POLÍTICA
Caso Glauber Braga mostra o rigor seletivo nas pen…

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2 meses atrásem

Hugo César Marques
O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados não é propriamente conhecido pelo rigor com que trata os parlamentares acusados de quebra de decoro. A regra no colegiado, pelo contrário, é a rejeição dos pedidos de cassação de mandato. Em maio do ano passado, por exemplo, o deputado Delegado Da Cunha (PP-SP) recebeu apenas uma censura verbal após ser acusado de violência doméstica contra uma ex-companheira. No mês seguinte, André Janones (Avante-MG) nem reprimenda levou por praticar a chamada “rachadinha”, que consiste em embolsar parte dos salários dos servidores. Na ocasião, prevaleceu o entendimento de que a denúncia era anterior ao atual mandato de Janones e deveria ser analisada pela Justiça. Ou seja: os congressistas lavaram as mãos. Esse quadro de benevolência também contribui para que deputados processados por crimes diversos, como corrupção na destinação de emendas, nem sequer sejam representados no conselho. O corporativismo reinante costuma blindar a todos, da direita à esquerda, mas, como ensina a sabedoria popular, toda regra tem a sua exceção.
No início do mês, o Conselho de Ética aprovou, por 13 votos a 5, parecer que recomenda a cassação do mandato do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), acusado de agredir um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) que o havia provocado com comentários sobre o estado de saúde da mãe do parlamentar, que morreria dias depois. A decisão final sobre o caso depende de votação pelo plenário da Câmara, que ainda não tem data para ocorrer. Se o parecer for confirmado, será a primeira vez que um deputado perderá o mandato por agressão. Nos últimos anos, não foram poucos os episódios desse tipo que passaram impunes. O próprio relator que recomendou a cassação de Glauber Braga no Conselho de Ética, o deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), agrediu em 2001 um jornalista que escrevia um livro-denúncia contra o tio dele, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, e nunca foi punido. “Todos os casos de agressão física na Câmara não foram submetidos a punições”, diz Melillo Dinis do Nascimento, que é diretor do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e está empenhado na campanha destinada a livrar Glauber Braga da cassação. Não será fácil.

Mesmo aliados do deputado admitem que ele cometeu quebra de decoro parlamentar com a agressão e, portanto, merece ser punido de alguma forma. Eles alegam, no entanto, que a cassação é uma pena desproporcional, que estaria sendo aplicada por outros motivos. Entre eles, vingança política, motivada pelo fato de Braga ter protestado contra o chamado orçamento secreto, chegando a prestar depoimento à Polícia Federal para expor detalhes do esquema. “Não é sobre ética ou moral a tentativa de cassação de Glauber, e, sim, uma tentativa de censurar e calar a esquerda que enfrenta os poderosos e denuncia o orçamento secreto”, escreveu o parlamentar numa rede social. Desde a aprovação do parecer pela cassação, ele está em greve de fome, com alimentação restrita a água e soro, e dorme num colchão no plenário Professor Roberto Campos, o mesmo onde ocorreu a votação do Conselho de Ética. O deputado já perdeu 5 quilos e aparenta os primeiros sinais de desgaste físico. Em sua batalha particular, subsidia a militância aliada com informações sobre a rotina, desde a participação em uma roda de samba feita especialmente para ele até brincadeiras com o filho.
Outro ponto importante de sua estratégia é mostrar que ainda conta com apoios de peso. Um grupo de religiosos e intelectuais, que inclui o escritor Frei Betto e o teólogo Leonardo Boff, divulgou um manifesto em defesa do mandato de Glauber Braga: “O seu ato de enfrentar seus algozes, suas mentiras e hipocrisias é valoroso. Sabemos que é preciso uma força extraordinária para nos manter de pé diante dos absurdos”. O deputado também recebeu a visita de ministros do governo Lula, com destaque para os chefes da Casa Civil, Rui Costa, e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Sidônio Palmeira, além da articuladora política do Planalto, Gleisi Hoffmann. A esquerda tem pouco voto, mas por enquanto demonstra solidariedade. Em seu protesto silencioso contra a ameaça de cassação, Glauber também conta com a companhia constante da esposa, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), com quem tem um filho de 3 anos. Sâmia reconhece o erro cometido pelo marido e a necessidade de punição, mas discorda do tamanho da sanção sugerida. “A dosimetria da pena, que é base de qualquer julgamento, não está sendo considerada”, afirma Sâmia. Até o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, concordou com ela e disse também considerar a cassação exagerada.

A deputada também lembra que colegas envolvidos em esquemas de desvios de verba e na tentativa de golpe de Estado não foram sequer representados no Conselho de Ética. “Não temos dúvida de que esse processo é por conta do perfil do mandato dele, de enfrentamento, de denúncia de poderosos”, acrescenta. De certa forma, ela tem um pouco de razão. Em seu quinto mandato, Glauber Braga fez poucos amigos na Câmara, estrilou contra o avanço dos parlamentares sobre o Orçamento e se tornou um crítico ferrenho do Centrão. Não é à toa que o corporativismo — em vez de socorrê-lo, como é de praxe — tenha se mostrado até agora impiedoso com ele.
Publicado em VEJA de 17 de abril de 2025, edição nº 2940
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POLÍTICA
CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go…

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1 mês atrásem
5 de maio de 2025
Marcela Rahal
Como se não bastasse a ideia de uma CPI na Câmara, ainda a depender do aval do presidente Hugo Motta (o que parece que não deve acontecer), o governo pode enfrentar uma investigação para apurar os desvios bilionários do INSS nas duas Casas.
Já são 211 assinaturas de parlamentares a favor da CPMI, 182 deputados e 29 senadores, o suficiente para o início dos trabalhos. A deputada Coronel Fernanda, autora do pedido na Câmara, vai protocolar o requerimento nesta terça-feira, 6. Caberá ao presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, convocar o plenário para a leitura da proposta e, consequentemente, a criação da Comissão.
Segundo a parlamentar, que convocou uma entrevista coletiva para amanhã às 14h30, agora o processo deve andar. O governo ficará muito mais exposto com um escândalo que tem tudo para ficar cada vez maior, segundo as investigações ainda em andamento.
O desgaste será inevitável. O apelo do caso é forte e de fácil entendimento para a população. O assalto bilionário aos aposentados e pensionistas do INSS.
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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg…

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1 mês atrásem
5 de maio de 2025
Ludmilla de Lima
Presidente da Federação União Progressista, Antonio Rueda passará por uma cirurgia nesta segunda-feira, 05, devido a um cálculo renal. Por causa de fortes dores, o procedimento, que estava marcado para amanhã, terá que ser antecipado. Antes do anúncio da federação, na terça da semana passada, ele já havia sido operado por causa do problema, colocando um cateter.
Do União Brasil, Rueda divide a presidência da federação com Ciro Nogueira, do PP. Os dois partidos juntos agora têm a maior bancada do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores. O PP defendia que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira ficasse no comando do bloco, mas o União insistia no nome de Rueda. A solução foi estabelecer um sistema de copresidentes, que funcionará ao menos até o fim deste ano.
A “superfederação” ultrapassa o PL na Câmara – o partido de Jair Bolsonaro tem 92 deputados – e se iguala ao PSD e ao PL no Senado. O poder do grupo, que seguirá unido nos próximos quatro anos, também é medido pelo fundo partidário, de R$ 954 milhões.
A intensificação das agendas políticas nos últimos dias agravou o quadro de saúde de Rueda, que precisou também cancelar uma viagem ao Rio.
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Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu…

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1 mês atrásem
5 de maio de 2025
Matheus Leitão
A mais nova dobradinha contra Alexandre de Moraes tem gerado frisson nas redes bolsonaristas, mas parece mesmo uma novela de mau gosto. Protagonizada por Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três licenciado da Câmara, e Paulo Figueiredo, neto do último general ditador do Brasil, os dois se uniram para tentar punir o ministro do Supremo Tribunal Federal nos EUA.
Em uma insistente tentativa de se portarem com alguma relevância perante o governo Donald Trump, os dois agora somam posts misteriosos de Eduardo com promessas vazias de Figueiredo após uma viagem por alguns dias a Washington.
Um aparece mostrando, por exemplo, a lateral da Casa Branca em um ângulo no qual parece, pelo menos nas redes sociais, a parte interna da residência oficial do presidente dos Estados Unidos. O outro promete que as sanções ao ministro do STF estão 70% construídas e pede mais “72 horas” aos seus seguidores.
“Aliás, hoje aqui de manhã, eu tive um [inaudível] com eles, no caso o Departamento de Estado especificamente, e o termo que usaram para mim foi: olha, nós não queremos criar excesso de expectativa, mas nós estamos muito otimistas que algo vai acontecer e a gente vai poder fazer num curto prazo”, disse Paulo Figueiredo.
A ideia dos dois é que, primeiro, Alexandre de Moraes, tenha seu visto cancelado e não possa mais entrar nos Estados Unidos. Depois, que ele tenha algumas sanções econômicas, caso tenha bens nos Estados Unidos, como o bloqueio financeiro a instituições do país, como empresas de cartão de crédito.
“O que eu posso dizer para você é que a gente nunca esteve tão perto. Eu não posso dizer quando e nem garantir que vão acontecer”, prometeu ainda Paulo Figueiredo. A novela ainda vai ganhar novos ares nesta semana com a chegada de David Gamble, coordenador para Sanções do governo de Trump, ao Brasil nesta semana.
A seguir as cenas dos próximos capítulos…
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