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Morre João das Neves, amigo de Chico Mendes, que viveu com índios da tribo kaxinawá

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Morre João das Neves, um dos fundadores do Grupo Opinião.
Diretor e dramaturgo tinha 84 anos e foi importante nome da resistência contra o regime militar.
Nome de peso da produção teatral brasileira durante a ditadura militar, o diretor e dramaturgo João das Neves morreu na manhã desta sexta (24), em sua casa, em Belo Horizonte. Ele tinha 84 anos e foi vítima de um câncer.
Nascido no Rio em 1984, João enfrentou reveses políticos durante a sua carreira. Seu grupo Os Duendes, formado em 1960, assumiu a administração do Teatro Arthur Azevedo, na periferia carioca, mas logo foi expulso dali pelo governo de Carlos Lacerda, que acusava a companhia de fazer propaganda subversiva.
Foi para o Centro Popular de Cultura, onde cuidava da área de teatro de rua, mas o grupo foi colocado na ilegalidade em 1964, depois do golpe militar. Seus integrantes —entre eles Ferreira Gullar e Oduvaldo Vianna Filho— então fundaram o Grupo Opinião, coletivo que marcou a resistência contra a ditadura e ajudou a disseminar a dramaturgia brasileira.
Na companhia, João dirigiu importantes peças, como “A Saída, Onde Fica a Saída?” (1967), com texto de Armando Costa, Antônio Carlos Fontoura e Ferreira Gullar, “O Último Carro” (1976) e “Mural Mulher” (1979) —estas últimas com dramaturgia do diretor.
Em “O Último Carro”, usava a metáfora de um trem desgovernado para tratar da vida de moradores da periferia. “A peça vai além da maioria dos textos sociais da época, revelando a preocupação de apelar para o simbólico e uma liberdade associativa de personagens e situações que não se contém nos limites do naturalismo”, definiu o crítico Sábato Magaldi.
João sempre aliava o engajamento a um grande rigor estético. E tinha um tom político mesmo em produções infantis. “O Leiteiro e a Menina da Noite” (1970), tratava do racismo e do empoderamento do negro para crianças. Já “A Lenda do Vale da Lua” (1975) falava da violência nos centros urbanos.
Mesmo com o fim do regime militar, o diretor não perdeu a verve política. Há três anos, quando foi tema de uma mostra no Itaú Cultural, que repassou sua carreira, disse à Folha: “O Brasil se livrou da ditadura, mas ainda somos um país de mentalidade muito retrógrada em muitos sentidos. A gente tem um Congresso estranho, extremamente reacionário”.
VIDA NO ACRE
Um tanto decepcionado com os rumos artísticos depois da retomada da democracia, o encenador deixou o Rio no fim dos anos 1980 e mudou-se para o Acre, onde conviveu com o ativista Chico Mendes, tema de um de seus espetáculos, e com índios da tribo kaxinawá. Foi com um convite para um projeto, mas permaneceu mais tempo. “Era para ficar seis meses e fiquei oito anos. A vida vai levando a gente”, contou à Folha, em 2015.
Há cerca de 20 anos, foi para Minas Gerais, sua morada definitiva, onde dirigiu peças como “Madame Satã”, baseado em João Francisco dos Santos, lendário personagem carioca.
Ali em terras mineiras também experimentou com espaços distintos, uma das marcas de sua obra. Em 1992, adaptou o livro “Primeiras Estórias”, de Guimarães Rosa, numa encenação feita ao redor de um lago no parque Lagoa do Nado, em Belo Horizonte.
A negritude tornou-se tema mais presente na sua obra a partir da década de 1990. Há sete anos, fez uma releitura de “Zumbi”, clássico de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, trazendo o debate do negro para o cenário contemporâneo.
Sua produção não se restringia ao teatro, e ele dirigiu diversos shows de nomes da MPB, como Chico Buarque, Milton Nascimento, Geraldo Vandré e Baden Powell.
João das Neves deixa a mulher, a cantora mineira Titane, que também dirigiu em alguns shows. Folha SP.
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