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Cessar-fogo em Gaza: Uma calma frágil em meio a uma luta sem fim | Conflito Israel-Palestina
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10 meses atrásem
O anúncio de um acordo de cessar-fogo em Gaza marca, sem dúvida, um momento crítico no conflito em curso. Para aqueles de nós que testemunharam, vivenciaram e depois assistiram, lamentaram e defenderam à distância, esta pausa nas hostilidades proporciona uma oportunidade de refletir sobre os últimos 15 meses e o alto preço pago por esta calma passageira.
Como palestiniano, receber esta notícia é como estar no centro de uma tempestade, num momento de calma fantasmagórica rodeado de caos e destruição. Para mim, pelo menos marca o fim do derramamento de sangue, mas o facto é que aqueles que perdemos nunca mais regressarão e estas cicatrizes nunca irão sarar. Como um cessar-fogo mudaria esse fato?
Os cessar-fogo são frequentemente saudados como vitórias da diplomacia, mas para mim são mais como pausas num pesadelo constante. Este último acordo lembra-nos que, para o povo de Gaza, a sobrevivência depende muitas vezes da fragilidade da política. Filhos, mães e pais carregam o peso insuportável da incerteza. Pego-me perguntando: será este realmente um passo em direção à paz ou apenas mais um capítulo de uma história de justiça atrasada e sofrimento prolongado?
Os termos do cessar-fogo, alcançado sob imensa pressão internacional, incluem a suspensão dos ataques aéreos e do lançamento de foguetes, juntamente com disposições que permitem a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Estas medidas são desesperadamente necessárias. Mas a sua necessidade é também uma acusação ao fracasso da comunidade internacional em agir mais cedo para prevenir as crises que tornam tais medidas críticas. A ajuda é vital, mas não pode curar as feridas da opressão, abertas e sangrentas. A paz temporária não pode substituir o direito de viver livremente e de sonhar além da sobrevivência.
O Tribunal Internacional de Justiça (CIJ), o Tribunal Penal Internacional (TPI) e os seus mandados de detenção, que se destinavam a abordar crimes cometidos contra o nosso povo, são ofuscados pela inacção política. Irá o mundo prosseguir estes mecanismos quando a guerra terminar, ou será a justiça enterrada sob uma montanha de burocracia e indiferença? A incapacidade de impor a responsabilização antes, durante e depois do conflito revela quão profundamente falhas são estas instituições.
A ajuda é vital, mas não pode curar as feridas da opressão. A paz temporária não pode substituir o direito de viver livremente e de sonhar além da sobrevivência. Isto levanta outra questão crucial: Será que algum dia os palestinianos terão o direito de ter controlo total sobre o seu caminho político e diplomático para a justiça, ou serão sempre eliminados do palco político e retratados para se enquadrarem no papel de vítima? Embora o reconhecimento internacional da nossa situação seja fundamental, temos de traçar um caminho para a independência de potências globais não confiáveis.
Para os palestinianos, especialmente os de Gaza, o cerco é o seu próprio tipo de guerra. É uma violência sem bombas, mas não menos devastadora. O bloqueio, agora no seu 17º ano, corroeu a estrutura da vida. Roubou oportunidades às famílias, negou-lhes o acesso aos direitos básicos e impôs uma luta diária que desafia os limites da resistência humana. Como reconstruímos uma vida nessas condições, sabendo que este cessar-fogo pode desmoronar tão rapidamente quanto surgiu? Como sonhamos com um futuro quando o presente parece um estado de luto eterno?
Durante a guerra, decisões como a suspensão do financiamento da Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados da Palestina (UNRWA) exacerbaram a crise humanitária. A incapacidade da comunidade internacional, incluindo entidades tão díspares como a ONU, o G8 ou os BRICS, de intervir a tempo de restaurar essas linhas de vida vitais para os palestinianos, realça ainda mais o seu fracasso em proteger a vida civil e em defender o direito humanitário. O que acontece quando as redes de segurança, já demasiado frágeis, são arbitrariamente eliminadas sem uma resistência global suficientemente poderosa para aliviar a crise?
A comunidade internacional, especialmente as potências ocidentais, devem confrontar o seu papel na preservação deste ciclo. As declarações de apoio aos cessar-fogo soam vazias quando não são acompanhadas por uma acção significativa, responsabilização, protecção dos civis e um compromisso real de abordar as causas profundas deste conflito. O desequilíbrio de poder, a realidade brutal da ocupação, o bloqueio sufocante – estas não são questões periféricas. Eles são o cerne do problema.
Como podemos confiar na mesma administração dos EUA – liderada por agora por Biden e em breve por Trump – que pressionou por este cessar-fogo quando as suas ações minaram consistentemente a paz na região? As decisões da primeira administração do Presidente eleito Donald Trump de transferir a embaixada dos EUA para Jerusalém e reconhecer as Colinas de Golã como parte de Israel são lembretes claros de uma agenda que dá prioridade ao poder sobre a justiça. Além disso, permanece o receio de que esta administração mude o seu foco para a Cisjordânia, transferindo para lá as mesmas políticas de violência e deslocação. Tais decisões mostram que qualquer pausa na violência não equivale a uma mudança nas políticas ou nas prioridades.
Ao processar esse momento, sinto uma centelha de esperança e uma onda de raiva. Esperança de que esta pausa possa salvar vidas e raiva por ter sido necessário tanto sofrimento para chegar até mesmo a este ponto frágil. As câmeras se afastarão em breve, a atenção do mundo mudará, mas para nós isso não é o fim. Cessar-fogo não é paz. São momentos de silêncio em uma tempestade sem fim. Até que a justiça seja concretizada, até que a dignidade e a igualdade sejam mais do que sonhos distantes, o ciclo continuará.
Isto não pretende diminuir o significado do cessar-fogo para aqueles cujas vidas estão em jogo todos os dias. Para muitos, significa a diferença entre a vida e a morte. Mas, como palestiniano, não posso ignorar a verdade mais profunda: a paz não é apenas a ausência de guerra. É a presença da justiça. É a liberdade de viver sem medo, de reconstruir sem a certeza da destruição, de sonhar sem limites. Qualquer coisa menos que isso não é paz. É a sobrevivência. E a sobrevivência não é suficiente para pessoas que merecem muito mais.
As opiniões expressas neste artigo são do próprio autor e não refletem necessariamente a posição editorial da Al Jazeera.
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PPG em Educação da Ufac promove 4º Simpósio de Pesquisa — Universidade Federal do Acre
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19 de novembro de 2025A Ufac realizou, nessa terça-feira, 18, no teatro E-Amazônia, campus-sede, a abertura do 4º Simpósio de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE). Com o tema “A Produção do Conhecimento, a Formação Docente e o Compromisso Social”, o evento marca os dez anos do programa e reúne estudantes, professores e pesquisadores da comunidade acadêmica. A programação terminou nesta quarta-feira, 19, com debates, mesas-redondas e apresentação de estudos que abordam os desafios e avanços da pesquisa em educação no Estado.
Representando a Reitoria, a pró-reitora de Pós-Graduação, Margarida Lima Carvalho, destacou o papel coletivo na consolidação do programa. “Não se faz um programa de pós-graduação somente com a coordenação, mas com uma equipe inteira comprometida e formada por professores dedicados.”
O coordenador do PPGE, Nádson Araújo dos Santos, reforçou a relevância histórica do momento. “Uma década pode parecer pouco diante dos longos caminhos da ciência, mas nós sabemos que dez anos em educação carregam o peso de muitas lutas, muitas conquistas e muitos sonhos coletivos.”
A aluna do programa, Nicoly de Lima Quintela, também ressaltou o significado acadêmico da programação e a importância do evento para a formação crítica e investigativa dos estudantes. “O simpósio não é simplesmente dois dias de palestra, mas dois dias de produção de conhecimento.”
A palestra de abertura foi conduzida por Mariam Fabia Alves, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), que discutiu os rumos da pesquisa educacional no Brasil e os desafios contemporâneos enfrentados pela área. O evento contou ainda com um espaço de homenagens, incluindo a exibição de vídeos e a entrega de placas a professores e colaboradores que contribuíram para o fortalecimento do PPGE ao longo desses dez anos.
Também participaram da solenidade o diretor do Cela, Selmo Azevedo Apontes; a presidente estadual da Associação de Política e Administração da Educação; e a coordenadora estadual da Anfope, Francisca do Nascimento Pereira Filha.
(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)
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Consu da Ufac adia votação para 24/11 devido ao ponto facultativo — Universidade Federal do Acre
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19 de novembro de 2025A votação do Conselho Universitário (Consu) da Ufac, prevista para sexta-feira, 21, foi adiada para a próxima segunda-feira, 24. O adiamento ocorre em razão do ponto facultativo decretado pela Reitoria para esta sexta-feira, 21, após o feriado do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.
A votação será realizada na segunda-feira, 24, a partir das 9h, por meio do sistema eletrônico do Órgão dos Colegiados Superiores. Os conselheiros deverão acessar o sistema com sua matrícula e senha institucional, selecionar a pauta em votação e registrar seu voto conforme as orientações enviadas previamente por e-mail institucional. Em caso de dúvidas, o suporte da Secrecs estará disponível antes e durante o período de votação.
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Professora Aline Nicolli, da Ufac, é eleita presidente da Abrapec — Universidade Federal do Acre
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19 de novembro de 2025A professora Aline Andréia Nicolli, do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela) da Ufac, foi eleita presidente da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (Abrapec), para o biênio 2025-2027, tornando-se a primeira representante da região Norte a assumir a presidência da entidade.
Segundo ela, sua eleição simboliza não apenas o reconhecimento de sua trajetória acadêmica (recentemente promovida ao cargo de professora titular), mas também a valorização da pesquisa produzida no Norte do país. Além disso, Aline considera que sua escolha resulta de sua ampla participação em redes de pesquisa, da produção científica qualificada e do engajamento em discussões sobre formação de professores, práticas pedagógicas e políticas públicas para o ensino de ciências.
“Essa eleição também reflete o prestígio crescente das pesquisas desenvolvidas na região Norte, reforçando a mensagem de que é possível produzir ciência rigorosa, inovadora e socialmente comprometida, mesmo diante das dificuldades operacionais e logísticas que marcam a realidade amazônica”, opinou a professora.
Aline explicou que, à frente da Abrapec, deverá conduzir iniciativas que ampliem a interlocução da associação com universidades, escolas e entidades científicas, fortalecendo a pesquisa em educação em ciências e contribuindo para a consolidação de espaços acadêmicos mais diversos, plurais e conectados aos desafios educacionais do país.
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