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Com cerco a Bolsonaro, cotados a herdeiros políticos em 2026 vivem dilema

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Valmar Hupsel Filho

As revelações que implicam ainda mais Jair Bolsonaro em uma trama golpista podem não ter enterrado definitivamente o futuro político do ex-­presidente, mas representam um duro golpe em seus planos eleitorais mais imediatos. Não só isso. Principal nome da direita nas últimas duas eleições nacionais e responsável por dar visibilidade a uma corrente ideológica que, desde a redemocratização do país, vivia sob o manto da discrição, Bolsonaro impacta com o seu calvário todas as forças desse espectro político, como se viu nas reações dos governadores candidatos a herdar seu espólio eleitoral. Tarcísio de Freitas (São Paulo) foi enfático ao se posicionar ao lado de Bolsonaro. “Há uma narrativa disseminada contra o presidente e que carece de provas”, afirmou. Já Ronaldo Caiado (Goiás) repudiou a tentativa de golpe, mas evitou responsabilizar Bolsonaro. Ratinho Junior (Paraná) seguiu na mesma linha. “É muito difícil fazer juízo de valor”, disse, ressaltando que tem bom relacionamento com o ex-­presidente. Romeu Zema (Minas Gerais) preferiu nada falar.

Os comportamentos dão a medida de como a situação de Bolsonaro deixou um dilema difícil para os candidatos a ocuparem o seu espaço. O desafio será não perder o eleitor bolsonarista e, ao mesmo tempo, se distanciar das atitudes antidemocráticas e até criminosas dele e de ex-integrantes de seu governo. A preocupação não é gratuita: levantamento divulgado pelo instituto Paraná Pesquisas na última quarta, 27, mostra Bolsonaro à frente de Lula numa eventual disputa presidencial (veja o quadro). Mesmo inelegível por decisão da Justiça, sua performance, ao menos neste momento, é muito superior à de todos os governadores que pleiteiam a posição de adversário de Lula em 2026.

Bolsonaro, apesar de acossado, continua firme na disposição de disputar a eleição em 2026, como revelou em entrevista a VEJA. “Com todo o respeito, chance só tenho eu, o resto não tem nome nacional. O candidato sou eu”, disse. O plano é registrar a candidatura e esperar que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgue, como fez Lula em 2018, quando estava preso. Com a negativa da Corte, em 1º de setembro, Fernando Haddad, que era vice do petista e estava em campanha, tornou-se o candidato a um mês da votação e, ainda assim, foi ao segundo turno. Se o plano prevalecer, o mais provável é que Bolsonaro tenha um vice de sua confiança — hoje, o nome mais cotado é o do filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem boas relações com o presidente americano eleito Donald Trump (leia a reportagem na pág. 58) e um passivo eleitoral menor que o de seu irmão, o senador Flávio, cotado inicialmente — e que já foi investigado por prática de rachadinha. A ex primeira-dama Michelle, embora apareça bem nas pesquisas, deve concorrer ao Senado.

COTADA - Michelle: a ex-primeira-dama aparece bem nas pesquisas
COTADA - Michelle: a ex-primeira-dama aparece bem nas pesquisasPL/Divulgação
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Uma segunda possibilidade seria Bolsonaro jogar a toalha antes e escolher um aliado da direita para representá-lo. Nesse caso, Tarcísio de Freitas é o nome preferido. O entorno do governador se divide entre alas que desejam que ele concorra e outras que minimizam a possibilidade de ele tentar a Presidência em 2026. Um importante dirigente de seu partido, o Republicanos, disse a VEJA que esse passo iria contra a lógica, porque Tarcísio tem caminho estruturado para tentar a reeleição em São Paulo e não faria sentido deixar o cargo em abril de 2026 “e se colocar à disposição para Bolsonaro resolver o que pretende fazer”. Uma eventual candidatura só seria possível se todo o campo da direita se unisse em torno de seu nome, o que é considerado remoto. Levantamento do Paraná Pesquisas deste mês mostra que Tarcísio tem 40% das intenções de voto na sua tentativa de reeleição e 69% de aprovação de sua gestão.

As situações de Ratinho Jr., de Caiado e de Zema são diferentes. Impedidos de disputar a reeleição porque estão no segundo mandato consecutivo, eles podem ver no calvário de Bolsonaro uma oportunidade para avançar no cenário nacional. Primeiro a se colocar como opção, Caiado tem uma relação ora de aproximação ora de afastamento com o ex-presidente. Ele minimiza o risco de fragmentação da direita e diz que há espaço para todo mundo em 2026. Apesar de não criticar Bolsonaro neste momento de fragilidade, afirma que é preciso “mostrar que há outros nomes no cenário”. “O eleitor já deu sinais de que quer sair do extremismo e quer gestão, resultado”, diz Caiado, que tem boa aprovação, tanto que elegeu seu candidato em Goiânia (Sandro Mabel) mesmo enfrentando Bolsonaro. Além disso, é o mais experiente da turma: apresentou-se como presidenciável da direita e do agronegócio na eleição de 1989, quando liderava a União Democrática Ruralista. O grande problema é unificar o União Brasil, que tem ministérios e uma ala que defende o apoio a Lula. O líder da legenda na Câmara, Elmar Nascimento, afirmou que lançar uma candidatura própria seria “traição”. Se não bastasse, a cúpula da sigla namora o coach Pablo Marçal, que sonha chegar ao Palácio do Planalto (leia a reportagem na pág. 46).

FRENTE AMPLA - Governadores em Santa Catarina: dificuldade para achar um nome de consenso
FRENTE AMPLA - Governadores em Santa Catarina: dificuldade para achar um nome de consensoJean Luz/Governo do Estado de SP/.
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Outro que tem o que mostrar é Ratinho Jr., do Paraná. Seu estado tem tido bons números na economia, geração de emprego, educação e segurança pública, entre outros. Como Caiado, também elegeu seu candidato em Curitiba enfrentando a bolsonarista Cristina Graeml (PMB). Os números do Paraná Pesquisas animaram o governador, que teve 15% das intenções de voto, percentual maior que os de Caiado, Zema, Ciro Gomes e Simone Tebet. Embora tenha o mesmo problema de Caiado (seu PSD tem três ministérios), Ratinho Jr. tem a possibilidade de migrar de legenda se quiser levar adiante o seu plano — tem um flerte antigo, por exemplo, com o Republicanos. A pessoas próximas, Ratinho Jr. diz que não tem interesse em concorrer ao Senado em 2026. Por isso, cada vez mais, os sinais são de uma disposição de disputar o Planalto e ele já ensaia um discurso nacional, marcando uma prudente distância do bolsonarismo (mas sem abandoná-lo por completo). O mote é defender uma “direita popular”, sem radicalismo ideológico e aliando bandeiras como liberdade econômica, defesa da propriedade privada e valores conservadores à preocupação social.

Quem pode se aproveitar dessa fragmentação da direita é Lula. Aliados do presidente veem a possibilidade de aproximação com parlamentares da direita moderada, da centro-direita e do centro. “Tem muita gente demonstrando solidariedade a Bolsonaro, mas que na verdade está só esperando o momento certo para desembarcar”, avalia o deputado Jilmar Tatto, secretário de Comunicação do PT. Segundo ele, o governo deverá acelerar programas e até promover uma reforma ministerial para consolidar apoios de legendas vitoriosas em 2024 (como MDB, PSD, União Brasil e Republicanos) e que podem apoiar Lula em 2026. O governo ainda vai tentar avançar em nichos importantes da direita, como os evangélicos, com a possível eleição de um neoaliado, Otoni de Paula, para comandar a bancada evangélica na Câmara em 2025.

FÉ - Lula, Otoni de Paula e evangélicos: flerte com nichos do bolsonarismo
FÉ - Lula, Otoni de Paula e evangélicos: flerte com nichos do bolsonarismoRicardo Stuckert/PR
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O cenário mais provável para 2026 é mesmo o de pulverização da direita. Em 1989, além de Caiado, vários nomes estavam no páreo ocupando o mesmo espectro político. Para especialistas, a indefinição pode ser uma oportunidade. “A direita vai ter janela preciosa para tentar se redefinir”, afirma Carlos Pereira, professor da FGV. “Existe espaço para algo mais ponderado”, acredita Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. Mesmo que essa percepção esteja certa, a direita terá de lidar com a presença certa do ex-presidente no jogo, seja como candidato, tentando ser ou apoiando alguém. É um fato tão cristalino quanto a certeza de que a campanha presidencial para 2026 já começou.

Publicado em VEJA de 29 de novembro de 2024, edição nº 2921

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CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go…

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CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go...

Marcela Rahal

Como se não bastasse a ideia de uma CPI na Câmara, ainda a depender do aval do presidente Hugo Motta (o que parece que não deve acontecer), o governo pode enfrentar uma investigação para apurar os desvios bilionários do INSS nas duas Casas.

Já são 211 assinaturas de parlamentares a favor da CPMI, 182 deputados e 29 senadores, o suficiente para o início dos trabalhos. A deputada Coronel Fernanda, autora do pedido na Câmara, vai protocolar o requerimento nesta terça-feira, 6. Caberá ao presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, convocar o plenário para a leitura da proposta e, consequentemente, a criação da Comissão.

Segundo a parlamentar, que convocou uma entrevista coletiva para amanhã às 14h30, agora o processo deve andar. O governo ficará muito mais exposto com um escândalo que tem tudo para ficar cada vez maior, segundo as investigações ainda em andamento.

O desgaste será inevitável. O apelo do caso é forte e de fácil entendimento para a população. O assalto bilionário aos aposentados e pensionistas do INSS.



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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg…

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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg...

Ludmilla de Lima

Presidente da Federação União Progressista, Antonio Rueda passará por uma cirurgia nesta segunda-feira, 05, devido a um cálculo renal. Por causa de fortes dores, o procedimento, que estava marcado para amanhã, terá que ser antecipado. Antes do anúncio da federação, na terça da semana passada, ele já havia sido operado por causa do problema, colocando um cateter.

Do União Brasil, Rueda divide a presidência da federação com Ciro Nogueira, do PP. Os dois partidos juntos agora têm a maior bancada do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores. O PP defendia que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira ficasse no comando do bloco, mas o União insistia no nome de Rueda. A solução foi estabelecer um sistema de copresidentes, que funcionará ao menos até o fim deste ano. 

A “superfederação” ultrapassa o PL na Câmara – o partido de Jair Bolsonaro tem 92 deputados – e se iguala ao PSD e ao PL no Senado. O poder do grupo, que seguirá unido nos próximos quatro anos, também é medido pelo fundo partidário, de R$ 954 milhões.

A intensificação das agendas políticas nos últimos dias agravou o quadro de saúde de Rueda, que precisou também cancelar uma viagem ao Rio.



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Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu…

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Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu...

Matheus Leitão

A mais nova dobradinha contra Alexandre de Moraes tem gerado frisson nas redes bolsonaristas, mas parece mesmo uma novela de mau gosto. Protagonizada por Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três licenciado da Câmara, e Paulo Figueiredo, neto do último general ditador do Brasil, os dois se uniram para tentar punir o ministro do Supremo Tribunal Federal nos EUA.

Em uma insistente tentativa de se portarem com alguma relevância perante o governo Donald Trump, os dois agora somam posts misteriosos de Eduardo com promessas vazias de Figueiredo após uma viagem por alguns dias a Washington.

Um aparece mostrando, por exemplo, a lateral da Casa Branca em um ângulo no qual parece, pelo menos nas redes sociais, a parte interna da residência oficial do presidente dos Estados Unidos. O outro promete que as sanções ao ministro do STF estão 70% construídas e pede mais “72 horas” aos seus seguidores.

“Aliás, hoje aqui de manhã, eu tive um [inaudível] com eles, no caso o Departamento de Estado especificamente, e o termo que usaram para mim foi: olha, nós não queremos criar excesso de expectativa, mas nós estamos muito otimistas que algo vai acontecer e a gente vai poder fazer num curto prazo”, disse Paulo Figueiredo.

A ideia dos dois é que, primeiro, Alexandre de Moraes, tenha seu visto cancelado e não possa mais entrar nos Estados Unidos. Depois, que ele tenha algumas sanções econômicas, caso tenha bens nos Estados Unidos, como o bloqueio financeiro a instituições do país, como empresas de cartão de crédito.

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“O que eu posso dizer para você é que a gente nunca esteve tão perto. Eu não posso dizer quando e nem garantir que vão acontecer”, prometeu ainda Paulo Figueiredo. A novela ainda vai ganhar novos ares nesta semana com a chegada de David Gamble, coordenador para Sanções do governo de Trump, ao Brasil nesta semana. 

A seguir as cenas dos próximos capítulos…



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