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Grafismos do povo Huni Kui são patrimônio cultural do Brasil, reconhece Iphan

Walmerinston Paixão Corrêa, de 64 anos, viveu duas décadas em situação de rua, agora comemora o fato de ter sido aprovado para o curso de Letras na Universidade Federal do Pará (UFPA). Foto: Divulgação/O Liberal

Um conjunto artístico raro e único de um povo originário do Brasil agora terá mais garantias de preservação. É que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) aprovou a inclusão dos grafismos Huni Kui da etnia Kene Kuĩ como patrimônio cultural da humanidade.

A iniciativa ocorre no momento em que a política de salvaguarda do patrimônio imaterial completa 25 anos de existência. Com o reconhecimento dos grafismo do povo Kene Kuĩ, a interpretação é que representam um conjunto de saberes e técnicas da etnia da Amazônia Ocidental.

“É uma luta de muitos anos e um sonho coletivo realizado. Hoje o Iphan entregou o produto final que é o reconhecimento pelo estado brasileiro da nossa manifestação cultural”, disse o presidente da FEPHAC (Federação do Povo Huni Kuĩ do Acre), Cacique Ninawa Huni Kuĩ.

Conjunto de saberes

O Kene Kuĩ é um conjunto de conhecimentos técnicos e rituais, materiais e imateriais, que envolvem a produção de padrões gráficos realizados pelo povo Huni Kuĩ. Geralmente são as mulheres, que desempenham o papel de “aïbu keneya” (mestras do desenho), transmitindo os saberes por meio de práticas orais, cânticos e rituais.

As produções envolvem tecelagem, cestaria, pintura corporal, cerâmica, produção de redes e miçangas, entre outros objetos. É uma linguagem visual que incorpora saberes sobre o universo cosmológico, as relações sociais, as práticas rituais e os modos de vida do povo Huni Kuï.

Os grafismos dos Kene têm uma estética que equilibra simetria e assimetria, figura e fundo, e utiliza padrões geométricos elaborados que narram histórias e refletem uma cosmologia rica e complexa.

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Aprendizado diferenciado

O aprendizado dos Kene inclui também a observação e a relação com os “yuxibu” (seres da floresta), que inspiram e guiam a criação gráfica.

No pedido de registro, destacou-se que o Kene Kuĩ é uma das principais referências identitárias para o povo Huni Kuĩ, havendo a necessidade de se garantir o reconhecimento deste bem cultural enquanto conhecimento tradicional, segundo o Iphan.

O que muda

Os especialistas e técnicos do Iphan, responsáveis pelo bem cultural, vão desenvolver políticas públicas para a proteção do Kene Kuĩ, como oficinas de salvaguarda, pesquisas de campo e consultas públicas, fortalecendo o desenvolvimento de formas de transmissão.

O povo Huni Kuĩ é originário da Amazônia Ocidental, na fronteira entre o Brasil e o Peru. Atualmente, eles estão entre o Acre e sul do Amazonas.

Duas décadas depois

O pedido de registro do Kene Kuĩ no Livro dos Saberes foi feito ao Iphan no ano de 2006, por meio do documento assinado por 127 representantes de comunidades e organizações indígenas.

Assinaram o documento representantes do povo Huni Kuĩ (Kaxinawá), como a Associação dos Produtores Kaxinawá da Aldeia Paroá (APROKAP), a Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira (OPIRE); a Associação dos Seringueiros, Agricultores e Artesãos Kaxinawá de Nova Olinda (ASPAKNO).

Também integram o apoio à inclusão a Organização do Povo Huni Kuĩ do Alto Purus (OPIHARP) e a Federação do Povo Huni Kuĩ do Acre (FEPHAC).

Cultura milenar resgatada

A indígena, conselheira do conselho consultivo e relatora do processo de registro, Naine Terena de Jesus, destacou que  houve uma tentativa de extermínio do povo Kene.

Para o superintendente do Iphan no Acre, Stênio Melo, o reconhecimento dos grafismos do povo Huni Kuĩ resgata uma cultura milenar indígena.

Antes mesmo do pedido de registro junto ao Iphan, os Huni Kuĩ já haviam realizado pesquisas sobre o Kene Kuĩ com o apoio de organizações indigenistas, produzindo uma vasta documentação.

O Kene Kuĩ é um conjunto de conhecimentos técnicos e rituais, materiais e imateriais, que envolvem a produção de padrões gráficos realizados pelo povo Huni Kuĩ. Geralmente são as mulheres que cumprem o papel de mestras. Foto: Iphan



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