NOSSAS REDES

POLÍTICA

Dias que valem por anos

PUBLICADO

em

Thomas Traumann

As próximas duas semanas serão decisivas para os próximos dois anos do presidente Lula da Silva. Um erro de cálculo pode empurrar o dólar para R$ 6,5 e o governo Lula para uma crise financeira que pode desandar toda a economia. Uma sucessão de vitórias pode segurar a onda de pessimismo do mercado financeiro e dar uma trégua de mais alguns meses ao governo.

Este é o roteiro de fatos que começa a contar a história da segunda metade do mandato Lula 3:

•⁠ Saem as primeiras pesquisas Genial/Quaest e Datafolha sobre o efeito do anúncio da isenção do imposto de renda até R$ 5 mil e das mudanças no cálculo do salário mínimo. Um aumento de popularidade de Lula dará ao presidente a certeza de que fez o certo ao juntar as duas propostas, apesar do custo no câmbio e nos juros;

•⁠ O Congresso começa a votar nesta terça-feira os projetos de redução do crescimento de gastos. Só quem acredita em boitatás acha que este Congresso vai apertar os parafusos do pacote. Ao contrário, deputados e senadores devem diminuir a economia proposta pelo ministro Haddad com (1) manutenção do governo do Distrito Federal; (2) controle dos salários acima do teto do funcionalismo, atingindo principalmente os juízes; (3) a possibilidade de concessão de incentivos fiscais para empresas quando houver déficit nas contas do governo. Empresas beneficiadas pelos incentivos articulam a derrubada da ideia; e (4) os critérios mais rígidos para calcular a renda das famílias candidatas ao BPC e incluir novos beneficiários através de liminares judiciais sem terem passado por exames. Estima-se que as duas exigências poderiam cortar até 1 milhão dos 5,5 milhões de cadastrados no BPC. No fim de semana, em estado de negacionismo econômico, o PT decidiu que é contra essa medida.

•⁠ Paralelamente, o Congresso vota o Orçamento de 2025. A preços de hoje, é provável que o Congresso derrube as propostas de aumento das alíquotas de CSLL e JCP, gerando um buraco de R$ 20 bilhões para compensar a prorrogação da desoneração da folha de pagamento das empresas. Se isso acontecer, o Ministério da Fazenda terá de encontrar alguma outra fonte de recursos, provavelmente uma nova taxa.

Continua após a publicidade

•⁠ ⁠A Câmara dos Deputados pode aprovar ainda em dezembro o bizarro projeto de renegociação de dívida dos Estados, que dá vantagens a maus pagadores como os governos de Minas, Rio de Janeiro e Goiás. A União pode perder mais de R$ 40 bilhões por ano com o projeto;

•⁠ ⁠A extensão das derrotas do governo vai depender de o presidente Lula convencer o ministro Flávio Dino, do STF, a recuar da sua missão de não liberar a roubalheira nas emendas parlamentares. Por unanimidade, o STF bancou a decisão moralizadora de Dino. Por quase unanimidade, o Congresso quer manter o clima de tavolagem com dinheiro público;

•⁠ A troca de guarda entre Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) na terça e quarta-feira ocorre sob um cerco. O Banco Central deve aumentar a dose de juros e anunciar um ciclo longo de alta na Selic para tentar reancorar as expectativas do mercado financeiro e recolocar o câmbio abaixo dos R$ 6. Com a política fiscal do governo desacreditada, só restou a âncora monetária.

Continua após a publicidade

Corre no mercado financeiro um debate bizantino se o Copom vai subir os juros em 0,75 ponto porcentual ou 1 ponto. A questão é se é melhor dar um choque de credibilidade agora ou indicar uma política gradual de médio prazo.⁠ Por qualquer caminho, o Brasil vai chegar em junho com uma Selic entre 13% e 14%, com efeitos diretos no crescimento econômico, investimentos das empresas.

O câmbio procura um novo patamar. Quando o presidente Lula encomendou à equipe econômica um ajuste no crescimento das despesas, o dólar estava abaixo de R$5,5. No fim de outubro, quando Lula organizou a primeira reunião ministerial sobre o tema, a cotação já estava pouco acima de R$ 5,7. Depois do anúncio do pacote, subiu para mais de R$ 6 e ainda não desceu.

É natural que a cotação caia na última semana de dezembro em função de milhares de contratos que se encerram sempre no fim do ano. Mas depois a moeda vai variar num novo patamar. Quando lançou o pacote, o pior cenário da equipe econômica supunha que esse patamar seria de R$5,9. Agora, esse esquema parece otimista.

Continua após a publicidade

Do pacote fiscal, o governo ainda precisa enviar os projetos de revisão da aposentadoria dos militares, da ampliação da isenção do Imposto de Renda para R$ 5.000 e da taxação da renda a partir de R$ 50 mil. Há a possibilidade de uma cobrança de 7,5% na distribuição de dividendos. Fiscalistas nas contas públicas, muitos dos operadores estão preocupados se terão de pagar mais imposto a partir de 2026.

É difícil achar alguém no governo Lula fora da equipe econômica que compreenda o tamanho dos riscos. Os últimos dias foram de negação. “O País está crescendo para a economia real, não para os especuladores. Porque o que eles estão fazendo é antecipar as eleições de 2026, trazendo para o presente uma tentativa de desestabilizar o governo”, discursou Rui Costa, num seminário do PT. Comentando a enquete da Genial/Quaest com operadores do mercado financeiro mostrando que 90% desaprovam Lula, Simone Tebet disse: “isso não é imparcialidade. É jogar contra o país. E quem joga contra o país quer ajudar a afundar o país”. O Diretório Nacional do PT aprovou um documento que contém uma ameaça ao ministro Haddad: “Não será possível uma solução que agrade ao mercado e a nossa base”.

Pragmático, o Congresso sentiu o sangue na água e exigiu que o governo Lula destrave R$ 7,8 bilhões em emendas suspensas pelo STF. Na quarta-feira, dia 4, a Câmara dos Deputados aprovou a urgência dos dois projetos do pacote fiscal por margem mínima. A urgência para o primeiro projeto foi aprovada com 260 votos a favor, apenas 3 acima do mínimo necessário. Para o segundo — que não exigia mínimo de votos, a não ser a maioria simples — o governo conseguiu 267 votos. Além desses dois projetos, o governo Lula enviou ao Congresso uma PEC, que precisa de 308 votos para ser aprovada. A mensagem dos congressistas é simples: sem o dinheiro das emendas, nada vai andar. A questão é para onde vai essa andança.

Se o pacote Haddad for desidratado demais, o dólar explode e o país corre o risco de entrar numa espiral financeira ruim que vai jogar a economia de 2025 no buraco. O governo Lula e o Congresso não podem errar.



Leia Mais: Veja

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

POLÍTICA

CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go…

PUBLICADO

em

CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go...

Marcela Rahal

Como se não bastasse a ideia de uma CPI na Câmara, ainda a depender do aval do presidente Hugo Motta (o que parece que não deve acontecer), o governo pode enfrentar uma investigação para apurar os desvios bilionários do INSS nas duas Casas.

Já são 211 assinaturas de parlamentares a favor da CPMI, 182 deputados e 29 senadores, o suficiente para o início dos trabalhos. A deputada Coronel Fernanda, autora do pedido na Câmara, vai protocolar o requerimento nesta terça-feira, 6. Caberá ao presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, convocar o plenário para a leitura da proposta e, consequentemente, a criação da Comissão.

Segundo a parlamentar, que convocou uma entrevista coletiva para amanhã às 14h30, agora o processo deve andar. O governo ficará muito mais exposto com um escândalo que tem tudo para ficar cada vez maior, segundo as investigações ainda em andamento.

O desgaste será inevitável. O apelo do caso é forte e de fácil entendimento para a população. O assalto bilionário aos aposentados e pensionistas do INSS.



Leia Mais: Veja

Continue lendo

POLÍTICA

Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg…

PUBLICADO

em

Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg...

Ludmilla de Lima

Presidente da Federação União Progressista, Antonio Rueda passará por uma cirurgia nesta segunda-feira, 05, devido a um cálculo renal. Por causa de fortes dores, o procedimento, que estava marcado para amanhã, terá que ser antecipado. Antes do anúncio da federação, na terça da semana passada, ele já havia sido operado por causa do problema, colocando um cateter.

Do União Brasil, Rueda divide a presidência da federação com Ciro Nogueira, do PP. Os dois partidos juntos agora têm a maior bancada do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores. O PP defendia que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira ficasse no comando do bloco, mas o União insistia no nome de Rueda. A solução foi estabelecer um sistema de copresidentes, que funcionará ao menos até o fim deste ano. 

A “superfederação” ultrapassa o PL na Câmara – o partido de Jair Bolsonaro tem 92 deputados – e se iguala ao PSD e ao PL no Senado. O poder do grupo, que seguirá unido nos próximos quatro anos, também é medido pelo fundo partidário, de R$ 954 milhões.

A intensificação das agendas políticas nos últimos dias agravou o quadro de saúde de Rueda, que precisou também cancelar uma viagem ao Rio.



Leia Mais: Veja

Continue lendo

POLÍTICA

Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu…

PUBLICADO

em

Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu...

Matheus Leitão

A mais nova dobradinha contra Alexandre de Moraes tem gerado frisson nas redes bolsonaristas, mas parece mesmo uma novela de mau gosto. Protagonizada por Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três licenciado da Câmara, e Paulo Figueiredo, neto do último general ditador do Brasil, os dois se uniram para tentar punir o ministro do Supremo Tribunal Federal nos EUA.

Em uma insistente tentativa de se portarem com alguma relevância perante o governo Donald Trump, os dois agora somam posts misteriosos de Eduardo com promessas vazias de Figueiredo após uma viagem por alguns dias a Washington.

Um aparece mostrando, por exemplo, a lateral da Casa Branca em um ângulo no qual parece, pelo menos nas redes sociais, a parte interna da residência oficial do presidente dos Estados Unidos. O outro promete que as sanções ao ministro do STF estão 70% construídas e pede mais “72 horas” aos seus seguidores.

“Aliás, hoje aqui de manhã, eu tive um [inaudível] com eles, no caso o Departamento de Estado especificamente, e o termo que usaram para mim foi: olha, nós não queremos criar excesso de expectativa, mas nós estamos muito otimistas que algo vai acontecer e a gente vai poder fazer num curto prazo”, disse Paulo Figueiredo.

A ideia dos dois é que, primeiro, Alexandre de Moraes, tenha seu visto cancelado e não possa mais entrar nos Estados Unidos. Depois, que ele tenha algumas sanções econômicas, caso tenha bens nos Estados Unidos, como o bloqueio financeiro a instituições do país, como empresas de cartão de crédito.

Continua após a publicidade

“O que eu posso dizer para você é que a gente nunca esteve tão perto. Eu não posso dizer quando e nem garantir que vão acontecer”, prometeu ainda Paulo Figueiredo. A novela ainda vai ganhar novos ares nesta semana com a chegada de David Gamble, coordenador para Sanções do governo de Trump, ao Brasil nesta semana. 

A seguir as cenas dos próximos capítulos…



Leia Mais: Veja

Continue lendo

MAIS LIDAS