
Encontro no último andar do hotel Hoxton, no bairro Poblenou, em Barcelona: vista 360°, a Sagrada Família sob os últimos raios de sol… “Olha esta cidade! Vim estudar lá com 20 anos, em 1997. Achei brilhante, cosmopolita, nunca tive vontade de sair”exclama a produtora e diretora pornô feminista sueca Erika Lust, que acaba de sair do escritório e chega acompanhada do marido e companheiro, Pablo Dobner, que a espera pacientemente. Ela pede uma taça de champanhe.
Esta não é a primeira vez que nos encontramos. Para falar a verdade, este aperitivo começou na véspera, num ambiente completamente diferente, na “Casa da Erika Lust”, uma exposição imersiva na arte da produtora. Antes de passarmos pela porta preta, nos deram uma máscara, daquelas que as lojas de fantasias chamam de “máscara veneziana sexy”. No interior, cenas eróticas nos aguardavam do chão ao teto, ao estilo Géode, com a diferença de que o público era adulto. Atrás de um fone de ouvido de realidade virtual, limpamos um espelho embaçado e vimos um casal fazendo sexo no chuveiro. De onde ela tirou exatamente a ideia de se tornar produtora de filmes pornôs?
Ela ri. Não era seu plano de carreira. Além disso, começou estudando ciências políticas na Universidade de Lund, na Suécia. Foi lá que ela descobriu que a pornografia era objeto de estudo. Desde muito jovem, a pornografia a fascina. Ela cresceu com um “apetite para entender (s)nós corpo e (s)“sexualidade”, a educação sexual na escola é abordada apenas sob o ângulo do perigo e da reprodução. Nem uma palavra sobre filmes de bunda.
É preciso dizer que naquela época, sem Internet nem computadores, “para ver, você tinha que procurar.” Começou com as revistas e essa festa do pijama na casa de uma amiga, de 13 anos, que tinha uma surpresa reservada para os convidados: uma fita cassete roubada do armário do pai. “Um momento emocionante, mas não erótico como eu esperava. Um pouco nojento e feio”ela resume com um sorriso.
Curiosidade e decepção
Anos depois, ela assiste novamente com a mesma inquietação. “Eu me perguntei se eu era normal. A maioria das mulheres ao meu redor me disse que sentiu curiosidade e decepção. Já para os homens, gays ou heterossexuais, a pornografia era considerada um momento de prazer. Eu estava com ciúmes porque eles estavam tendo essa experiência erótica para si próprios. Para mim foi muito mais complicado, estigmatizante, carregado de medo, vergonha…”ela lembra. A pornografia poderia ser feita de forma diferente?
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