POLÍTICA
A morte do identitarismo | VEJA

PUBLICADO
8 meses atrásem
rprangel2004@gmail.com (Ricardo Rangel)
O identitarismo de esquerda — o movimento de exaltação agressiva das minorias nas redes — segue orgulhoso e triunfante. Mas não tem futuro.
Quando surgiu, o identitarismo parecia uma versão anabolizada do politicamente correto: eventualmente exagerada, mas benigna. Afinal, em uma sociedade com injustiças tão fortes e flagrantes, era bom que houvesse gente a lembrar a todos quanto falta para alcançar o velho ideal liberal de liberdade e igualdade.
No começo, a nobreza da causa impediu que muitos democratas criticassem o crescente radicalismo do identitarismo. Afinal, quem quer parecer inimigo de tão belos ideais? E, no Brasil, a eleição de Jair Bolsonaro acentuou o problema: como criticar erros de integrantes de minorias quando está no poder alguém que defende persegui-las?
Apesar da agressividade crescente do movimento, o medo dos cancelamentos, do assassinato de reputações, da perda do emprego, calou os críticos ainda por um período. Não mais.
Conservadores foram os primeiros a reclamar, depois vieram os liberais (ambos os grupos imediatamente tachados pelos identitários de “fascistas”, “racistas”, “misóginos” etc.) — e agora é a vez da esquerda tradicional.
Quando a psicanalista Maria Rita Kehl afirmou que identitários formam “nichos narcísicos” que calam quem diverge, impedindo o diálogo, os identitários… tentaram calá-la, claro. Como as credenciais de esquerda de Kehl são impecáveis, os identitários a demonizaram porque seu avô era eugenista.
“O movimento só serve para impedir um debate construtivo e dar votos à extrema direita”
O episódio deu um nó nos identitários e simpatizantes: como recorrer à tese da “herança mortal” — usada por séculos para justificar a opressão aos negros? Se eugenia é inaceitável, como usá-la para atacar alguém?
Quando uma identitária negra publicou um artigo virulentamente racista contra o cineasta Walter Salles, identitários e simpatizantes ficaram de novo atordoados. Era impossível não ver o racismo, mas também era proibido criticar uma negra, e ainda mais proibido reconhecer que existe racismo de negro contra branco. E passar pano era ser cúmplice.
Recentemente, em entrevista a VEJA, Washington Quaquá, vice-presidente do PT, declarou guerra ao identitarismo, culpando-o pela queda de popularidade do governo. De quebra, atacou violentamente a ministra Anielle Franco, identitária negra e mulher, a quem acusa de nomear funcionários fantasmas.
Silvio Almeida, identitário negro que caiu por uma denúncia de assédio sexual da ministra, ressurgiu para acusá-la de calúnia. Os próprios identitários vão se dando conta de que a tese de que “a vítima tem sempre razão” é um beco sem saída.
O tempo em que a bateção de bumbo do identitarismo de esquerda ajudava a abrir os olhos da maioria para as injustiças contra as minorias passou. Hoje está claro que, ao exigir de todos — menos de si mesmo — um grau de pureza e virtude só possível em sua imaginação, afasta potenciais aliados, prejudica as minorias que pretende defender e briga consigo mesmo. Só serve para impedir um debate construtivo e dar votos à extrema direita.
O identitarismo não vai deixar saudade.
Publicado em VEJA de 28 de fevereiro de 2025, edição nº 2933
Relacionado
VOCÊ PODE GOSTAR

Matheus Leitão
Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
“Estou muito envergonhado! Isto é uma indignidade inexplicável!” (Ciro Gomes, ex-ministro da Fazenda, usando as redes sociais para reclamar da troca de Carlos Lupi por Wolney Queiroz, seu desafeto no PDT, no comando do Ministério da Previdência Social)
Digital Completo
Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES
Revista em Casa + Digital Completo
Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês
*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.
PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Relacionado

Felipe Barbosa
Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Digital Completo
Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES
Revista em Casa + Digital Completo
Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês
*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.
PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Relacionado
POLÍTICA
A articulação para mudar quem define o teto de jur…

PUBLICADO
6 meses atrásem
5 de maio de 2025
Nicholas Shores
O Ministério da Fazenda e os principais bancos do país trabalham em uma articulação para transferir a definição do teto de juros das linhas de consignado para o Conselho Monetário Nacional (CMN).
A ideia é que o poder de decisão sobre o custo desse tipo de crédito fique com um órgão vocacionado para a análise da conjuntura econômica.
Compõem o CMN os titulares dos ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento e da presidência do Banco Central – que, atualmente, são Fernando Haddad, Simone Tebet e Gabriel Galípolo.
A oportunidade enxergada pelos defensores da mudança é a MP 1.292 de 2025, do chamado consignado CLT. O Congresso deve instalar a comissão mista que vai analisar a proposta na próxima quarta-feira.
Uma possibilidade seria aprovar uma emenda ao texto para transferir a função ao CMN.
Hoje, o poder de definir o teto de juros das diferentes linhas de empréstimo consignado está espalhado por alguns ministérios.
Cabe ao Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), presidido pelo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, fixar o juro máximo cobrado no consignado para pensionistas e aposentados do INSS.
A ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, é quem decide o teto para os empréstimos consignados contraídos por servidores públicos federais.
Na modalidade do consignado para beneficiários do BPC-Loas, a decisão cabe ao ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias.
Já no consignado de adiantamento do saque-aniversário do FGTS, é o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que tem a palavra final sobre o juro máximo.
Atualmente, o teto de juros no consignado para aposentados do INSS é de 1,85% ao mês. No consignado de servidores públicos federais, o limite está fixado em 1,80% ao mês.
Segundo os defensores da transferência da decisão para o CMN, o teto “achatado” de juros faz com que, a partir de uma modelagem de risco de crédito, os bancos priorizem conceder empréstimos nessas linhas para quem ganha mais e tem menos idade – restringindo o acesso a crédito para uma parcela considerável do público-alvo desses consignados.
Ainda de acordo com essa lógica, com os contratos de juros futuros de dois anos beirando os 15% e a regra do Banco Central que proíbe que qualquer empréstimo consignado tenha rentabilidade negativa, a tendência é que o universo de tomadores elegíveis para os quais os bancos estejam dispostos a emprestar fique cada vez menor.
Relacionado
PESQUISE AQUI
MAIS LIDAS
- ACRE5 dias ago
Curso de extensão da Ufac sobre software Jamovi inscreve até 26/10 — Universidade Federal do Acre
- ACRE7 dias ago
Oficina da Ufac aborda mudanças climáticas em escolas de seringais — Universidade Federal do Acre
- ACRE5 dias ago
PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre
- ACRE4 dias ago
Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre
Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48
You must be logged in to post a comment Login