Francisco Lima Neto, Paulo Eduardo Dias
Os policiais militares envolvidos na morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22, em São Paulo, nesta quarta-feira (20), foram indiciados por homicídio doloso em inquérito da Polícia Militar, de acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública).
“Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento e o agente responsável pelo disparo foi indiciado por homicídio doloso no Inquérito Policial Militar (IPM). Ambos permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações. Toda a conduta dos agentes é investigada”, afirmou a pasta em nota nesta quinta-feira (21).
Ainda segundo a SSP, toda a conduta dos policiais é investigada e as imagens das câmeras corporais que registraram o caso vão ser anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Inicialmente a secretaria afirmou que os policiais tinham sido indiciados por homicídio, sem esclarecer se culposo (quando não há intenção de matar) ou doloso (quando há intenção).
Acosta era aluno do 5º ano de medicina da Universidade Anhembi Morumbi foi morto na madrugada desta quarta na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, após ser baleado por policiais militares durante uma tentativa de abordagem.
“Não tem pior dor que a perda de um filho cheio de vida para o mundo, cuja vida foi ceifada pela crueldade e maldade de policiais militares que deveriam proteger pessoas e não executá-las”, diz Júlio César Acosta Navarro, 59, pai da vítima e professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
O professor diz que os responsáveis pela morte não podem ficar impunes.
ENTENDA A OCORRÊNCIA
Conforme registro policial, uma equipe da PM fazia patrulhamento na região da rua Cubatão, quando, por volta das 2h, desta quarta foi acionada para atender uma ocorrência envolvendo o estudante.
No local, ainda conforme versão oficial, o rapaz parecia agressivo e desferiu um tapa no retrovisor da viatura quando os policiais tentaram abordá-lo. Na sequência, o estudante saiu correndo e entrou em um hotel próximo.
Os policiais seguiram Acosta até o hotel, onde entraram em confronto. A vítima derrubou um dos PMs, momento em que o parceiro efetuou um disparo, que atingiu a vítima no abdômen.
O estudante foi levado ao Hospital Ipiranga, mas teve duas paradas cardiorrespiratórias antes de ser submetido a uma cirurgia. Ele morreu por volta das 6h40.
Policiais informaram que a vítima não tinha passagem criminal.
Analisando o vídeo e as informações iniciais, oficiais ouvidos pela reportem afirmam que os PMs poderiam ter mantido uma distância segura do rapaz, mesmo com as armas em punho, e pedir apoio de outras viaturas, caso o jovem não se rendesse. Um tiro só deveria ser dado caso o abordado representasse um risco real, por exemplo, se tivesse tentando tirar a arma do oficial.
Frank Cardenas, 27, irmão mais velho do jovem morto, disse que o irmão sonhava em ser pediatra. Ele criticou a atuação dos policiais. “Dois homens de 1,80 metro não conseguiram conter meu irmão de 1,60 metro? Ele nunca lutou. Não tinham alternativas?”, questionou.
“Ele era muito carinhoso, um excelente filho. Era o único que ligava todos os dias para minha mãe no plantão. E era meu melhor amigo, a pessoa que eu mais amava nesse mundo.”
Em nota no final da tarde desta quarta, a Associação Atlética Acadêmica Medicina Anhembi Morumbi publicou comunicado lamentando o falecimento do aluno.
“Neste momento de imensa dor, nos solidarizamos com seus familiares, companheiros de time e colegas, que perderam não apenas um companheiro de jornada, mas também um amigo. Que sua memória seja sempre lembrada com carinho e que sua trajetória inspire a todos nós”, diz uma das notas.