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Fez de bar a casa de gerações de estudantes no RJ – 12/11/2024 – Cotidiano

Lucas Lacerda

Um bar serve para beber cerveja, conversar fiado, ver futebol, discutir projeto de pesquisa, paquerar, rever amigos e escrever dissertação de mestrado. Tudo isso sob a supervisão alegre do Mazinho, dono do estabelecimento em Seropédica, na Baixada Fluminense, que leva seu nome.

Antes de seu estabelecimento virar sensação para os dias de festa e de glória, Josimar Damazio da Silva, natural da cidade, foi ajudante de pedreiro, frentista e gerente de pastelaria. Foi na mesma rua do Grêmio que conheceu, em 1976, a mulher, Maria das Graças Damazio da Silva, 70.

Na época, Mazinho era guarda na Rural, como é chamada a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. “Ele trabalhava e estudava, mas só fez até a sétima série. Naquela época, as pessoas dali não tinham noção de que poderiam estudar na Rural”, diz a filha Josiane da Silva, 45.

Nos anos 1990, Mazinho resolveu deixar o trabalho de frentista em Nova Iguaçu para passar mais tempo com a família, e abriu o bar. Na época, ficava em uma casa ao lado do endereço atual e não tinha o pátio com a mangueira, nem era ponto obrigatório para a primeira semana de aulas da Rural.

“Era uma portinha, bar de pinga”, diz Josiane. Foi com isso, diz ela, hoje geóloga pela universidade, que o pai bancou a formação dos filhos.

Em 2010, o bar tinha uma fama crescente que atraía ondas de estudantes recém-chegados a cada semestre, diz o professor de história João Francisco Mendes, 35. “Na minha época de mestrado, era comum convidar os colegas para tomar uma cerveja e discutir as pesquisas, embora não fosse o objetivo principal.”

Para a mineira Bárbara Zoffoli, 35, hoje chefe de laboratório da Pesagro (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro) em Itaperuna, na outra ponta do estado do Rio de Janeiro, o bar virou um pedaço de sua casa. O apoio de Mazinho foi fundamental para ela deixar um emprego ruim e voltar a estudar.

“Ele dizia ‘segura essa que você vai conseguir voltar para o doutorado, está vindo coisa melhor’.” E veio: quando ela conseguiu um emprego novo, o amigo foi o primeiro a saber.

Mazinho sempre incentivou o estudo para os filhos, os clientes e, mais recentemente, para a neta, Alícia, 9. Fora do trabalho, seu passatempo favorito era cuidar de uma roça.

Ele morreu em 7 de outubro, aos 69 anos, em decorrência de um infarto. Deixa a mulher, os filhos Josiane, Erika da Silva, 39, e Everton de Souza 36, a neta, sete irmãs e um irmão.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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