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Qual a escala do afeto no seu trabalho? – 17/11/2024 – Opinião

A mobilização nacional em torno da PEC que propõe o fim da escala 6×1 escancara nossa relação abusiva com o trabalho. Somos o segundo país mais afetado pelo burnout: 1 a cada 3 brasileiros apresenta sintomas de esgotamento extremo, segundo a International Stress Management Association (Isma).

O pouco tempo para a “vida além do trabalho” impacta esses números, mas também é preciso discutir a vida que vivemos dentro dele. Qual o espaço para nossas dores e crises pessoais no ambiente profissional? A relação pessoa jurídica x pessoa física, sinto dizer, está muito mais desbalanceada do que o 6×1.

Saúde mental já é pauta em algumas empresas, mas muitas ainda apostam em soluções cosméticas: festas e palestras pontuais. Precisamos de uma cultura do afeto no trabalho, porque relações afetivas são também produtivas. Pesquisa da Gartner mostra que empresas com funcionários engajados elevam produtividade e lucro em 27%. E o que gera engajamento não são bônus ou planos de carreira, mas o acolhimento: 69% afirmam trabalhar melhor quando se sentem ouvidos e aceitos.

Isso inclui poder compartilhar angústias pessoais, como uma separação ou a doença de um familiar, e também falar sobre paixões, como a corrida ou o cinema francês.

Pertencimento surge quando somos vistos como pessoas, não apenas crachás.

Trabalhar onde há espaço para paixões e conflitos pessoais nos poupa de performar um estado emocional falso, liberando energia para uma jornada menos exaustiva. Pessoas acolhidas têm menos medo de errar, e isso as torna mais criativas e eficientes. Os sentimentos e a subjetividade que atravessam as pessoas são tão importantes de serem cuidados quanto a concretude dos prazos.

Discutir a jornada de trabalho é urgente, mas é igualmente necessário ressignificar a vida que vivemos nesses 36 horas semanais. Pois, mesmo que sejam 36, é muito tempo para calar nossa humanidade, não acha?



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