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Alckmin pretende reeditar parceria com Lula, mas c…

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Ricardo Chapola

Com exceção de Jair Bolsonaro, os presidentes da República que disputaram a reeleição reeditaram a chapa vitoriosa — Fernando Henrique e Marco Maciel (1994 e 1998), Lula e José Alencar (2002 e 2006) e Dilma Rousseff e Michel Temer (2010 e 2014). A dois anos da próxima corrida ao Palácio do Planalto, Lula ainda não disse se tentará um novo mandato, mas seus assessores mais próximos garantem que o petista concorrerá novamente. Eles deixam em aberto, no entanto, a participação no futuro pleito do atual vice-presidente, Geraldo Alckmin, que, a depender da necessidade e da conveniência eleitoral, pode ser substituído por um quadro de outro partido, especialmente de uma legenda maior do que o PSB e de perfil mais ao centro. Cotados para a função não faltam, do MDB ao PSD. Alguns políticos inclusive já manifestaram interesse de ser vice de Lula em 2026. Resta saber se o presidente, caso seja mesmo candidato, estará disposto a trocar de parceiro. Há pelo menos um entrave importante para essa operação: Alckmin, o alvo das especulações, não dá sinais de que pretende abrir mão da vaga ou disputar outro cargo eletivo.

Num governo marcado até aqui por disputas entre ministros, descoordenação na equipe e falta de rumo, a relação entre o presidente e o vice é um dos poucos pontos de harmonia. Antigo adversário convertido em aliado na eleição de 2022, o ex-­tuca­no Alckmin, ao aceitar ser vice de Lula na campanha presidencial passada, tornou-se um trunfo do petista, por simbolizar a frente ampla montada para impedir a reeleição de Bolsonaro e afastar o risco à democracia que os esquerdistas diziam — com razão, conforme apuração da Polícia Federal — que o capitão representava. Com a posse da chapa vitoriosa, Alckmin assumiu o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e passou a ajudar o presidente a tentar reduzir arestas com o agronegócio e outros setores importantes da economia. Sua discrição, lealdade e trabalho de formiguinha são muito bem avaliados. Por isso, correligionários do vice afirmam não fazer muito sentido a substituição na futura chapa presidencial, apesar de PT e PSB terem fechado um acordo que previa a parceria por apenas quatro anos. Ou seja: até 2026.

FORÇA AUXILIAR - Simone Tebet, Renan Filho e Helder Barbalho: as opções consideradas pelo MDB para a vaga de vice (Washington Costa/MF; Rafael Vieira/AGIF/AFP; Riccardo Savi/Getty Images)

Ciente das conversas de bastidor, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, diz que será um “erro monumental” se Lula dispensar Alckmin da chapa à reeleição: “Ele encontrou o vice dos sonhos, que tem cumprido tarefas importantes ligadas a setores com os quais tem mais aproximação do que o próprio PT”. Uma eventual substituição de Alckmin na urna eletrônica seria acompanhada, provavelmente, de gestos de deferência a ele. No entorno de Lula, há quem diga que o presidente pode apoiá-lo na eleição para o Senado em São Paulo e convidá-lo novamente para um ministério num quarto mandato. Justiça e Defesa estão entre as pastas cogitadas. Um ministro com gabinete no Planalto já até tratou por alto com o vice sobre a possibilidade de ele concorrer a uma vaga ao Senado. A conversa não foi conclusiva. Segundo correligionários do vice, ele não pretende disputar qualquer outro cargo eletivo. Sua prioridade é permanecer até 2030 na função, até porque, ao aderir à aliança com Lula, Alckmin perdeu parte do eleitorado conservador que lhe deu sucessivos mandatos de governador. Foram quatro no total. “Não há chance de ele disputar outro cargo. O eleitorado dele em São Paulo era anti-Lula. Ele fez um movimento consciente, elegeu-se vice-presidente e sabe que pagou um preço político por isso”, diz o deputado federal Jonas Donizette (PSB).

Os socialistas têm outra opção para disputar o governo ou o Senado por São Paulo, o também ministro Márcio França. O problema é que a direita aparece como favorita para os dois cargos, o que faz boa parte dos esquerdistas pensarem duas vezes antes de embarcar no embate com os rivais. Em termos eleitorais, o risco é menor para Alckmin caso concorra a vice. “O Alckmin ampliou demais o universo político dele. Ele não cogita voltar a disputar um cargo por São Paulo, assim como também acho que Lula não cogita trocá-lo. O presidente é do tipo de pessoa que pensa que ‘em time que está ganhando não se mexe’”, afirma Silvio Torres, um antigo aliado que o vice indicou para o cargo de assessor especial da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). “Lula gosta muito dele. Não acredito que o presidente cogite uma mudança como essa, sobretudo porque Alckmin ajudou o PT a perder o medo de ter um vice que pudesse ser sabotador”, reforça Jonas Donizette.

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OLHO GRANDE - Alexandre Silveira e Carlos Fávaro: os dois ministros do PSD sonham com voos mais altos
OLHO GRANDE - Alexandre Silveira e Carlos Fávaro: os dois ministros do PSD sonham com voos mais altos (Mateus Bonomi/AGIF/AFP; Ton Molina/Fotoarena/.)

As especulações existem porque há no núcleo duro do governo e entre conselheiros de Lula gente que defende a necessidade de o presidente ter um parceiro de chapa de um partido de centro com força nacional. As duas legendas que mais conquistaram prefeituras este ano, o PSD e o MDB, são cortejadas por alguns governistas e têm políticos que querem a vaga de Alckmin. É o caso, entre os emedebistas, do governador do Pará, Helder Barbalho, e do ministro dos Transportes, Renan Filho, descendentes de dinastias estaduais e partidárias. Ambos são jovens e não escondem o desejo de estar na chapa com Lula. Seria uma etapa importante para um sonho maior que une os dois: se fortalecer para concorrer à Presidência em 2030, quando o petista não poderá ser candidato. No campo das possibilidades de vice do MDB, também aparece a ministra do Planejamento, Simone Tebet, terceira colocada na eleição presidencial de 2022. Como ocorreu com Alckmin, ela já foi sondada sobre a possibilidade de mudar seu domicílio eleitoral de Mato Grosso do Sul para São Paulo a fim de tentar uma das cadeiras ao Senado.

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AVISO - Márcio França e Siqueira: dispensar Alckmin será “erro monumental” (@carlossiqueira4040/Instagram)
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Já no PSD, que tomou do MDB a liderança em prefeituras no país, são cotados para vice, entre outros, os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Agricultura, Carlos Fávaro. O primeiro se aproximou do presidente e do chefe da Casa Civil, Rui Costa, e tem demonstrado ambição por cargos eletivos de envergadura. O segundo poderia ajudar o presidente nas conversas com o agronegócio, segmento com nichos refratários ao PT. O fato é que Lula não terá vida fácil para costurar sua eventual chapa à reeleição. PSD e MDB são confrarias de caciques regionais, têm divisões internas conhecidas e mantêm pés nas canoas de Lula, Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e companhia. As duas legendas cobrarão caro para apoiar qualquer postulante à Presidência. A vaga de Alckmin, se de fato entrar na mesa de negociação, será apenas uma parte da fatura.

Publicado em VEJA de 29 de novembro de 2024, edição nº 2921



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“Estou muito envergonhado! Isto é uma indignidade inexplicável!” (Ciro Gomes, ex-ministro da Fazenda, usando as redes sociais para reclamar da troca de Carlos Lupi por Wolney Queiroz, seu desafeto no PDT, no comando do Ministério da Previdência Social) 


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A articulação para mudar quem define o teto de jur…

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A articulação para mudar quem define o teto de jur...

Nicholas Shores

O Ministério da Fazenda e os principais bancos do país trabalham em uma articulação para transferir a definição do teto de juros das linhas de consignado para o Conselho Monetário Nacional (CMN). 

A ideia é que o poder de decisão sobre o custo desse tipo de crédito fique com um órgão vocacionado para a análise da conjuntura econômica. 

Compõem o CMN os titulares dos ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento e da presidência do Banco Central – que, atualmente, são Fernando Haddad, Simone Tebet e Gabriel Galípolo.

A oportunidade enxergada pelos defensores da mudança é a MP 1.292 de 2025, do chamado consignado CLT. O Congresso deve instalar a comissão mista que vai analisar a proposta na próxima quarta-feira. 

Uma possibilidade seria aprovar uma emenda ao texto para transferir a função ao CMN.

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Hoje, o poder de definir o teto de juros das diferentes linhas de empréstimo consignado está espalhado por alguns ministérios. 

Cabe ao Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), presidido pelo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, fixar o juro máximo cobrado no consignado para pensionistas e aposentados do INSS.

A ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, é quem decide o teto para os empréstimos consignados contraídos por servidores públicos federais.

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Na modalidade do consignado para beneficiários do BPC-Loas, a decisão cabe ao ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias.

Já no consignado de adiantamento do saque-aniversário do FGTS, é o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que tem a palavra final sobre o juro máximo.

Atualmente, o teto de juros no consignado para aposentados do INSS é de 1,85% ao mês. No consignado de servidores públicos federais, o limite está fixado em 1,80% ao mês.

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Segundo os defensores da transferência da decisão para o CMN, o teto “achatado” de juros faz com que, a partir de uma modelagem de risco de crédito, os bancos priorizem conceder empréstimos nessas linhas para quem ganha mais e tem menos idade – restringindo o acesso a crédito para uma parcela considerável do público-alvo desses consignados.

Ainda de acordo com essa lógica, com os contratos de juros futuros de dois anos beirando os 15% e a regra do Banco Central que proíbe que qualquer empréstimo consignado tenha rentabilidade negativa, a tendência é que o universo de tomadores elegíveis para os quais os bancos estejam dispostos a emprestar fique cada vez menor.



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