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A língua falada no Brasil é o pretuguês – 13/10/2024 – Bianca Santana

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“É engraçado como eles gozam a gente quando a gente diz que é Framengo. Chamam a gente de ignorante dizendo que a gente fala errado. E de repente ignoram que a presença desse ‘R’ no lugar do ‘L’, nada mais é que a marca linguística de um idioma africano, no qual o L inexiste. Afinal, quem que é o ignorante?”, perguntou Lélia Gonzalez em intervenção na Anpocs em 1984, publicada na Revista Ciências Sociais hoje sob o título “Racismo e sexismo na cultura brasileira”.

É neste texto que Lélia nos apresenta a língua falada no Brasil: o pretuguês.

Sem negar a presença de línguas indígenas no português do Brasil, a etnolinguista Yeda Pessoa de Castro nos mostra, em trabalhos publicados desde a década de 1980, o peso de línguas africanas por aqui, tanto no léxico como na fonologia.

Bunda, minhoca, caçula, samba, moqueca, canjica, caxumba, dengue, jiló, marimbondo, cochilo, muamba, sunga, canga, cafofo, caçula, babá, capenga, caçamba, tipóia, moringa, xodó, dengo, cafuné, xingamento, sacana, lelé, quitanda, bufunfa, cachaça.

Palavras do tronco linguístico banto, de um universo de mil e quinhentas registradas por ela, advindas de três línguas litorâneas: o quicongo, falado na República Democrática do Congo e norte de Angola, do quimbundo e do umbundo, de Angola.

Também na fonologia, Yeda Pessoas de Castro registra a pronúncia da vogal “I”, como em ritmo, por exemplo (que falamos ri.ti.mo), advogado, pneu, na diferenciação de como se fala em Portugal.

E na sintaxe, em que tantas vezes o plural fica indicado no artigo ou pronome anterior ao substantivo, sem necessidade, para a compreensão do plural, do s ao final da palavra (os menino, essas cadeira etc). Também são marcas banto no nosso pretuguês o uso duplo da negação, “não quero não”; o uso da preposição “em” com verbos de movimento “fui na escola”.

Até o século 19, mais de cinco milhões de pessoas foram arrancadas do continente africano para serem escravizadas no Brasil, cerca de um milhão foi atirada ao mar. Com as mais de quatro milhões que chegaram, em sua maioria banto, estavam seus saberes, memórias e línguas.

Torna-se curioso, portanto, o debate, em pleno 2024, sobre a não substituição da língua portuguesa por uma brasileira. Já aconteceu, meus caros. O epistemicídio, tão bem apresentado por Sueli Carneiro em seu “Dispositivo de Racialidade”, ao negar nosso conhecimento e também as condições para que possamos produzir conhecimento, tem sido denunciado há décadas, e também tem sido enfrentado em diferentes campos. Os apagamentos não pegam bem.

Para quem achar difícil aceitar a realidade, recomendo a nova edição do livro “O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial”, da autora portuguesa e professora da UCLA ( Universidade da Califórnia em Los Angeles) –portanto mais confiável a alguns– Patrícia Lino.

Publicado pelo Círculo de Poemas, da Editora Fósforo, o livro inventaria um conjunto de objetos e instruções perspicazes, muito bem escritas: há o diploma da branquitude, o frasquinho do mar português, bustos dói-dói. Um espelho que pode ajudar a se situar. E para quem não aguenta mais a gritaria do colonialismo tentando sobreviver, o humor de Patrícia é uma vingança prazerosa.

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

Os kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues aos atletas inscritos nesta quinta-feira, 23, das 9h às 17h, no Centro de Convivência (estacionamento B), campus-sede, em Rio Branco. O kit é obrigatório para participação na corrida e inclui, entre outros itens, camiseta oficial e número de peito. A 2ª Corrida da Ufac é uma iniciativa que visa incentivar a prática esportiva e a qualidade de vida nas comunidades acadêmica e externa.

 



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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, e a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, realizaram nessa quarta-feira, 15, no anfiteatro Garibaldi Brasil, uma atividade em alusão ao Dia dos Professores. O evento teve como objetivo homenagear os docentes da instituição, promovendo um momento de confraternização. A programação contou com o show de talentos “Quem Ensina Também Encanta”, que reuniu professores de diferentes centros acadêmicos em apresentações musicais e artísticas.

“Preparamos algo especial para este Dia dos Professores, parabenizo a todos, sou muito grata por todo o apoio e pela parceria de cada um”, disse Guida.

Ednaceli Damasceno parabenizou os professores dos campi da Ufac e suas unidades. “Este é um momento de reconhecimento e gratidão pelo trabalho e dedicação de cada um.”

O presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara, reforçou o orgulho de pertencer à carreira docente. “Sinto muito orgulho de dizer que sou professor e que já passei por esta casa. Feliz Dia dos Professores.”

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

O Parque Zoobotânico (PZ) da Ufac e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) realizaram o evento Diálogos de Saberes Ambientais: Compartilhando Experiências, nessa quarta-feira, 15, no PZ, em alusão ao Dia do Educador Ambiental e para valorizar o papel desses profissionais na construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a sustentabilidade. A programação contou com participação de instituições convidadas.

Pela manhã houve abertura oficial e apresentação cultural do grupo musical Sementes Sonoras. Ocorreram exposições das ações desenvolvidas pelos organizadores, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sínteses da Biodiversidade Amazônica (INCT SinBiAm) e SOS Amazônia, encerrando com uma discussão sobre ações conjuntas a serem realizadas em 2026.

À tarde, a programação contou com momentos de integração e bem-estar, incluindo sessão de alongamento, apresentação musical e atividade na trilha com contemplação da natureza. Como resultado das discussões, foi formada uma comissão organizadora para a realização do 2º Encontro de Educadores Ambientais do Estado do Acre, previsto para 2026.

Compuseram o dispositivo de honra na abertura o coordenador do PZ, Harley Araújo da Silva; a secretária municipal de Meio Ambiente de Rio Branco, Flaviane Agustini; a educadora ambiental Dilcélia Silva Araújo, representando a Sema; a pesquisadora Luane Fontenele, representando o INCT SinBiAm; o coordenador de Biodiversidade e Monitoramento Ambiental, Luiz Borges, representando a SOS Amazônia; e o analista ambiental Sebastião Santos da Silva, representando o Ibama.

 



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