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Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

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ZAP // DALL-E-2

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar e de sentir.

O luto coletivo, segundo especialistas, pode ser simbólico, mas é concreto, que faz doer até o corpo. Nesta quinta (2) o feriado de Finados adquire também significados de reflexão para quem busca lidar com o sofrimento presente na esquina de casa ou mesmo do outro lado do mundo.

“Quando estamos vivenciando guerras, pandemias, passamos a vivenciar perdas simbólicas e concretas coletivamente. Mesmo não conhecendo as pessoas que estão morrendo, nos conectamos com suas histórias e vivenciamos suas dores e perdas”, explica a psicóloga Samantha Mucci. Ela é pesquisadora do tema e coordenadora do Programa de Acolhimento ao Luto (Proalu), e professora do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A especialista contextualiza que as imagens das guerras expostas diariamente nos remetem a vivências de insegurança, sofrimento, ansiedade e instabilidade presentes na nossa história. “Impossível não nos afetarmos coletivamente. Esse luto coletivo vai além da empatia, da compaixão e da solidariedade. Lembro da imagem de uma criança olhando para os escombros e corpos em sua frente com olhar assustado e cheio de lágrimas que me marcou muito”, exemplifica a professora Samantha Mucci.

A imagem fez com que a professora chorasse recentemente. “Pela humanidade, pelas guerras que já vivemos, pela minha criança interior, pelas minhas perdas, pelos meus lutos já vividos”, diz a professora.

Múltiplas perdas

Para a psicóloga clínica Keyla Cooper, também especializada em luto, o momento de múltiplas perdas atravessa o nosso dia a dia de uma maneira muito significativa, sejam pelas informações que chegam da guerra no Oriente Médio, mas também pelos desequilíbrios causados pelas mudanças climáticas, pelas misérias e fome visíveis.

“O tempo todo a gente se enfrenta com o limite da humanidade. De uma maneira geral, esses problemas afetam aquilo que a gente projeta para o nosso futuro”, explica a professora universitária em Brasília, que é pesquisadora da Universidade de Strathclyde (Glasgow – Escócia).

A instabilidade de pensar no amanhã teve, na avaliação das pesquisadoras ouvidas pela Agência Brasil, um momento-chave que foi a ocorrência da pandemia de coronavírus. Depois, o mundo viu eclodir as guerras da Ucrânia e do Oriente Médio, com mortes de civis. “A previsibilidade da vida foi profundamente abalada”, diz Keyla Cooper. As professoras esclarecem que o luto não é só um processo emocional, mas também uma reação psicológica, emocional, cognitiva, social e espiritual diante de uma perda significativa, não necessariamente apenas de pessoas.

Para as quatro psicólogas ouvidas pela reportagem, é importante que, em quaisquer condições da vivência do luto, a pessoa possa encontrar espaços para se expressar e encontrar empatia. De buscar comunicar a própria dor e encontrar pessoas ou grupos para escutar a fim de se sentir acolhido. “É muito importante a gente refletir, enquanto sociedade, sobre o espaço que a morte tem na nossa vida, qual o sentimento diante do limite que a morte impõe”, contextualiza.

Proteção

É claro sentir a dor do outro ou de viver o luto do outro, tem relação com a nossa capacidade de sermos empáticos. “Pessoas que têm um nível de empatia muito grande, certamente, vão experimentar de uma forma mais intensa a experiência do luto do outro, a experiência do luto coletivo”, ressalta a especialista em psicologia transpessoal, Cynthia Ramos, que trabalha em Brasília.

A psicóloga clínica e educacional Aline Oliveira, que atua em São Paulo, defende que é importante também procurar respeitar a necessidade de silêncio interno que pode ocorrer em alguns momentos de luto. “Se sentir necessário, procurar lugares preparados para falar sobre o assunto, seja em grupos que trabalham com o luto, a psicoterapia individual, ou pessoas próximas de confiança”, aconselha.

Nesse sentido, ela explica que falar abertamente é uma forma de expressar a dor, e pode encontrar um lugar de amparo ao dividir e compartilhar os sentimentos com outras pessoas. “A dor do luto precisa ser vivenciada, reconhecida e respeitada”.

Em suma, a pesquisadora Samantha Mucci concorda que o cuidado deve envolver acolhimento. “Apesar de cada pessoa viver de seu jeito e no seu tempo o processo de luto, é muito bom quando temos com quem compartilhar as histórias que vivemos. “Como pretendemos conviver com a presença da ausência”.

Bombardeados

É importante ainda, de acordo com Keyla Cooper, identificar fatores de sofrimento, como o consumo muito imediato de notícias que são difíceis de se lidar. “A forma como recebemos informações pode ter uma implicação na saúde mental muito significativa. Eu penso que a mídia tem um papel muito importante. É importante veicular as informações, mas eu acho que é importante refletir sobre o como veicular essas notícias.”

Nesse sentido, a especialista em psicologia transpessoal, Cynthia Ramos, enfatiza que, de fato, cada um de nós pode e deve se cuidar. “Quando se trata de um evento de grande magnitude, como guerras, primeiro, não devemos ignorar o que está acontecendo no mundo porque não é a alienação que vai nos proteger. Mas também é importante estarmos atentos a não permitir que sejamos bombardeados ou superexpostos às notícias, às vezes muitas vezes repetitivas”, diz.

Atenção aos sinais

As psicólogas identificam que sintomas físicos podem ser importantes para identificar como ocorre a elaboração de luto. Podem haver, segundo as especialistas, processo de sofrimento manifestação de ansiedade, com raros momentos de prazer e de distração. “Isso pode ser uma demanda para procura de um psicólogo, inclusive se a pessoa constatar sintomas físicos como taquicardia, sudorese e problemas no trato digestivo”, diz a psicóloga Keyla Cooper.

Outros sinais que a pessoa deve ficar atenta é a dificuldade de concentração, apatia, alteração no apetite e no sono. “Alguns sintomas físicos como enxaquecas, náuseas, muita dificuldade de realizar até mesmo os cuidados básicos de higiene como tomar banho e escovar os dentes”, diz a psicóloga Samantha Mucci.

Dos olhos

Segundo Samantha Mucci, da Unifesp, o processo de luto precisa ser vivenciado e ressignificado pela pessoa que está enlutada, pela família, por todos que estão sentindo a perda de alguém ou de algo significativo. “Muitas vezes evitamos e não nos sentimos preparados para lidar com a expressão dos sentimentos relacionados ao processo de luto como a tristeza, sentimento de abandono, a raiva, o sentimento de culpa e pesar, o choro”.

Por isso, chorar e se manifestar são tão fundamentais, conforme avaliam as psicólogas. “Chorar é um processo importante de elaboração dessas emoções. É através do choro e da expressão dos sentimentos que podemos parar para pensar no que está sentindo. Não tem como a gente pular essa etapa”, diz Keyla Cooper.

Afinal, estão envolvidos sentimentos muito particulares que são íntimos e não costumam ser a tônica de postagens em redes sociais preocupadas em propagar ilusões de felicidades permanentes. Como diz a professora da Unifesp, são sentimentos reais “e precisam de espaço, tempo e permissão para serem reconhecidos e vividos”.




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Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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