No começo de janeiro, o fotojornalista Lalo de Almeida estava no polo base de Surucucu, em Roraima, registrando a crise de saúde na Terra Indígena Yanomami.
Acostumado a coberturas naquela região, ficou constrangido com a dimensão da tragédia se desenrolando na sua frente.
Em novembro, Gabriela Biló, que fotografa a política em Brasília para a Folha, já estava fora do seu horário de trabalho quando soube que um homem tinha se explodido na praça dos Três Poderes.
Ela foi para lá e fez um registro de detalhe do corpo estendido sob a chuva.
Essas são duas das milhares de imagens produzidas pela equipe de Fotografia da Folha durante o ano e que estão reunidas nesta retrospectiva.
No vídeo, os profissionais contam os bastidores das fotos: que equipamentos e técnicas usaram, como pensaram nas imagens que queriam produzir e os desafios de tempo e acesso.
Danilo Verpa, por exemplo, teve poucos segundos para uma imagem que resumia o descompasso entre o prefeito Ricardo Nunes e o ex-presidente Jair Bolsonaro durante a campanha à prefeitura de São Paulo.
Cobrindo as Olimpíadas em Paris, Mathilde Missioneiro precisou ensaiar o movimento com a câmera para conseguir a foto que imaginou na competição de 100 metros do atletismo –a prova toda dura em média 9 segundos.
Eduardo Knapp e Rafaela Araújo trabalharam com o que nunca tinham feito: ele foi pautado para acompanhar o trabalho de um veterinário que usa um gavião asa-de-telha para espantar pássaros no aeroporto de Viracopos, em Campinas; já ela foi para Barretos acompanhar um rodeio na Festa do Peão de Boiadeiro, em agosto.
A tarefa de Adriano Vizoni era mostrar a cantora Madonna no show histórico na praia de Copacabana, enquanto a de Rubens Cavallari era registrar o primeiro jogo oficial da NFL (National Football League) realizado no Brasil.
Karime Xavier encontrou personagens dispostos a reproduzir a censurada imagem do beijo gay numa HQ, e Eduardo Anizelli viu força na cena de um solitário Léo Batista aguardando a saída do carro funerário com o corpo do apresentador Cid Moreira.
Enviado de Brasília ainda nos primeiros dias da tragédia que deixou o Rio Grande do Sul parcialmente submerso, Pedro Ladeira enxergou nas ambulâncias debaixo d’água um símbolo da crise de saúde durante aquela emergência no estado.
E Bruno Santos, que integra a equipe de fotojornalistas de São Paulo, pegou uma câmera emprestada durante um jantar com amigos e conversou longamente com um usuário de crack antes de fazer a imagem que ocupou boa parte da capa da Folha naquele 16 de junho.