Não sei você, mas sempre me achei uma pessoa sem jeito para êxitos. Mesmo assim, tenho tido o palpite de que “tchê-tchererê-tchê-tchês” idôneos e realmente enriquecedores carecem menos de dinheiro e mais de um bônus à la Clarice Lispector. Quer apostar comigo?
Comecemos, então, muito antes das bets, num acidente em 1956. Doutora Deolane nem era nascida, quiçá ex-Fazenda ou presidiária. Hélio e Guilhermina estavam cruzando a rua em frente à Sears, quando o bonde Águas Férreas a atropelou. “Triste, né?”, conta meu amigo Rixa, que apesar de tudo é fruto desse acaso. “Não fosse por ele, o viúvo não teria se casado com a minha mãe.”
Numa parede de casa, tratei de emoldurar outra pequena façanha desse tipo de loteria: a carta de um certo moçoilo pedindo a mão de uma garota em 1933. Ele não tinha onde cair morto, a mãe da noiva era braba. No entanto, se aquele “caô” em caligrafia bonita não tivesse agradado, eu não estaria neste planeta. Meu futuro avô ganhou a aposta.
E digo mais: o primeiro Braune poderia nem ter embarcado naquele velho navio. “Ah, quer saber? ‘Bora’ ficar quieto aqui em Lübeck, terra do marzipã.” Ou seja: melou destino. Minha família inteira aniquilada por um docinho que não é gostoso feito brownie, nem rende os mesmos trocadilhos.
Sim, diariamente fazemos apostas completamente gratuitas em termos de casualidade, tendo ou não tigrinhos da fortuna em nosso favor. Recusamos empregos. Mudamos de cidade. Prestamos vestibular para direito em vez de economia —ou, talvez como todos devêssemos, para estatística.
Numa virada diferente de esquina, podemos ir do banho de lama ao tropeção na felicidade.
Nossa existência todinha enquanto gigantesca roleta, quiçá um “Pião da Desgraça Própria” —basta arrastar para o lado errado no Tinder. Ou ter a sorte da minha outra amiga Júlia, que marcou assento num voo para a Holanda sem desconfiar que no 12F ao seu ladinho estaria um novo amor.’=
Se abrir ou se fechar para o azar? Ficar em casa ou vencer a inércia do pijama, da remela e do desânimo? Na dúvida, vamos de “Lispectorbet”, que —muito convenientemente— escreveu em “A Hora da Estrela”: “Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida”. Chance de 50% a 50%.
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