, vêm ajudando as vítimas da enchente, levando solidariedade e alimentos arrecadados através da Campanha Solidária.

O presidente da Asmac ressaltou a entrega para os representantes da Cáritas. “Hoje tivemos a grata satisfação de fazer a entrega de mais 50 cestas básicas para a população alagada e elas serão destinadas a pessoas e famílias aqui de Rio Branco, com a ajuda da Diocese de Rio Branco. Temos certeza que os representantes farão chegar a essas pessoas o mais rápido possível.”

O diácono e coordenador diocesano da Cáritas, Antônio Crispim, agradeceu a doação. “A parceria com o Tribunal de Justiça é excepcional. Nós precisamos e necessitamos de parceiros a quem confiar o nosso serviço para que nós possamos também fazer com que esses alimentos cheguem às pessoas que realmente que precisam. Essa é a grande importância dessa parceria e a gente conta com o Tribunal de Justiça em outros momentos também. E o Tribunal de Justiça pode contar conosco em qualquer momento.”

A conta da Associação dos Magistrados do Acre (Asmac) também está disponível para receber qualquer quantia, na qual até o momento foram arrecadados mais de R$ 50 mil.

As parcerias do Judiciário seguem com apoio da Associação dos Magistrados do Acre (Asmac), Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário (Sinjus-AC), Secretária de Projetos Sociais (Sepso) do TJAC, e a Associação dos Notários e Registradores do Estado do Acre (Anoreg/AC), por meio de sua Rede Ambiental e de Responsabilidade Social.

Pontos de Coletas em Rio Branco

Guaritas do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC);

Fórum Barão do Rio Branco;

Palácio da Justiça;

Cidade da Justiça.

Pontos de Coletas em Cruzeiro do Sul

Centro Cultural do Juruá;

Cidade da Justiça.

Você também pode contribuir doando qualquer quantia na conta da Asmac, por meio da chave PIX 01.709.293/0001-43 (CNPJ).

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ACRE

Rio Acre sobe três centímetros nas últimas 12 horas e marca 17,84m

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O nível do Rio Acre subiu três centímetros nas últimas doze horas na capital acreana. Conforme a Defesa Civil, na manhã desta terça-feira, 5, o nível do manancial é de 17,84m.

Com o ritmo de subida mais lento e apresentando vazante em toda a bacia, a expectativa é que o rio, finalmente, estabilize ao longo do dia.



“Nossa previsão é essa. Estamos com vazante em toda a bacia e a acredito que a partir de agora vai estabilizar. No entanto, a expectativa para hoje é apenas de estabilização, se tudo ocorrer como esperamos, podemos ter vazante a partir de amanhã”, conta Cláudio Falcão, coordenador da Defesa Civil em Rio Branco.

A capital acreana vive a segunda maior enchente de sua história este ano. A cota atual está apenas a 56 centímetros da cheia recorde do ano de 2015, quando o Rio Acre chegou a 18,40m em Rio Branco.

Quase 4 mil pessoas estão em abrigos públicos da prefeitura de Rio Branco, em escolas e no Parque de Exposições.

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ACRE

Justiça suspende expediente forense em Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia, Tarauacá e Xapuri

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Em decorrência das inundações que atingem o estado, o Poder Judiciário acreano suspendeu o expediente forense e os prazos processuais até sexta-feira, 1º de março

O Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) determina, por meio das Portarias n° 630/2024, n° 629/2024 e n° 632/2024, a suspensão do expediente forense e dos prazos processuais até sexta-feira, 1° de março, nas Comarcas de Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia, Tarauacá e Xapuri, devido às cheias dos rios do estado. 



As normativas, assinadas pela presidente do TJAC, desembargadora Regina Ferrari, estabelecem que audiências, sessões presenciais ou de modo virtual já marcadas ocorrem normalmente, exceto quando comprovada impossibilidade de participar. As medidas de caráter urgente, como mandados de segurança e Habeas Corpus, serão atendidas pelo plantão judiciário.

Os documentos também destacam que o expediente nas demais cidades do estado segue em regime normal de funcionamento, das 8h às 14h. Sem qualquer prejuízo para as cidadãs e os cidadãos que buscarem o Poder Judiciário acreano. 

Apoie Campanha Solidária do TJAC

Em decorrência do grande volume de chuvas que atingiram o estado e as cheias dos rios, milhares de pessoas tiveram que deixar suas casas, inundadas pelas águas. Por isso, em solidariedade aos desabrigados e desalojados, a Justiça acreana realiza mais uma edição da campanha solidária. O intuito é arrecadar roupas, alimentos, colchões e produtos de limpeza. Além da doação de bens e mantimentos, pode-se contribuir com valores, por meio da chave PIX: 01709.293/0001-43 (CNPJ).

Pontos de Coleta – Rio Branco

  • Guarita do prédio sede do TJAC – Rua Tribunal de Justiça, s/n. Via Verde;
  • Guarita da Cidade da Justiça de Rio Branco – Av. Paulo Lemos, n° 878, Portal da Amazônia;
  • Fórum Barão do Rio Branco – Rua Benjamin Constant, 1165, Centro;
  • Palácio da Justiça – Rua Benjamin Constant, n° 277, Centro.

Pontos de Coleta – Cruzeiro do Sul

  • Guarita da Cidade da Justiça de Cruzeiro do Sul – BR 307 Km 09, n° 4090. Boca da Alemanha;
  • Centro Cultural do Juruá – Praça João Pessoa, n° 300, Centro.

 

Portaria_PRESI_TJAC_630_2024

Portaria_PRESI_TJAC_629_2024

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