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Longevidade precisa estar no centro da agenda de inovação – 21/12/2024 – Papo de Responsa

A cada 28 segundos alguém no país completa 60 anos, aponta o relatório FDC Longevidade 2024, da Fundação Dom Cabral. Hoje, de acordo com o último Censo, mais de 32 milhões de brasileiros estão nessa faixa etária, número que pode chegar a impressionantes 75 milhões até 2070.

Longe de ser apenas uma estatística, a longevidade deve ser vista como uma oportunidade. Mas, em um mundo cada vez mais digital, ela também traz desafios —e a inclusão tecnológica está entre os mais urgentes.

As tecnologias, que prometem aproximar pessoas e facilitar nossas vidas, ainda deixam milhões à margem. Dados da TIC Domicílios 2023 revelam que 42% dos brasileiros com mais de 60 anos nunca acessaram a internet. Entre os conectados, a exclusão persiste: mais de 61% enfrentam condições precárias de acesso.

O conceito de conectividade significativa reforça que não basta estar online; é preciso que a conexão seja constante, acessível e capacitadora. Para as gerações mais maduras, isso vai além do acesso: trata-se de empoderar e oferecer ferramentas para que possam exercer sua cidadania digital de forma plena e autônoma.

Sem isso, serviços como Gov.br, INSS Digital e e-Título, criados para facilitar o acesso a direitos essenciais, podem se tornar novas fontes de exclusão.

O envelhecimento populacional é uma pauta global. A ONU declarou o período de 2021 a 2030 como a Década do Envelhecimento Saudável. Ao mesmo tempo, em novembro, durante a cúpula do G20, no Rio de Janeiro, foi reforçada a necessidade de alinhar crescimento econômico e inclusão social.

Este é, portanto, o momento de colocar a longevidade no centro da agenda de inovação. Promover a inclusão digital de pessoas idosas é mais do que uma questão de justiça social, é uma estratégia essencial para o desenvolvimento sustentável.

O mapeamento “Ecossistema de Inovação Social em Longevidade“, lançado recentemente pelo Lab Nova Longevidade, uma colaboração entre Ashoka, Instituto Beja e Itaú Viver Mais, destaca o letramento digital como condicionante essencial para a participação significativa de pessoas idosas.

Paradoxalmente, apenas 17% das iniciativas brasileiras mapeadas relacionadas à longevidade priorizam a educação midiática. Ignorar essa necessidade é desperdiçar o potencial de uma população que, com suas memórias e saberes, pode oferecer soluções inovadoras para os problemas contemporâneos.

Para os mais velhos, navegar pela internet representa ainda participar de debates que impactam suas vidas, reduzindo o isolamento social e fortalecendo laços intergeracionais. Quando isso não acontece, cria-se um ciclo de dependência tecnológica que mina sua autoestima e autonomia.

Nesse sentido, os celulares, utilizados por 99% das pessoas com mais de 60 anos que acessam a internet, são dispositivos poderosos –e é por eles que se pode realizar o letramento digital.

Além disso, com o avanço da inteligência artificial, há um enorme potencial de aprimorar a experiência digital desse público. Contudo, a IA deve ser projetada com essas pessoas em mente e com o cuidado de evitar vieses que perpetuem o idadismo, preconceito que nos coloca contra nosso próprio futuro.

Devemos entender a longevidade como um triunfo coletivo. Nas palavras milenares do poeta e filósofo Cícero, “não é a força física que gera coisas grandiosas, mas a sabedoria e a experiência”.

As gerações mais maduras têm muito a ensinar sobre resiliência, criatividade e cooperação. O futuro será tanto mais rico quanto maior for a variedade de histórias e vivências que carregarmos para lá. Para isso, precisamos garantir que esse grupo esteja plenamente integrado à nossa sociedade, que se torna mais digital no mesmo ritmo do envelhecimento populacional.

Se priorizarmos políticas públicas e iniciativas que valorizem a longevidade, o Brasil tem a chance de liderar essa agenda. Investir no letramento digital e na conectividade para a população idosa é um compromisso com um mundo mais justo, diverso, inovador e acolhedor para todas as pessoas.

Afinal, se tudo der certo, é para lá que cada um de nós está caminhando.


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