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Preço dos alimentos: economista avalia cenário de inflação – 13/03/2025 – Mercado

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Preço dos alimentos: economista avalia cenário de inflação - 13/03/2025 - Mercado

Leonardo Vieceli

Não existe uma bala de prata capaz de reduzir de modo imediato os preços dos alimentos no Brasil, afirma o pesquisador Leandro Gilio, do Insper Agro Global.

Segundo o economista, a isenção da alíquota de importação de produtos como carne, café, milho, açúcar e óleos, anunciada pelo governo Lula (PT) neste mês, terá efeito quase nulo na inflação, devido a restrições de fornecedores competitivos no mercado internacional.

O que pode ajudar a conter a carestia mais à frente, diz o pesquisador, é a safra de grãos. Projeções indicam recorde para a produção em 2025, após problemas climáticos em 2024.

“Mas não se tem uma perspectiva tão de curto prazo de baixa do preço dos alimentos, porque os produtos precisam ser cultivados e entregues. E não existe uma bala de prata nessa área”, afirma Gilio em entrevista à Folha.

A inflação da comida, apontada como uma das questões por trás da queda de popularidade do presidente Lula, virou dor de cabeça para o governo.

A seguir, leia os principais trechos da entrevista de Gilio.

O governo anunciou que vai zerar a alíquota de importação de parte dos alimentos para conter a inflação, mas produtores dizem que a medida não terá grande efeito por falta de fornecedores competitivos no mercado. Qual é a sua avaliação?

A inflação dos alimentos pesa muito no bolso do consumidor, e o governo tem de dar alguma resposta para a sociedade. A cada dia o governo tem perdido um pouco de popularidade. Um dos maiores motivos identificados é justamente a inflação dos alimentos.

Essa medida [isenção sobre importações] provavelmente terá um efeito quase nulo. O Brasil já é um dos maiores produtores de vários desses produtos. É um grande exportador de açúcar, café, milho. Produz esses alimentos com um valor muito competitivo no mercado global.

Se a gente for pensar, com o dólar próximo dos R$ 6, onde isso vai ser encontrado e com qual competitividade vai chegar ao nosso mercado? Então, provavelmente, é uma medida que vai ter um efeito basicamente nulo em termos inflacionários.

Projeções indicam safra recorde de grãos no país em 2025. Como a produção maior pode afetar a inflação dos alimentos?

É importante esperar o andamento da safra. Extremos climáticos podem eventualmente reduzir a produção. Mas, por enquanto, nada muito grave é previsto. Provavelmente teremos uma safra boa neste ano, e isso impacta o preço dos alimentos, com tendência de baixa.

Claro, alguns produtos são commodities. Têm relação com o preço internacional também, não só com o preço nacional. Mas uma safra forte acaba contribuindo para a redução dos preços.

De um lado, há o plano do governo com previsão de pouco impacto na inflação. De outro, a safra traz uma perspectiva de redução de preços. Olhando esses aspectos em conjunto, qual é o cenário, então, para a inflação dos alimentos nos próximos meses? O pior já passou?

Para alguns produtos, a gente não tem uma reposição tão rápida. Por exemplo, houve um aumento grande dos preços nas carnes, e a gente está entrando em um ciclo de baixa em termos de produção. Então, não é uma coisa que será reposta de maneira rápida.

O café teve um problema global de produção. Não há uma tendência de os preços se regularizem em um curto prazo.

Em outros produtos, talvez isso seja mais fácil, como, por exemplo, no milho e em lavouras um pouco mais temporárias. Mas não se tem uma perspectiva tão de curto prazo de baixa do preço dos alimentos, porque os produtos precisam ser cultivados e entregues. E não existe uma bala de prata nessa área.

Muitos preços estão elevados porque aumentaram muito os custos de produção. Preços de fertilizantes, energia, combustível, tudo que envolve a produção dos alimentos. Como a produção agropecuária tem uma margem pequena, isso é repassado ao consumidor.

Outra coisa é a taxa de juros, que influencia a produção. Eleva o custo para o produtor. Tudo isso, em conjunto, é transferido para o consumidor, inclusive os problemas que o Brasil já tinha, como gargalos logísticos. O custo de transporte aumentou muito nos últimos tempos.

Na conjuntura macroeconômica, a gente sabe que o governo está com problema de ajuste fiscal, o que acaba impactando a inflação de modo geral, inclusive o lado dos alimentos. É uma questão de elevação geral de preços, que é transferida para os alimentos também.

Você afirma que não há uma perspetiva de baixa dos preços no curto prazo. O curto prazo seria quanto tempo?

Pelo menos os próximos três ou quatro meses, até eventualmente chegar a entrega das próximas safras.

A Conab fala em aumentar estoques de grãos para tentar conter a inflação. É uma medida capaz de gerar impacto?

Muito pouco. Isso já foi feito no passado, e nunca teve grandes resultados. Geralmente é uma política mais custosa do que realmente algum efeito prático.

Outras medidas às vezes ventiladas são até mais arriscadas, como um imposto de exportação. O efeito, na verdade, é diminuir a competitividade do produto no mercado global. O produtor acaba sendo desestimulado a produzir. Tem um efeito contrário ao efeito inicial desejado.

O governo tem de pensar realmente de uma maneira estratégica. É claro que, pensando em dar uma resposta de curto prazo para a população, essas medidas são eventualmente ventiladas. Mas é preciso ter uma visão um pouco mais estratégica e de longo prazo para a redução dos preços dos alimentos.

Não é uma coisa que vai acontecer do dia para a noite. Se existirem algumas possibilidades que se relacionem mais à redução de custos de produção, isso tem um efeito muito melhor e de longo prazo.

Produtos como carnes, ovos e café subiram de preço e assustaram consumidores nos últimos meses. Há algum outro item que pode se tornar uma espécie de vilão em breve?

Eventualmente, um ou outro produto aumenta ou cai de preço por alguma questão de safra, de produção. Nos ovos, por exemplo, teve onda de calor, o custo da ração subiu muito, então teve uma elevação de preço. Mas não é um ou outro produto que acaba elevando a inflação.

O que a gente precisa olhar é muito mais a questão estrutural, o que está causando isso de forma generalizada, não só nos alimentos e também em outras áreas. Mas, se você quiser pontuar alguns produtos que provavelmente não vão ter queda de preço nos próximos tempos, seriam esses.

A desaceleração prevista para a economia brasileira neste ano deve contribuir mais à frente para uma trégua dos preços da alimentação?

Contribui, sim. Às vezes a produção não acompanha a demanda, e o preço acaba aumentando. É por isso mesmo que se eleva a taxa de juros, para ter o controle inflacionário. A elevação dos juros, naturalmente, tende a reduzir a atividade econômica.


RAIO-X | Leandro Gilio, 37

Atua como pesquisador e professor do Insper Agro Global. Coordena a área de pesquisa voltada a comércio, geopolítica e segurança alimentar na instituição. É economista com mestrado e doutorado na área. Foi pesquisador do Cepea/USP e do Ipea, além de professor da UFSCar e consultor do Ministério da Agricultura e Pecuária.



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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propeg) da Ufac iniciou, nessa segunda-feira, 22, no Teatro Universitário, campus-sede, o 34º Seminário de Iniciação Científica, com o tema “Pesquisa Científica e Inovação na Promoção da Sustentabilidade Socioambiental da Amazônia”. O evento continua até quarta-feira, 24, reunindo acadêmicos, pesquisadores e a comunidade externa.

“Estamos muito felizes em anunciar o aumento de 130 bolsas de pesquisa. É importante destacar que esse avanço não vem da renda do orçamento da universidade, mas sim de emendas parlamentares”, disse a reitora Guida Aquino. “Os trabalhos apresentados pelos nossos acadêmicos estão magníficos e refletem o potencial científico da Ufac.”

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarida Lima de Carvalho, ressaltou a importância da iniciação científica na formação acadêmica. “Quando o aluno participa da pesquisa desde a graduação, ele terá mais facilidade em chegar ao mestrado, ao doutorado e em compreender os processos que levam ao desenvolvimento de uma região.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, comentou a integração entre ensino, pesquisa, extensão e o compromisso da universidade com a sociedade. “A universidade faz ensino e pesquisa de qualidade e não é de graça; ela custa muito, custa os impostos daqueles que talvez nunca entrem dentro de uma universidade. Por isso, o nosso compromisso é devolver a essa sociedade nossa contribuição.”

Os participantes assistiram à palestra do professor Leandro Dênis Battirola, que abordou o tema “Ciência e Tecnologia na Amazônia: O Papel Estratégico da Iniciação Científica”, e logo após participaram de uma oficina técnica com o professor Danilo Scramin Alves, proporcionando aos acadêmicos um momento de aprendizado prático e aprofundamento nas discussões propostas pelo evento.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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Representantes da UNE apresentam agenda à reitora da Ufac — Universidade Federal do Acre

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Representantes da UNE apresentam agenda à reitora da Ufac — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, recebeu, nessa segunda-feira, 22, no gabinete da Reitoria, integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). Representando a liderança da entidade, esteve presente Letícia Holanda, responsável pelas relações institucionais. O encontro teve como foco a apresentação da agenda da UNE, que reúne propostas para o Congresso Nacional com a meta de ampliar os recursos destinados à educação na Lei Orçamentária Anual de 2026.

Entre as prioridades estão a recomposição orçamentária, o fortalecimento de políticas de permanência estudantil e o incentivo a novos investimentos. A iniciativa também busca articular essas demandas a pautas nacionais, como a efetivação do Plano Nacional de Educação, a destinação de 10% do PIB para a área e o uso de royalties do petróleo em medidas de justiça social.

“Estamos vivenciando um momento árduo, que pede coragem e compatibilidade. Viemos mostrar o que a UNE propõe para este novo ciclo, com foco em avançar cada vez mais nas políticas de permanência e assistência estudantil”, disse Letícia Holanda. Ela também destacou a importância da regulamentação da Política Nacional de Assistência Estudantil, entre outras medidas, que, segundo a dirigente, precisam sair do papel e se traduzir em melhorias concretas no cotidiano das universidades.

Para o vice-presidente da UNE-AC, Rubisclei Júnior, a prioridade local é garantir a recomposição orçamentária das universidades. “Aqui no Acre, a universidade hoje só sobrevive graças às emendas. Isso é uma realidade”, afirmou, defendendo que o Ministério da Educação e o governo federal retomem o financiamento direto para assegurar mais bolsas e melhor infraestrutura.

Também participaram da reunião a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno; o pró-reitor de Assuntos Estudantis, Isaac Dayan Bastos da Silva; a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarina Lima de Carvalho; o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes; representantes dos centros acadêmicos: Adsson Fernando da Silva Sousa (CA de Geografia); Raissa Brasil Tojal (CA de História); e Thais Gabriela Lebre de Souza (CA de Letras/Português).

 

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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Multa para ciclistas? Entenda o que diz a lei e o que vale na prática

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Multa para ciclistas? Entenda o que diz a lei e o que vale na prática

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Tomaz Silva / Agência Brasil

Pode não parecer, mas as infrações previstas no Código de Trânsito Brasileiro não se limitam só aos motoristas de carros e motos — na verdade, as normas incluem também a conduta dos ciclistas. Mesmo assim, a aplicação das penalidades ainda gera dúvidas.

Nem todos sabem, mas o Código de Trânsito Brasileiro (CBT) descreve situações específicas em que ciclistas podem ser autuados, como pedalar em locais proibidos — o artigo 255 do CTB, por exemplo, diz que conduzir bicicleta em passeios sem permissão ou de forma agressiva configura infração média, com multa de R$ 130,16 e possibilidade de remoção da bicicleta.

Já o artigo 244 amplia as situações de infração para “ciclos”, nome dado à categoria que inclui bicicletas. Entre os exemplos estão transportar crianças sem segurança adequada, circular em vias de trânsito rápido e carregar passageiros fora do assento correto. Em casos mais graves, como manobras arriscadas ou malabarismos, a penalidade prevista é multa de R$ 293,47.

De fato, o CTB prevê punições para estas condutas, mas o mais curioso é que a aplicação dessas regras não está em vigor. Isso porque a Resolução 706/17, que estabelecia os procedimentos de autuação de ciclistas e pedestres, foi revogada pela norma 772/19.

Em outras palavras, estas infrações existem e, mesmo que um ciclista cometa alguma delas, não há hoje um mecanismo legal que permita a cobrança da multa.




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