Ícone do site Acre Notícias

TikTok: cresce interesse por ‘profissionais da morte’ – 13/11/2024 – #Hashtag

Nayani Real, Rebeca Oliveira

Apesar do interesse por conteúdo de true crime não ser novo no Brasil de “Linha Direta” (TV Globo), “Balanço Geral” (Record) e “Brasil Urgente” (Bandeirantes), cresce nas redes sociais a curiosidade por rotinas de trabalho em locais ligados à morte, como necrotérios, IML (Instituto Médico Legal), cemitérios, entre outros. O aumento foi registrado pelo Google Trends, plataforma que indica tendências de pesquisa no buscador, nos últimos cinco anos.

Raiane Priscila trabalha no Serviço de Verificação de Óbito (SVO) de causas naturais de Caruaru (PE) e conta ao #Hashtag que se surpreendeu quando compartilhou o primeiro vídeo sobre o assunto no TikTok. “Um dia publiquei um vídeo me paramentando e bombou de perguntas, de curiosidade”, diz.

Hoje com quase 500 mil seguidores na plataforma, “a menina da necrópsia” diz que este é o melhor emprego que já teve. “É muito mais tranquilo trabalhar com corpos sem vida do que quando eu era enfermeira em um hospital”, diz.

Mariáh Heusi começou a comentar casos criminais nas redes sociais sem imaginar que seu interesse pelo tema a levaria à tanatopraxia, profissão que prepara os cadáveres para velório e sepultamento. Aos poucos seu conteúdo se reinventou para incluir detalhes sobre sua rotina no laboratório. Ela acumula mais de 6 milhões de seguidores no TikTok.

Foi Josiane Oliveira que apresentou o ofício à jovem. Ela atua na área desde 2016 e hoje ministra cursos para formar novos tanatopraxistas. “Quando recebemos um corpo, cuidamos do amor da vida de alguém”, diz. Também por isso ela diz que pede autorização por escrito de familiares quando tem intenção de utilizar imagens parciais de cadáveres com fins didáticos, seja no material de seus cursos ou nas redes sociais.

Além do pedido de autorização, Josiane afirma que imagens que exponham características que permitam a identificação do cadáver não são utilizadas. Expor os genitais também está fora de cogitação. À isso, até mesmo durante aula no laboratório, seus cuidados são rígidos: Josiane diz manter os corpos cobertos e estar atenta a quaisquer comportamentos inadequados por parte dos alunos —que, caso os tenham, são banidos do curso.

Nas redes sociais, conta que lida com pedidos que considera antiéticos, aos quais responde com vídeos irônicos. “Me pediram para filmar ‘dando banho no presunto’, então eu peguei uma peça de embutido e filmei lavando”, diz. A brincadeira é estratégia para conscientizar sobre o respeito à dignidade da pessoa morta. “Imagina acessar um vídeo e ver que um ente querido exposto, sem vida”, argumenta.

Apesar do exercício de empatia, o advogado Eduardo Tomasevicius Filho, professor de direito civil da Faculdade de Direito da USP, diz que o Código Civil entende que após a morte a pessoa perde seus direitos. A exposição de um cadáver não configura crime, explica, mas caso a família reclame judicialmente a fim de proteger a reputação do ente querido, é atendida.

“Já o vilipêndio de cadáver, que é tratar com desprezo e desrespeito, como chutar, pisar, jogar de qualquer jeito, configura crime”, diz Eduardo.

O médico legista Marcelo Rocha explica que fazer autópsias é apenas parte do trabalho. “Também trabalho com pessoas vivas”, diz. Para ele a medicina legal passou a ser mais abordada pela imprensa desde o caso Isabella Nardoni, mas ainda há distanciamento entre a população e a linguagem técnica. Por isso, nas redes, ele comenta casos que estão na imprensa e tenta traduzir para uma linguagem mais informal.

É um dos aspectos favoritos de Raiane no trabalho, também. Ela diz receber mensagens de pessoas que perderam entes queridos e querem ajuda para entender o que significam os termos utilizados em laudos. “Como trabalho com causas naturais, às vezes a morte pode servir de alerta para outras pessoas”.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.





Leia Mais: Folha

Sair da versão mobile