O levantador Bruninho, de 38 anos, que retornou ao Brasil para o Vôlei Renata/Campinas, volta às origens. É que foi em Campinas que ele decidiu seguir a carreira dos pais. Bruninho, que começou a jogar vôlei no mirim do Fluminense, se mudou para Campinas, para a casa da mãe, a ex-jogadora Vera Mossa que ainda mora na cidade. Isso aconteceu quando o pai Bernardinho, ex-atleta e atual técnico do Flamengo e da seleção brasileira, se mudou do Rio para Curitiba para iniciar o vitorioso projeto do Rexona. Segundo Bruninho, o Campinas “sempre esteve ligado ao seu coração”.
O jogador, que há uma semana levou o clube ao título do Campeonato Paulista, é uma das estrelas da Superliga 2024/2025, que começa neste domingo para o naipe masculino — o feminino teve início na quarta-feira. O Vôlei Renata/Campinas, que no ano que vem comemora 15 anos de projeto na modalidade, enfrenta o Saneago Goiás, às 18h30 (Sportv2).
Bruninho estava no Modena, da Itália, desde a temporada 2021/2022. Defendeu este mesmo clube em outras três oportunidades entre 2013 e 2018. Na Itália, atuou ainda pelo Civitanova (entre 2018 2020).
— Foi aqui, com 15 anos, que decidi o que faria da vida. Então, voltar a esse ginásio, após mais de 20 anos, é muito especial. Confesso que me emocionei ao refazer o caminho para o Clube Fonte São Paulo, que é parceiro do Vôlei Renata, nas categorias sub-15 e sub-17, passando pela minha escola… O primeiro jogo, rever amigos, ex-jogadores, uma sensação muito boa. Rodei o mundo para voltar onde tudo começou. E acho que era isso que estava buscando — conta Bruninho, que tem tido a mãe e o avô materno na plateia.— São pequenas coisas que às vezes a gente esquece, mas que são muito importantes. Muitas vezes, na Itália, eu remoía sozinho uma derrota. Aqui tenho ajuda para colocar a cabeça no lugar e saber que a vida continua. Essa vida fora de quadra está me ajudando muito.
Bruninho, campeão olímpico na Rio-2016 e prata em Londres-2012 e em Pequim-2008, conta que havia pensado em ficar no Brasil após a Olimpíada de Tóquio, disputada em 2021, quando defendia o Taubaté. Mas, quis resolver duas questões que lhe martelavam à cabeça.
Após os Jogos no Japão, quando o Brasil foi superado pela Argentina na disputa pelo bronze, ele optou por se manter no mais alto nível técnico para encarar um novo ciclo olímpico, o de Paris-2024. A Itália era o local perfeito, ainda mais em Modena, cidade que lhe reconhece como ídolo.
Em 2018, ele havia deixado o clube após desentendimentos com o treinador Radostin Stoychev (hoje no Verona) e foi para o Civitanova. Conta que lhe pareceu justo uma despedida à altura do que o clube representava para ele. E vice e versa.
Assim, Bruninho voltou ao Modena para mais três temporadas e recentemente, na sua despedida, chorou como criança. Ele recebeu diversas homenagens do clube e da torcida. No ginásio, a faixa com os dizeres “Para sempre nosso capitão” traduziu o respeito que ele conquistou na bola. Foi aplaudido de pé e jogado ao alto pelos companheiros de time.
— Modena tem a torcida mais apaixonada. Quando perdemos jogo, é melhor nem sair para jantar. Vão cobrar. Imagino que ocorra o mesmo com os jogadores de futebol no Brasil. Mas quando vencemos, é uma das coisas mais especiais do mundo. Digo que quem deixa algo para a cidade é retribuído. E acho que isso eu consegui — declara o brasileiro, que diz se emocionar até hoje ao lembrar desta despedida — Com a frustração de Tóquio, foi importante voltar para a Itália para me preparar para a seleção, jogando no melhor campeonato do mundo. E também porque havia saído de Modena para o Civitanova rompendo contrato. Não havia sido legal. Stoychev e eu tínhamos valores muito diferentes, foi o único treinador com quem tive problemas. Hoje, mais maduro, entendo que cada um tem seu jeito de lidar com as coisas. Porque aqui dentro (no clube) é uma família e ele não tinha essa visão, tinha uma visão muito profissional, e não pensava no lado humano das pessoas. Fui para o Civitanova ainda com a cabeça em Modena e conquistei tudo. Foi muito importante na minha vida, um marco. Mas queria voltar a Modena um dia. Eu sou um cara que tem esse lance emotivo.
No Civitanova, Bruninho conquistou o Mundial de Clubes (2019), a Champions League (2018–2019), o Campeonato Italiano (2018–2019) e a Copa Itália (2019–2020). E na volta ao Modena, conquistou o título da Copa CEV 2022/2023, a segunda competição mais importante de clubes da Europa. Nas três passagens pelo clube, ganhou ainda o Campeonato Italiano (2015–2016), a Copa Itália (2014–2015, 2015–2016) e a Supercopa Italiana (2015).
— Durante todos esses anos que estive na Itália foi para estar no mais alto nível para atuar pela seleção. Foram nove temporadas lá fora e o vôlei como prioridade na minha vida. Mas sentia que o ciclo estava se encerrando. Talvez eu não tivesse o mesmo “saco”, desculpe a palavra, para aguentar tudo aquilo sozinho por mais tempo. Apesar da minha paixão pelo vôlei, estava na hora de equilibrar um pouco a minha vida.
Elogio a Campinas e sonho com Botafogo
Da Itália, Bruninho trouxe o “gosto pela boa comida e pelo vinho”. E já se prepara psicologicamente para uma nova etapa da sua vida. Ele diz que optou por estar mais perto da família, uma vez que seu ciclo na seleção foi encerrado em Paris-2024 e que se vê em fase de transição de carreira.
— Já me preparo porque sei que estou na minha última fase do voleibol, não tenho dúvida. Posso jogar mais quatro anos? Posso, mas esta é a minha última fase. Tenho pensado ano a ano. Minha cabeça já se prepara para isso, para que este processo não seja difícil — fala ele, que brinca que não teve excesso de bagagem na volta ao Brasil. — Tem jogador que traz uma adega inteira, né? Eu trouxe o prazer de tomar vinho, foi algo que aprendi na Itália. Também já vi caras que voltaram se vestindo na moda, com guarda roupa… Cara, eu gosto de usar na noite, mas no meu dia a dia eu sou meio largado.
Entre os projetos, ele destacou a volta à faculdade de Administração de Empresas para se envolver com mais conhecimento nos negócios dos quais já é sócio (restaurante e pequenas startups).
— O vôlei vai continuar a ser uma peça importante na minha vida. Em um futuro próximo estarei ligado ao vôlei, certeza, em outras funções. Mas não como treinador. Quero entender ainda o que eu gosto e o que posso ter prazer.
Em Campinas, Bruninho, que é perfeccionista, tenta iniciar esta “nova fase”, um pouco mais “camarada” com si mesmo. Terá a companhia de outros três jogadores que estiveram na Olimpíada de Paris: o ponteiro Adriano e o central Judson (estava na lista de suplentes da seleção) e o oposto argentino Bruno Lima. Sob o comando de Horacio Dileo, em sua oitava temporada no projeto, a terceira seguida, a equipe contratou ainda o ponteiro Celestino, uma das revelações da última Superliga, pelo Guarulhos, além de ter renovado com peças importantes da temporada passada como o ponteiro Maurício Borges e o líbero Lukinha.
Reconhecido como um dos principais projetos de vôlei do país, o time de Campinas obteve sua melhor performance na temporada 2015/2016, quando foi vice-campeão da Superliga e da Copa Brasil. Em 2023, repetiu o feito e chegou a mais uma final de Superliga.
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— Quinze anos de projeto no Brasil não é simples. Tiro o chapéu. Este é um projeto sólido, que não faz loucuras, que investe na base e tem a parte social. O projeto ideal. Já participei de projeto loucura e sei que não funciona, que não deixa nada (na cidade). Temos de dar valor para este tipo de projeto — elogiou Bruninho, que gostaria de ver novo time no Rio de Janeiro, onde embarcou na furada do RJX.—Gostaria de um dia ver um time do Botafogo no vôlei. Não sei se estarei jogando ainda, mas seria legal vê-lo numa Superliga de novo. E acho que o Rio precisaria de um time masculino.
A rodada inicial da Superliga masculina terá mais jogos nesta semana. Terça-feira: Vedacit Guarulhos x Apan/Blumenau, às 21h30. Na quarta-feira terão três partidas: Joinville Vôlei x Suzano Vôlei (18h30), Sesi Bauru x Neurologia Ativa (18h30) e Viapol/São José x Itambé Minas (21h30). E a rodada se encerrará na quinta-feira com Praia Clube x Sada Cruzeiro (21h30).