O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) abriu um processo ético-profissional para apurar supostas infrações de dois obstetras durante o parto de uma mulher cujo filho ficou com danos neurológicos permanentes.
A acusação contra os médicos Sérgio Conti Ribeiro e Camila Miyahara foi feita pela paciente Sarah Grossman Putersznyt, que deu à luz em outubro de 2023. Um inquérito policial foi aberto após ela ingressar com uma queixa-crime.
Sérgio, que é doutor pela USP (Universidade de São Paulo), acompanhou o pré-natal de Sarah, e Camila atuou como assistente dele no parto. Ao Cremesp, Sarah diz que os profissionais foram omissos e prestaram assistência inadequada. Ela afirma que a falta de monitoramento adequado do seu filho durante o parto e após o parto teria causado os danos neurológicos.
A abertura da sindicância, que pode inocentar ou resultar na cassação do registro profissional dos obstetras, foi votada em setembro do ano passado. A apuração confirmou a existência de indícios de que os dois cometeram infrações éticas e agiram de maneira negligente.
À Polícia Sarah acusa os médicos de violência obstétrica e psicológica, além de lesão corporal grave. Procurados, os profissionais negam qualquer irregularidade.
O filho de Sarah nasceu com asfixia, sem chorar, e teve que passar por procedimentos de reanimação. Ele foi encaminhado para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e intubado. Posteriormente, recebeu o diagnóstico de encefalopatia hipóxico-isquêmica, uma lesão no sistema nervoso central devido à falta de oxigenação.
O bebê recebeu alta após dois meses internado para seguir em atendimento domiciliar. Até hoje se alimenta por meio de uma sonda, tem problemas motores e necessita de cuidados constantes.
De acordo com o relatório preliminar do Cremesp, há indícios de que Sérgio induziu o parto de maneira precoce, além de não ter monitorado adequadamente o bem-estar do bebê.
“A falta da realização e da avaliação das cardiotocografias [exame que avalia o bem-estar do feto] durante o trabalho de parto e a falta do acompanhamento dos batimentos cardíacos, sugerem indícios de que o dr. Sérgio e a dra. Camila possam não ter avaliado adequadamente o bem-estar fetal e que eles podem ter agido de maneira negligente, deixando de utilizar os melhores meios de diagnóstico e tratamento”, afirma o documento.
A análise preliminar do Cremesp é a de que os médicos podem ter agido de maneira imprudente ao realizar um procedimento chamado amniotomia, que rompe a bolsa amniótica.
“A dra. Camila, ao realizar, e o dr. Sérgio, ao indicar a amniotomia precocemente e nesse momento desnecessariamente conjuntamente com a falta de outras cardiotocografias realizadas conforme preconiza a literatura médica, podem ter agido de maneira imprudente, deixando de se utilizar a melhor opção terapêutica em favor da paciente e seu concepto”, diz a autarquia.
Segundo o relatório, eles podem ter violado ao menos cinco artigos do Código Médico.
Na queixa-crime enviada à polícia, Sarah questiona o fato de Sérgio, após o parto, ter colocado o recém-nascido em seu colo para ser fotografado e filmado com a família. Segundo a versão dada no inquérito policial, Sérgio chamou os avós do bebê para fazer o registro na sala do parto. Os advogados que representam Sarah questionam se havia condições para que o filho tivesse sido entregue à mãe.
A defesa de Sérgio diz, em nota enviada à coluna, que ele “atuou em total consonância com as normas técnicas e ético-médicas indicadas à condição da paciente e lamenta que um caso médico, ainda em apuração preliminar pelas instâncias competentes, seja discutido na imprensa”.
“É de total interesse do dr. Sérgio, médico ginecologista e obstetra com mais de 30 anos de experiência, que os fatos sejam esclarecidos, por isso, ele tem colaborado de forma irrestrita com as autoridades envolvidas.”
A advogada de Camila diz que a médica atuou como assistente de Sérgio e que todas as condutas adotadas por ele “seguiram as normas em vigor e as melhores práticas médicas para garantir a segurança da paciente e do bebê”.
com IVAN FINOTTI (Interino), KARINA MATIAS, LAURA INTRIERI e MANOELLA SMITH
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
