Laryssa Borges
Com o presidente Lula chegando à metade do mandato, ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) têm pressionado o também ministro Aroldo Cedraz para que enfim libere para julgamento o processo de auditoria dos cartões corporativos do governo federal, um arsenal de gastos sigilosos que mapeia dispêndios em segurança, alimentação e viagens do petista e que, a depender dos ventos da política, é capaz de gerar embates parlamentares e desgastes para o chefe do Executivo.
A decisão de Cedraz de não pautar o tema para análise dos outros oito ministros do TCU é interpretada por integrantes da Corte como uma estratégia de barganha. Obrigado a se aposentar compulsoriamente em 2026, aos 75 anos, Cedraz é apontado como um dos integrantes do tribunal disposto a antecipar sua saída do posto nas costuras que angariaram apoio ao nome de Hugo Motta (Republicanos –PB) como sucessor de Arthur Lira na Presidência da Câmara dos Deputados. Interlocutores do tribunal dizem que, em troca da aposentadoria precoce, ele poderia ser contemplado com um cargo em um organismo internacional ou embaixada.
O acervo de informações em poder de Aroldo Cedraz inclui desde gastos com as antigas motociatas do ex-presidente Jair Bolsonaro até despesas na transição de governo e desembolsos frequentes da Presidência da República sob a gestão Lula. O ministro não tem prazo para pautar o tema em Plenário. Recentemente o acompanhamento do TCU sobre os chamados cartões de pagamento do governo federal ocorre a partir de auditorias contínuas, o que permite que o Executivo seja informado de imediato sobre eventuais problemas e os corrija nos meses seguintes.
Cartões corporativos no governo Bolsonaro
VEJA revelou em 2022 os gastos sigilosos pagos com cartões corporativos dos primeiros anos do governo Bolsonaro. Foram mais de 16 milhões de reais em viagens do então presidente, do vice Hamilton Mourão e da equipe de apoio de ambos entre janeiro de 2019 e março de 2021, divididos assim: 2,82 milhões de reais em hospedagem no primeiro ano de governo, 3,84 milhões de reais em 2020 e 921.300 reais até março de 2021. Em alimentação foram gastos 2,59 milhões de reais. Na rubrica de serviços de apoio administrativo, que nas viagens incluem despesas aeroportuárias e serviço de bordo, por exemplo, os desembolsos chegaram a 6,32 milhões de reais no período.
