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Sexo gourmet no Motel Senzala – 11/10/2024 – Gustavo Alonso

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Moro no Recife desde 2015. Assim que cheguei quis conhecer o Solar dos Apipucos, a famosa casa de Gilberto Freyre na zona norte da cidade, hoje um museu.

O dinheiro obtido com a venda de seu maior clássico, “Casa-grande e Senzala”, publicado em 1933, ajudou Freyre a adquirir a então decadente construção em 1940. Tecnicamente não se trata de uma casa-grande, mas de um bonito sobrado. Não importa: no imaginário ela é “a casa-grande de Freyre”.

Em 1988, centenário da abolição, um ano após a morte de Freyre, foi inaugurado em frente a sua casa o Motel Senzala, ícone da cidade do Recife.

Resolvi conhecer o Motel Senzala assim que encontrei uma companhia pernambucana. Lá havia suítes “Pelourinho” e “Zumbi”, e quartos “Xica da Silva”, “Liberdade” e “Quilombo”. O que vi nos quartos não fugia ao padrão de qualquer motel que estimula o fetiche do sadismo e masoquismo.

O Motel Senzala unia a sexualidade e a ironia tipicamente nacionais, no limite do dizível. Lembro que no estacionamento do motel havia uma árvore que pendia para fora do estabelecimento. Ao lado, um cartaz: “Não trepe na árvore”.

Em agosto o Senzala mudou de nome, passando a se chamar Soho Motel. Trata-se de uma referência ao descolado bairro nova-iorquino onde, segundo a nova direção, “os tabus não existem”. O primeiro post no Instagram do Soho Motel diz: “Um novo ambiente para explorar os prazeres, onde as fantasias se tornam realidade”.

Mas não todas as fantasias. Nosso tempo vive a patrulha do tesão alheio. Cada vez menos há distinção entre público e privado. Tudo é político, até a intimidade.

O Soho Motel viu-se obrigado a justificar-se no terceiro post: “É tempo de mudança, e as grades dão lugar à liberdade e ao prazer. Uma transformação interna e externa se faz necessária para marcar o compromisso da nova gestão com o respeito a todas as raças, crenças e gêneros. O motel anteriormente levava um nome que fazia apologia a uma cultura escravista. Mas hoje não podemos permitir essa postura”.

A vida privada está cada vez mais submetida a discursos políticos socializantes e deterministas. Sinal dos tempos, até para fazer sacanagem entre quatro paredes é preciso refletir sobre os males da humanidade. Se até um motel compete pelo prêmio de virtuosismo moral na sociedade, restará pouco espaço para as perversões cotidianas e para a complexidade da vida sexual a dois, três ou 20.

Mas o que rolava de fato dentro do Motel Senzala? Será que lá as relações de dominação e submissão não eram invertidas ou até subvertidas? Não seria o motel Senzala um espaço de liberdade, ainda que entre quatro paredes?

As relações sexuais sempre tornaram os brasileiros mais complexos do que gostariam nossos moralistas, religiosos ou laicos. A miscigenação entre negros e brancos, e sobretudo entre os já miscigenados gerando ainda mais mistura, aconteceu mais aqui do que em qualquer outro país do mundo.

O bairro nova-iorquino homenageado pelo novo motel, o Soho, tem 75% de moradores brancos. Apenas 1,7% de seus moradores são negros.

Recalcando nossos dilemas, nos afastamos cada vez mais de nós mesmos. O sexo gourmetizado voltou para a casa-grande.


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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propeg) da Ufac iniciou, nessa segunda-feira, 22, no Teatro Universitário, campus-sede, o 34º Seminário de Iniciação Científica, com o tema “Pesquisa Científica e Inovação na Promoção da Sustentabilidade Socioambiental da Amazônia”. O evento continua até quarta-feira, 24, reunindo acadêmicos, pesquisadores e a comunidade externa.

“Estamos muito felizes em anunciar o aumento de 130 bolsas de pesquisa. É importante destacar que esse avanço não vem da renda do orçamento da universidade, mas sim de emendas parlamentares”, disse a reitora Guida Aquino. “Os trabalhos apresentados pelos nossos acadêmicos estão magníficos e refletem o potencial científico da Ufac.”

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarida Lima de Carvalho, ressaltou a importância da iniciação científica na formação acadêmica. “Quando o aluno participa da pesquisa desde a graduação, ele terá mais facilidade em chegar ao mestrado, ao doutorado e em compreender os processos que levam ao desenvolvimento de uma região.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, comentou a integração entre ensino, pesquisa, extensão e o compromisso da universidade com a sociedade. “A universidade faz ensino e pesquisa de qualidade e não é de graça; ela custa muito, custa os impostos daqueles que talvez nunca entrem dentro de uma universidade. Por isso, o nosso compromisso é devolver a essa sociedade nossa contribuição.”

Os participantes assistiram à palestra do professor Leandro Dênis Battirola, que abordou o tema “Ciência e Tecnologia na Amazônia: O Papel Estratégico da Iniciação Científica”, e logo após participaram de uma oficina técnica com o professor Danilo Scramin Alves, proporcionando aos acadêmicos um momento de aprendizado prático e aprofundamento nas discussões propostas pelo evento.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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Representantes da UNE apresentam agenda à reitora da Ufac — Universidade Federal do Acre

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Representantes da UNE apresentam agenda à reitora da Ufac — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, recebeu, nessa segunda-feira, 22, no gabinete da Reitoria, integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). Representando a liderança da entidade, esteve presente Letícia Holanda, responsável pelas relações institucionais. O encontro teve como foco a apresentação da agenda da UNE, que reúne propostas para o Congresso Nacional com a meta de ampliar os recursos destinados à educação na Lei Orçamentária Anual de 2026.

Entre as prioridades estão a recomposição orçamentária, o fortalecimento de políticas de permanência estudantil e o incentivo a novos investimentos. A iniciativa também busca articular essas demandas a pautas nacionais, como a efetivação do Plano Nacional de Educação, a destinação de 10% do PIB para a área e o uso de royalties do petróleo em medidas de justiça social.

“Estamos vivenciando um momento árduo, que pede coragem e compatibilidade. Viemos mostrar o que a UNE propõe para este novo ciclo, com foco em avançar cada vez mais nas políticas de permanência e assistência estudantil”, disse Letícia Holanda. Ela também destacou a importância da regulamentação da Política Nacional de Assistência Estudantil, entre outras medidas, que, segundo a dirigente, precisam sair do papel e se traduzir em melhorias concretas no cotidiano das universidades.

Para o vice-presidente da UNE-AC, Rubisclei Júnior, a prioridade local é garantir a recomposição orçamentária das universidades. “Aqui no Acre, a universidade hoje só sobrevive graças às emendas. Isso é uma realidade”, afirmou, defendendo que o Ministério da Educação e o governo federal retomem o financiamento direto para assegurar mais bolsas e melhor infraestrutura.

Também participaram da reunião a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno; o pró-reitor de Assuntos Estudantis, Isaac Dayan Bastos da Silva; a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarina Lima de Carvalho; o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes; representantes dos centros acadêmicos: Adsson Fernando da Silva Sousa (CA de Geografia); Raissa Brasil Tojal (CA de História); e Thais Gabriela Lebre de Souza (CA de Letras/Português).

 

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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Multa para ciclistas? Entenda o que diz a lei e o que vale na prática

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Multa para ciclistas? Entenda o que diz a lei e o que vale na prática

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Tomaz Silva / Agência Brasil

Pode não parecer, mas as infrações previstas no Código de Trânsito Brasileiro não se limitam só aos motoristas de carros e motos — na verdade, as normas incluem também a conduta dos ciclistas. Mesmo assim, a aplicação das penalidades ainda gera dúvidas.

Nem todos sabem, mas o Código de Trânsito Brasileiro (CBT) descreve situações específicas em que ciclistas podem ser autuados, como pedalar em locais proibidos — o artigo 255 do CTB, por exemplo, diz que conduzir bicicleta em passeios sem permissão ou de forma agressiva configura infração média, com multa de R$ 130,16 e possibilidade de remoção da bicicleta.

Já o artigo 244 amplia as situações de infração para “ciclos”, nome dado à categoria que inclui bicicletas. Entre os exemplos estão transportar crianças sem segurança adequada, circular em vias de trânsito rápido e carregar passageiros fora do assento correto. Em casos mais graves, como manobras arriscadas ou malabarismos, a penalidade prevista é multa de R$ 293,47.

De fato, o CTB prevê punições para estas condutas, mas o mais curioso é que a aplicação dessas regras não está em vigor. Isso porque a Resolução 706/17, que estabelecia os procedimentos de autuação de ciclistas e pedestres, foi revogada pela norma 772/19.

Em outras palavras, estas infrações existem e, mesmo que um ciclista cometa alguma delas, não há hoje um mecanismo legal que permita a cobrança da multa.




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