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Espólio tem mais de 700 documentários e 13,4 mil fotos – 30/12/2024 – Andanças na metrópole

Vicente Vilardaga

O fotógrafo francês Jean Manzon chegou ao Brasil em 1940. Seu primeiro emprego foi a chefia do setor de fotografia do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) durante o Estado Novo. Depois trabalhou na revista O Cruzeiro, quando ficou conhecido pelas reportagens feitas junto com o repórter David Nasser.

A trajetória profissional de Manzon foi polêmica, mas mudou o fotojornalismo brasileiro. Ele acompanhou de perto o desenvolvimento político, social, cultural e industrial do país durante cinco décadas. Suas imagens de aldeias indígenas remotas ficaram famosas, assim como seus vínculos profundos com o poder público.

Ele parou de fotografar em 1958, quando passou a se dedicar só ao cinema. Em 1961, decidiu transferir sua produtora do Rio de Janeiro para São Paulo, onde ficaria até 1990, ano de sua morte.

Seu objetivo com a mudança de cidade era expandir seus negócios com a iniciativa privada, em especial com a florescente indústria automobilística, mas também com outros ramos da economia. O parque industrial e a infraestrutura do estado estavam em expansão.

Os empresários de vários setores perceberam que contratá-lo era um bom negócio, dada a qualidade técnica de suas produções. Seus documentários circulavam em todo o Brasil e tinham grande visibilidade. Além disso, pesava a afinidade ideológica do fotógrafo com seus clientes.

Era muito procurado por políticos para fazer filmes de propaganda governamental. Documentou, por exemplo, a construção de Brasília e tinha amizade com o presidente Juscelino Kubitschek.

Outros de seus clientes foram os governadores paulistas Jânio Quadros, Carvalho Pinto e Laudo Natel. Fez muitos documentários elogiosos às obras realizadas durante a ditadura militar.

Em São Paulo, filmou, por exemplo, o sistema de transporte público, sob encomenda a antiga CMTC, resgatou a história da Companhia Docas de Santos e realizou filmes sobre as rodovias e ferrovias do estado, além de curtas-metragens institucionais para empresas e bancos, como Volkswagen, Mercedes-Benz, Ford, Votorantim, Bradesco e Itaú.

Seu acervo saiu das mãos da família em 2004 e pertence a dois investidores privados da área de mineração, que tentam vendê-lo desde então. Foi dividido em duas partes: as fotografias e os filmes. As fotos, cerca de 13,4 mil, segundo Wagner Anastácio, gestor do espólio de Manzon, têm sido oferecidas no mercado externo e encontraram interessados na França e nos Estados Unidos.

Já os filmes devem ficar no Brasil. Segundo o produtor Cássio Pardini, responsável pela comercialização do acervo, uma emissora de TV e um centro cultural demonstraram interesse pelo material cinematográfico.

Esse material contém 1.047 latas de fitas de áudio, 711 produções documentais montadas com duração média de 10 a 20 minutos, três filmes de média-metragem com 50 a 60 minutos, dois longas-metragens nunca exibidos no Brasil, além de 752 pastas com textos, decupagens e dados técnicos de cada produção e 152 horas de negativos montados.

Manzon nasceu em 1915 e começou sua carreira na revista Paris Match e no jornal Paris-Soir. Seu primeiro grande feito jornalístico foi o registro do último salto do bailarino Vaslav Nijinsky no sanatório em que ele estava internado. Na revista O Cruzeiro, onde trabalhou entre 1943 e 1951, foi responsável por 346 reportagens. Teve sempre, porém, uma visão oficial.


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