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A escola argentina eleita uma das melhores do mundo – 25/10/2024 – Educação

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Veronica Smink

Ele está localizado em um bairro humilde de uma das áreas com menos recursos da província de Buenos Aires, na Argentina, mas o modesto colégio María de Guadalupe acaba de ser eleito uma das cinco melhores escolas do mundo.

A instituição privada, que educa cerca de 700 crianças e adolescentes –a maioria de famílias muito pobres–, no bairro de Las Tunas, no município de Tigre, ganhou o Prêmio Melhor Escola do Mundo (World’s Best School Prizes) na categoria “colaboração com a comunidade”.

O prêmio é entregue pela plataforma educacional britânica T4 Education desde 2022, e concede US$ 10 mil (R$ 57 mil) a cada uma das instituições de ensino a nível mundial que se destacam em cinco categorias (ação ambiental, inovação, superação de adversidades e promoção de vida saudável são as outras).

Os vencedores foram escolhidos por um júri composto por líderes renomados no mundo todo, incluindo acadêmicos, educadores, ONGs, empreendedores sociais, representantes de governos, da sociedade civil e do setor privado.

O colégio María de Guadalupe é a única escola da América Latina premiada nesta edição –e também a primeira da Argentina a ser indicada ao prêmio.

Quatro escolas brasileiras estavam concorrendo neste ano como finalistas, mas nenhuma delas foi premiada. No ano passado, duas escolas brasileiras estiveram entre as premiadas –a Escola Municipal Professor Edson Pisani, de Belo Horizonte (MG), e a Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Joaquim Bastos Gonçalves, de Carnaubal (CE).

Luis Arocha, diretor do colégio argentino, contou à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, que a escola foi criada há apenas 12 anos como parte de uma ação de solidariedade, quando algumas pessoas que ofereciam reforço escolar no bairro de Las Tunas, com uma organização da Igreja Católica, decidiram criar uma fundação para abrir uma escola no local.

“A assistente social María Paz Mendizabal e o empresário Roberto Souviron, fundador da agência de viagens online despegar.com (no Brasil, decolar.com), criaram a fundação e, em 2012, abriram a escola com a ideia de que teria características específicas em termos de resultados educacionais e eficiência”, diz Arocha.

Quando foi inaugurado, o colégio María de Guadalupe tinha apenas 150 alunos, e oferecia apenas as três primeiras séries do ensino fundamental. Em 2016, já ensinava alunos do ensino médio, e atualmente educa crianças a partir dos quatro anos.

A T4 Education destacou que a escola foi premiada porque “empodera alunos de origens socialmente vulneráveis com um modelo integrado que combina aprendizado acadêmico com desenvolvimento profissional”.

A seguir, contamos com mais detalhes quais são os segredos do sucesso desta escola –e por que ela se destaca num momento em que a educação argentina, outrora uma das mais admiradas da região, atravessa uma grave crise.

Inclusão

Um dos destaques do María de Guadalupe é seu modelo inovador de inclusão.

A equipe da escola não só educa. Também ajuda as famílias humildes a superar os obstáculos que dificultam colocar os filhos na escola.

Dado que a pobreza atinge quase 53% da população – incluindo duas em cada três crianças –, um destes obstáculos é econômico.

“O colégio recebe subsídio estatal da província de Buenos Aires, que cobre 60% do orçamento. Outros 30% são custeados por patrocinadores e doadores que ajudam a fundação. As famílias só precisam pagar 10%”, explica Arocha.

Atualmente, isso significa uma mensalidade de cerca de US$ 36 (R$ 205) para uma educação em tempo integral, valor bem inferior a outras escolas particulares.

“Muitas das famílias da nossa escola vivem de trabalhos informais, e há meses em que não conseguem pagar nem sequer essa quantia. Nestes casos, avalia-se a concessão de uma bolsa”, diz o diretor.

Mas a falta de dinheiro não é o único obstáculo para as crianças estudarem.

A escola também lida com outros desafios, como a violência doméstica ou os problemas de moradia enfrentados por muitos de seus alunos.

A equipe interdisciplinar de assistentes sociais, psicólogos e psicopedagogos que atendem as crianças é fundamental neste aspecto.

“Realizamos uma entrevista socioambiental com cada família nova para identificar problemas graves”, diz Arocha.

“Tentamos nos articular bastante com a prefeitura e com outras ONGs que se dedicam a resolver determinados problemas, como o de moradia.”

“De qualquer forma, sabendo que metade das nossas famílias vive em casas superlotadas, e que as crianças não têm espaço adequado para fazer o dever de casa, tentamos fazer com que o processo de aprendizado ocorra principalmente aqui na escola”, explica.

Evasão escolar

Em um país onde, de acordo com um estudo do observatório Argentinos por la Educación, apenas 13 em cada 100 alunos concluem o ensino médio dentro do prazo esperado, o María de Guadalupe tem um desempenho surpreendente.

Lá, 99% dos alunos terminam os estudos, e mais de 95% fazem isso dentro do prazo.

“O acompanhamento personalizado é fundamental para isso. Trabalhamos muito com cada família e com cada criança. Conhecendo cada história, a mochila que cada um traz, sem julgamentos”, afirma Arocha.

No ensino médio, quando o problema da evasão escolar se agrava (segundo o observatório, cerca de 15% das crianças abandonam a escola), os alunos do María de Guadalupe têm um orientador por ano, que os ajuda com os desafios da adolescência.

A escola consegue realizar esta difícil tarefa de contenção, apesar de o investimento por aluno ser semelhante ao das escolas públicas. Mas como eles conseguem fazer isso? Perguntamos ao diretor.

“Nessas escolas que trabalham com populações altamente vulneráveis, há sempre problemas, mas você pode ser um bombeiro, e nunca terminar de apagar os incêndios. É por isso que nosso trabalho é sistemático e com uma abordagem preventiva”, diz ele.

“A partir da entrevista socioambiental que realizamos, podemos saber que temas vamos trabalhar com cada família.”

Futuro

Outro sucesso do María de Guadalupe destacado pelo júri do prêmio é o grande número de formandos que ingressam em cursos universitários ou conseguem emprego após a formatura.

De acordo com dados compilados pela escola, quase 5 em cada 10 de seus ex-alunos continuam os estudos com curso superior ou universitário, o que é o dobro da média nacional para este grupo social, segundo o observatório Argentinos por la Educación.

Enquanto isso, 87% trabalham ou estudam, percentual que também supera a média nacional (75%).

Isso se deve, em parte, ao fato de que a maioria dos alunos do María de Guadalupe sai da escola tendo aprendido conhecimentos básicos, algo que –infelizmente– não acontece em muitas escolas na Argentina.

De acordo com os resultados das últimas provas Aprender –uma avaliação nacional de alunos da sexta série–, metade das crianças não entende matemática, e um terço não consegue compreender o que lê.

Em contrapartida, 70% dos meninos da sexta série do María de Guadalupe passaram na prova de matemática, e 69% na prova de língua, em 2021 (dados mais recentes disponíveis).

Mas a escola oferece a eles outras ferramentas que facilitam o ingresso na universidade ou no mercado de trabalho após a formatura.

“É disso que mais nos orgulhamos”, diz Arocha, que sabe muito bem como há poucas oportunidades de carreira para crianças de origem humilde.

“Tem a ver com um trabalho muito forte ao longo de toda a jornada escolar, no que chamamos de conhecimentos básicos: matemática, língua, currículo digital e habilidades socioemocionais.”

No ensino médio, a escola oferece orientação vocacional, mentoria e programas de inclusão no mercado de trabalho. Além disso, permite que as crianças se especializem em quatro áreas: programação, produção audiovisual, administração ou meio ambiente.

“A maioria dos nossos formandos segue carreiras relacionadas à tecnologia, e muitos acabam estudando na UTN (Universidade Tecnológica Nacional), que fica perto de nós”, diz ele, satisfeito.

O diretor revela ainda que a escola pretende usar o prêmio de US$ 10 mil para investir em novos computadores.

O sucesso da escola não é visto apenas no desempenho dos alunos que se formam, mas também no grande número de pessoas que desejam ingressar na instituição.

“Para cada aluno que entra na turma para 4 anos, há seis que ficam de fora”, lamenta o diretor.

Mas ele tem esperança de que, no futuro, haverá mais escolas como esta.

Na verdade, ele conta que a Fundação María de Guadalupe (MDG) foi criada com a ideia de replicar esta primeira escola, e já abriu uma segunda unidade, o colégio Rosario Vera Peñaloza, em Garín, outra área bastante carente de Buenos Aires.

Este texto foi publicado originalmente aqui.



Leia Mais: Folha

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Ufac recebe equipamentos para Laboratórios de Toxicologia e Farmácia Viva — Universidade Federal do Acre

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Ufac recebe equipamentos para Laboratórios de Toxicologia e Farmácia Viva — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou nesta segunda-feira, 1º, na sala ambiente do bloco de Nutrição, a entrega oficial do material destinado ao Laboratório de Toxicologia Analítica e ao Projeto Farmácia Viva, reforçando a infraestrutura científica da instituição e ampliando o suporte às ações de ensino, pesquisa e extensão.

A ação integra o Projeto de Implantação do Laboratório de Toxicologia Analítica, que recebeu a doação de 21 equipamentos permanentes, adquiridos com recursos do Ministério Público do Trabalho da 14ª Região (MPT-14), mediante autorização da Primeira Vara Federal do Acre. A iniciativa reconhece o interesse público e a relevância social das atividades desenvolvidas pela Universidade Federal do Acre, especialmente nas áreas da saúde, inovação científica e desenvolvimento regional.

Os equipamentos recebidos fortalecem duas frentes estratégicas da instituição. No âmbito do Projeto Farmácia Viva, eles ampliam a capacidade de cultivo, processamento e controle de qualidade de plantas medicinais, reforçando também as ações de extensão voltadas à promoção da saúde e ao uso racional de fitoterápicos. Já na área de toxicologia analítica, os novos aparelhos permitem o desenvolvimento e validação de métodos de análise, o processamento de matrizes biológicas e ambientais e o suporte a investigações científicas e forenses.

“Parabenizo os três professores que estão à frente desse projeto: a professora Marta Adelino, Dayan Marques e Anne Grace. Isso moderniza nossa universidade e representa um salto qualitativo na formação de profissionais”,  afirma a reitora Guida Aquino.

O professor Dayan de Araújo Marques, docente do Centro de Ciências da Saúde e do Desporto (CCSD) e farmacêutico industrial, realizou a apresentação das fases do projeto. Ele destacou que a parceria com o MPT-14 representa a consolidação de um espaço científico. “Essa consolidação é capaz de oferecer respostas mais rápidas e precisas às demandas de saúde e meio ambiente no Acre, reduzindo a dependência de laboratórios externos e ampliando o impacto social das pesquisas desenvolvidas na universidade”.

Com a entrega desse conjunto tecnológico, a instituição eleva seu potencial de atuação laboratorial e reafirma o compromisso com a produção de conhecimento e o atendimento às demandas da sociedade acreana.

Também compuseram o dispositivo de honra o Pró Reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes; a coordenadora do projeto do laboratório de toxicologia analítica, Marta Adelino da Silva Faria; a procuradora do Trabalho, representando o ministério público, Ana Paula Pinheiro de Carvalho.

 



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Curso de Medicina Veterinária da Ufac promove 4ª edição do Universo VET — Universidade Federal do Acre

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Curso de Medicina Veterinária da Ufac promove 4ª edição do Universo VET — Universidade Federal do Acre

As escolas da rede municipal realizam visitas guiadas aos espaços temáticos montados especialmente para o evento. A programação inclui dois planetários, salas ambientadas, mostras de esqueletos de animais, estudos de células, exposição de animais de fazenda, jogos educativos e outras atividades voltadas à popularização da ciência.

A pró-reitora de Inovação e Tecnologia, Almecina Balbino, acompanhou o evento. “O Universo VET evidencia três pilares fundamentais: pesquisa, que é a base do que fazemos; extensão, que leva o conhecimento para além dos muros da Ufac; e inovação, essencial para o avanço das áreas científicas”, afirmou. “Tecnologias como robótica e inteligência artificial mostram como a inovação transforma nossa capacidade de pesquisa e ensino.”

A coordenadora do Universo VET, professora Tamyres Izarelly, destacou o caráter formativo e extensionista da iniciativa. “Estamos na quarta edição e conseguimos atender à comunidade interna e externa, que está bastante engajada no projeto”, afirmou. “Todo o curso de Medicina Veterinária participa, além de colaboradores da Química, Engenharia Elétrica e outras áreas que abraçaram o projeto para complementá-lo.”

Ela também reforçou o compromisso da universidade com a democratização do conhecimento. “Nosso objetivo é proporcionar um dia diferente, com aprendizado, diversão, jogos e experiências que muitos estudantes não têm a oportunidade de vivenciar em sala de aula”, disse. “A extensão é um dos pilares da universidade, e é ela que move nossas ações aqui.”

A programação do Universo VET segue ao longo do dia, com atividades interativas para estudantes e visitantes.

(Fhagner Soares, estagiário Ascom/Ufac)



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Doutorandos da Ufac elaboram plano de prevenção a incêndios no PZ — Universidade Federal do Acre

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Doutorandos da Ufac elaboram plano de prevenção a incêndios no PZ — Universidade Federal do Acre

Doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (Rede Bionorte) apresentaram, na última quarta-feira, 19, propostas para o primeiro Plano de Prevenção e Ações de Combate a Incêndios voltado ao campus sede e ao Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre (Ufac). A atividade foi realizada na sala ambiente do PZ, como resultado da disciplina “Fundamentos de Geoinformação e Representação Gráfica para a Análise Ambiental”, ministrada pelo professor Rodrigo Serrano.

A ação marca a primeira iniciativa formalizada voltada à proteção do maior fragmento urbano de floresta em Rio Branco. As propostas foram desenvolvidas com o apoio de servidores do PZ e utilizaram ferramentas como o QGIS, mapas mentais e dados de campo.

Entre os produtos apresentados estão o Mapa de Risco de Fogo, com análise de vegetação, áreas urbanas e tráfego humano, e o Mapa de Rotas e Pontos de Água, com trilhas de evacuação e açudes úteis no combate ao fogo.

Os estudos sugerem a criação de um Plano Permanente com ações como: Parcerias com o Corpo de Bombeiros; Definição de rotas de fuga e acessos de emergência; Manutenção de aceiros e sinalização; Instalação de hidrantes ou reservatórios móveis; Monitoramento por drones; Formação de brigada voluntária e contratação de brigadistas em período de estiagem.

O Parque Zoobotânico abriga 345 espécies florestais e 402 de fauna silvestre. As medidas visam garantir a segurança da área, que integra o patrimônio ambiental da universidade.

“É importante registrar essa iniciativa acadêmica voltada à proteção do Campus Sede e do PZ”, disse Harley Araújo da Silva, coordenador do Parque Zoobotânico. Ele destacou “a sensibilidade do professor Rodrigo Serrano ao propor o desenvolvimento do trabalho em uma área da própria universidade, permitindo que os doutorandos apliquem conhecimentos técnicos de forma concreta e contribuam diretamente para a gestão e segurança” do espaço.

Participaram da atividade os doutorandos Alessandro, Francisco Bezerra, Moisés, Norma, Daniela Silva Tamwing Aguilar, David Pedroza Guimarães, Luana Alencar de Lima, Richarlly da Costa Silva e Rodrigo da Gama de Santana. A equipe contou com apoio dos servidores Nilson Alves Brilhante, Plínio Carlos Mitoso e Francisco Félix Amaral.

 



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