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Cisternas devem ser cuidadas como casas – 13/12/2024 – Papo de Responsa

A cisterna de placas, criada originalmente pelo pedreiro Manoel Apolônio de Carvalho, mais conhecido por Nel, foi adaptada e inovada. Tornou-se ferramenta fundamental na vida das famílias, muito além de uma fonte para armazenamento de 16 mil litros de água da chuva para o consumo humano ou para a produção de alimentos saudáveis.

Os processos de mobilização social, as trocas de experiências por meio de intercâmbios de saberes e sabores geraram inspiração para que as famílias, além de ter uma cisterna na porta de casa para captar e manejar água para o consumo humano, pudessem aproveitar as potencialidades da natureza.

Elas puderam criar iniciativas de captação e manejo, na perspectiva da segurança hídrica de suas propriedades.

Entretanto, ainda se constatam muitas situações em que as famílias que, geralmente, no final do ano, pintam suas casas, não adotam o mesmo procedimento em relação às suas cisternas, que são partes fundamentais em suas vidas.

Exatamente por isso, elas deveriam ser cuidadas como cuidam das residências.

Em 2001, Claudia Sonda, escreveu o artigo “A Convivência da Mulher com o Semiárido: a Vida Antes e Depois das Cisternas”, para 3º Simpósio de Captação e Manejo de Água de Chuva, realizado em Campina Grande (PB).

Ela constatou que indiscutivelmente as cisternas proporcionaram a melhoria de qualidade de vida de todas as famílias: “Antes, as mulheres e as crianças, geralmente as responsáveis por buscar água para a casa, acordavam de madrugada e andavam de 1 a 6 km até as fontes mais próximas, cacimbas ou açudes”.

Elas carregavam a água em latas, na cabeça ou sobre o lombo de jumentos. “Perdiam muito tempo esperando, havia muitos conflitos nas cacimbas, brigas entre as mulheres e falta de solidariedade entre todos.”

Havia muitas doenças, principalmente em crianças. As mais citadas eram diarreia, ameba, verminoses, giárdia, dengue e cólera. As mulheres também relataram dores na coluna.

A construção das cisternas trouxe muitos benefícios: água limpa, diminuição das doenças, melhoria da vida das donas de casa, tempo livre para desenvolver outras atividades e poder dormir. Enfim, mais saúde para todos.

Conclui-se que a cisterna passou a ser parte das residências. Exatamente por isso, assim como as casas, elas necessitam de cuidados para ter vida longa e atender às necessidades das famílias.

Tudo que constitui infraestrutura importante para a vida digna no planeta, necessita de cuidados. Se não cuidarmos, não teremos a preservação da natureza, nem um meio ambiente onde vivemos com sustentabilidade.

Nem flores nos jardins, nem aves para cantar e espalhar as sementes para a biodiversidade, nem rios, afluentes e nascentes. Não teremos água.

O cuidar, portanto, se constitui algo crucial, o principal caminho para a sustentabilidade, para evitar maiores gastos e manter a infraestrutura necessária ao bem-estar dos que habitam o planeta.

O Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS), com sede em Teixeira (PB), vem incentivando a construção de cisterna e o bem cuidar, desde 1994. Já são 1.377 cisternas instaladas e 6.197 pessoas beneficiadas, a partir do diálogo e incentivos com outras organizações no Fórum Articulação Semiárido da Paraíba, constituído em 1993, ano de uma grande seca.

A partir das dificuldades de acesso a água e da formação cidadã, incluindo a promoção do encontro de saberes locais, as famílias são empoderadas para materializar seus sonhos, transformando-os em conquistas para conviver com as adversidades locais.

As conquistas alimentam a esperança na coletividade, como caminho para o desenvolvimento local, fortalecendo formas de organização comunitária e a percepção de um novo jeito de viver, a partir da solidariedade. Sozinho ninguém é capaz.

Esse trabalho precisa ter continuidade. Ajudem-nos a promover caminhos, sobretudo para aqueles que se encontram à margem do processo de desenvolvimento.

Não é só construir estruturas, mas, promover espaços para novos conhecimentos e caminhos para a convivência com as adversidades do clima semiárido. Sua Doação é muito importante. Acesse https://cepfs.org.br/campanhas/.


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