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Com revés no STF, Zambelli agrava status de figura…

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Com revés no STF, Zambelli agrava status de figura...

Bruno Caniato

Era tarde de 29 de outubro de 2022, véspera do segundo turno da eleição presidencial, quando um homem atravessou correndo a esquina das alamedas Joaquim Eugênio de Lima e Lorena, nos Jardins, em São Paulo, gritando por socorro. Atrás dele, empunhando um revólver e cercada de seguranças armados, vinha a deputada federal Carla Zambelli (PL-­SP), que perseguiu o alvo, com quem discutira minutos atrás, até um bar, onde gritou para que ele se deitasse no chão. O deplorável episódio rendeu um processo no Supremo Tribunal Federal, que formou maioria nesta semana para cassar seu mandato e condená-la à prisão. Além disso, serviu de vez para torná-la tóxica no bolsonarismo, que viu no gesto um fator decisivo na disputa presidencial, vencida por Lula por apenas 1,8 ponto percentual de vantagem. “A Carla Zambelli tirou o mandato da gente”, relembrou Jair Bolsonaro na segunda-feira 24, ainda culpando a ex-aliada pela derrota. A condenação deve enterrar de vez a chance de a deputada voltar à liderança que já ocupou na direita e engrossa a lista de soldados abandonados pelo ex-­presidente nas trincheiras.

O ambiente para a deputada no Supremo também é completamente desfavorável. Seis ministros já votaram pela sua condenação, dois deles (Cristiano Zanin e Dias Toffoli) depois de Nunes Marques ter pedido vista. Antes, já tinham votado contra ela Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Flávio Dino e o relator, Gilmar Mendes. Ela foi denunciada pela Procuradoria-Geral da República por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com uso de arma — a deputada tem licença para andar armada, mas a prática é proibida nas 48 horas anteriores às eleições. Os votos até agora são para condená-­la a cinco anos e três meses de prisão em regime semiaberto, além da perda do cargo. A defesa afirma que a parlamentar foi provocada e empurrada ao chão antes da perseguição. Gilmar Mendes, porém, diz que a discussão “em momento algum escalou para agressão física”. “Uma deputada federal perseguir em via pública, com arma de fogo, indivíduo desarmado de corrente partidária adversa, na véspera das eleições, após troca de insultos recíprocos, reveste-se de elevado grau de reprovabilidade”, disse. A sentença só sairá após Nunes Marques devolver o processo — ele tem noventa dias para fazê-lo.

O revés no STF não foi a única derrapada de Zambelli na Justiça. Na terça 25, em decisão unânime, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) manteve a cassação do seu mandato, que havia imposto no final de janeiro por conta da veiculação de informações falsas sobre fraudes em urnas eletrônicas. Resta a Zambelli agora um recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para salvar o seu mandato ao menos neste caso. Ela segue na função legislativa até que não haja mais possibilidade de recurso.

As decisões se somam a uma lista enorme de confusões envolvendo a deputada. Um dos mais rumorosos foi a contratação do hacker Walter Delgatti Neto, célebre por vazar diálogos da Lava-Jato, para provar que as urnas eletrônicas não eram confiáveis. No meio da sandice, que incluiu reunião da dupla com Bolsonaro, o hacker invadiu o sistema do Conselho Nacional de Justiça e forjou uma ordem de prisão contra Moraes. Revelado por VEJA, o caso rendeu uma operação de busca e apreensão da PF contra Zambelli, inclusive na Câmara (veja o quadro).

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ENCARCERADOS - Roberto Jefferson e Daniel Silveira: ex-presidente mantém hoje distância de aliados enrolados
ENCARCERADOS - Roberto Jefferson e Daniel Silveira: ex-presidente mantém hoje distância de aliados enrolados (SEAP/Reprodução)

Estrela que ascendeu com a onda bolsonarista em 2018, Zambelli chegou a ter 946 244 votos na última eleição, mais de 200 000 a mais que Eduardo Bolsonaro em São Paulo. O ex-­presidente se afastou dela e de outros aliados barulhentos à medida que se envolviam em episódios do mesmo tipo. Um nome que há tempos não é citado pelo capitão é o do ex-deputado Daniel Silveira (sem partido-RJ), preso desde 2023 ao ser condenado a oito anos e nove meses de cadeia por ameaças contra a democracia e o STF. Outro que sumiu da pauta foi o ex-deputado Roberto Jefferson (PRD-RJ), preso em 2022 após receber agentes da PF em sua casa com granadas e tiros de fuzil.

Para especialistas, atos assim são motivados pela certeza de solidariedade do bolsonarismo, o que nem sempre ocorre. “A lógica de Jair Bolsonaro é de autopreservação da imagem a qualquer custo. Ele já provou ser capaz de abandonar qualquer aliado”, avalia José Álvaro Moisés, cientista político da USP. O caso de Carla Zambelli, como o de Roberto Jefferson, é mais um desses em que o tiro saiu pela culatra.

Publicado em VEJA de 28 de março de 2025, edição nº 2937



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CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go…

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CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go...

Marcela Rahal

Como se não bastasse a ideia de uma CPI na Câmara, ainda a depender do aval do presidente Hugo Motta (o que parece que não deve acontecer), o governo pode enfrentar uma investigação para apurar os desvios bilionários do INSS nas duas Casas.

Já são 211 assinaturas de parlamentares a favor da CPMI, 182 deputados e 29 senadores, o suficiente para o início dos trabalhos. A deputada Coronel Fernanda, autora do pedido na Câmara, vai protocolar o requerimento nesta terça-feira, 6. Caberá ao presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, convocar o plenário para a leitura da proposta e, consequentemente, a criação da Comissão.

Segundo a parlamentar, que convocou uma entrevista coletiva para amanhã às 14h30, agora o processo deve andar. O governo ficará muito mais exposto com um escândalo que tem tudo para ficar cada vez maior, segundo as investigações ainda em andamento.

O desgaste será inevitável. O apelo do caso é forte e de fácil entendimento para a população. O assalto bilionário aos aposentados e pensionistas do INSS.



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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg…

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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg...

Ludmilla de Lima

Presidente da Federação União Progressista, Antonio Rueda passará por uma cirurgia nesta segunda-feira, 05, devido a um cálculo renal. Por causa de fortes dores, o procedimento, que estava marcado para amanhã, terá que ser antecipado. Antes do anúncio da federação, na terça da semana passada, ele já havia sido operado por causa do problema, colocando um cateter.

Do União Brasil, Rueda divide a presidência da federação com Ciro Nogueira, do PP. Os dois partidos juntos agora têm a maior bancada do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores. O PP defendia que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira ficasse no comando do bloco, mas o União insistia no nome de Rueda. A solução foi estabelecer um sistema de copresidentes, que funcionará ao menos até o fim deste ano. 

A “superfederação” ultrapassa o PL na Câmara – o partido de Jair Bolsonaro tem 92 deputados – e se iguala ao PSD e ao PL no Senado. O poder do grupo, que seguirá unido nos próximos quatro anos, também é medido pelo fundo partidário, de R$ 954 milhões.

A intensificação das agendas políticas nos últimos dias agravou o quadro de saúde de Rueda, que precisou também cancelar uma viagem ao Rio.



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Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu…

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Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu...

Matheus Leitão

A mais nova dobradinha contra Alexandre de Moraes tem gerado frisson nas redes bolsonaristas, mas parece mesmo uma novela de mau gosto. Protagonizada por Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três licenciado da Câmara, e Paulo Figueiredo, neto do último general ditador do Brasil, os dois se uniram para tentar punir o ministro do Supremo Tribunal Federal nos EUA.

Em uma insistente tentativa de se portarem com alguma relevância perante o governo Donald Trump, os dois agora somam posts misteriosos de Eduardo com promessas vazias de Figueiredo após uma viagem por alguns dias a Washington.

Um aparece mostrando, por exemplo, a lateral da Casa Branca em um ângulo no qual parece, pelo menos nas redes sociais, a parte interna da residência oficial do presidente dos Estados Unidos. O outro promete que as sanções ao ministro do STF estão 70% construídas e pede mais “72 horas” aos seus seguidores.

“Aliás, hoje aqui de manhã, eu tive um [inaudível] com eles, no caso o Departamento de Estado especificamente, e o termo que usaram para mim foi: olha, nós não queremos criar excesso de expectativa, mas nós estamos muito otimistas que algo vai acontecer e a gente vai poder fazer num curto prazo”, disse Paulo Figueiredo.

A ideia dos dois é que, primeiro, Alexandre de Moraes, tenha seu visto cancelado e não possa mais entrar nos Estados Unidos. Depois, que ele tenha algumas sanções econômicas, caso tenha bens nos Estados Unidos, como o bloqueio financeiro a instituições do país, como empresas de cartão de crédito.

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“O que eu posso dizer para você é que a gente nunca esteve tão perto. Eu não posso dizer quando e nem garantir que vão acontecer”, prometeu ainda Paulo Figueiredo. A novela ainda vai ganhar novos ares nesta semana com a chegada de David Gamble, coordenador para Sanções do governo de Trump, ao Brasil nesta semana. 

A seguir as cenas dos próximos capítulos…



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