NOSSAS REDES

MUNDO

Por tudo que poderia ter sido e não foi, são muitas as alegrias – 24/12/2024 – Morte Sem Tabu

PUBLICADO

em

Cynthia Araújo

São muitas as alegrias deste fim de ano.

Meu pai ouviu do ortopedista que teria que fazer uma cirurgia na coluna para não parar de andar. “Arriscada, altamente invasiva, necessária”.

Marquei consulta para ele com o neurocirurgião que conheci há alguns anos, junto de duas hérnias de disco. As palavras foram bem diferentes. “Sem indicação cirúrgica, perda discreta, vida normal”. Primeira alegria.

Minha mãe levou um tombo há quatro meses. Diante do seu histórico, suspeitou-se de novo evento neurológico, ela que já teve três AVCs hemorrágicos. Mas os exames de imagem não mostraram nada novo. Mesmo assim, ela seguia sem andar direito. Antes de perder a esperança de um dia voltar à vida autônoma que levava, resolveu marcar uma avaliação com a fisioterapeuta que a atendeu quando ficou hemiplégica, quase treze anos antes. A profissional indicou osteopatia, e os movimentos começaram a dar sinais de vida. Segunda alegria.

Minha sogra emagreceu muitos quilos em pouco tempo. Estávamos muito apreensivos com o resultado de uma colonoscopia. De certa forma, estávamos preparados para o nome que ninguém gosta de falar, mas já tentando um quadro de otimismo com base em “estágio inicial da doença”. O resultado saiu. Não tem nada. Vida que segue. Mais uma alegria.

Outro dia, fui ao shopping do lado de casa para fazer as unhas. Pedi ao meu marido que me encontrasse com minha filha de três anos pra ver o papai noel. Do estacionamento no subsolo, ele me mandou uma mensagem: “Beatriz dormiu. Vou esperar um pouco aqui”.

Alguns minutos depois, percebi um movimento estranho do lado de fora do salão. Uma funcionária saiu para ver do que se tratava. “Gente, estão evacuando o shopping, está pegando fogo no quarto andar“. Saí vendo a fumaça já no primeiro. Dois jovens reclamavam com o segurança que o alarme de incêndio não tinha funcionado. “Por que ninguém acionou o alarme de incêndio?!”, um deles perguntava, exaltado.

Eu esperava o telefone do meu marido tocar, já muito aflita. Ele não atendia e, por alguns segundos, eu me senti naqueles momentos em que a gente não tem certeza se está acordado, se é um pesadelo. Morro de medo de incêndio desde criança, quando assisti a cenas de uma novela.

Quando finalmente atendeu, meu marido disse que já estava vendo as pessoas correndo no estacionamento. “Larga o carro e sai”, pedi. Ele disse que o carro estava ao lado da saída, que seria pior subir a pé para a rua. Comecei a ouvir as sirenes dos bombeiros. Ao meu lado, nem todo mundo compartilhava minha aflição: muitas pessoas tinham sido tiradas do supermercado às pressas, mas seguiam com suas sacolinhas na porta, na esperança de reabrirem as entradas.

Foram poucos minutos até a ligação que dizia que minha filha e o pai estavam fora do shopping. Alguns dos minutos de maior medo da minha vida, seguidos do alívio mais importante que já senti desde que engravidei. Provavelmente, a principal alegria deste ano.

Joan Didion diz que “a vida muda num instante. Você senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente”.

Ainda não tinha lido essas frases quando me ligaram, em 2012, dizendo que minha mãe estava sendo levada para o hospital, depois de um evento súbito. Na época, escrevi num post de Facebook: quanta saudade das coisas como eram apenas um segundo antes de deixarem de ser.

A vida é assim. Está tudo bem e, de repente, não está mais. Você está trabalhando em mais um dia comum, quando, subitamente, sente alguma coisa que te leva para uma emergência médica, de onde talvez nunca mais saia. Seu filho vai a um lugar rotineiro e o telefone toca para informar uma tragédia.

Um tempo atrás, minha família levou um susto, quando um tio muito querido perdeu subitamente a consciência, com algo que parecia grave.

Recebi a ligação de frente para minha mãe, para quem ninguém nunca mais ligou para dar más notícias. Desde então, uso diversas táticas para avaliar seu estado emocional e, gradativamente, contar os infortúnios que acontecem ao nosso redor, principalmente quando envolvem doença e morte.

– Mas eu acabei de falar com ele – ela me respondeu logo que comecei.

Pode ser uma maneira estranha de sentir alegria, mas, depois que entendi que nossa presença não salva as pessoas, que a vida muda mesmo muito rápido, que posso ter acabado de falar com alguém que vai embora no minuto seguinte, eu sempre imagino os piores cenários em todas as situações. E, a cada vez que eles não se confirmam, sinto uma alegria quase proporcional à tristeza que teria sentido se acontecesse o contrário.

Sei que a colonoscopia que não deu nada pra nós encontrou um câncer metastático em muita gente; sei que a cirurgia que meu pai não vai precisar fazer foi o último ato de outras pessoas; que muitas outras mães idosas não vão andar nunca mais depois de seus tombos. Sei disso como sei que, em outros anos, o pior foi – e outras vezes será – na minha família. A vida é mesmo assim.

Desta vez, o incêndio no shopping que não se transformou na maior tragédia da minha existência é meu maior presente de natal.

Por tudo que poderia ter sido e não foi, são muitas as alegrias deste fim de ano.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Leia Mais: Folha

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

MUNDO

Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

PUBLICADO

em

O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

Leia mais notícia boa

Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MUNDO

Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

PUBLICADO

em

Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

Leia mais notícia boa

A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MUNDO

Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

PUBLICADO

em

O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

Leia mais notícia boa

Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

//www.instagram.com/embed.js



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MAIS LIDAS