“Ninguém veio, nenhum policial, nenhum bombeiro, nenhum eleito. Estamos sozinhos”
Pás. Vassouras. Nos subúrbios ao sul de Valência, duramente atingidos pelas inundações na noite de 29 para 30 de outubro, os moradores começaram as operações de limpeza na quinta-feira de manhã com recursos escassos, dada a extensão dos danos. A água deslocou e esmagou milhares de veículos, devastou inúmeras casas e empresas, fazendo dezenas de vítimas. Só na localidade de Paiporta (25 mil habitantes), a Câmara Municipal contabilizou cerca de quarenta mortos e os serviços de emergência procuram pessoas desaparecidas em toda a zona. “Um amigo me ligou para avisar que a água estava chegando, saí para a rua e vi carros sendo empurrados pela correnteza vindo em minha direção. Tivemos tempo de pegar um computador e um violão e nos refugiamos lá em cima”testemunha Rebecca Monton, 44 anos.
No térreo, a água chegou a 1,80 metros de altura e tudo ficou destruído. Na rua, os carros estão amontoados, capotados, alguns esmagados pela violência das ondas. Um pouco mais adiante, veículos colidiram com prédios. A cidade já não tem electricidade nem água potável e continua a ser de difícil acesso, sobretudo porque as pontes foram destruídas ou danificadas.
Centenas de moradores vagam pela cidade com garrafas tentando conseguir um suprimento para passar o dia. “Ninguém veio, nenhum policial, nenhum bombeiro, nenhum eleito, estamos todos sozinhos”lamenta seu companheiro, Gonzalo Lorente. Um de seus amigos foi arrastado pela água. Um de seus conhecidos desapareceu após pedir ajuda enquanto se agarrava a uma árvore. “Tudo isso pode acontecer, nós sabemos, mas por que nos avisaram tão tarde? »pergunta Rebbeca Monton. A notificação do alerta no celular chegou quando eles já estavam abrigados no telhado de sua casa.