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Como construir casas com eficiência energética – 16/11/2024 – Mercado

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Como construir casas com eficiência energética - 16/11/2024 - Mercado

Jean Araújo

Na construção de uma casa, as escolhas feitas pelo arquiteto podem torná-la mais ou menos eficiente no consumo de energia, e isso hoje em dia já é regulado no Brasil por dois sistemas: a NBR 15.575 (Norma de Desempenho Mínimo de Edificações) e o PBE Edifica (Programa Brasileiro de Etiquetagem de Edificações).

Nenhum deles é obrigatório durante a construção de um novo edifício, mas ambos podem ser aplicados a fim de garantir uma residência com melhor aproveitamento da energia, diz Roberto Lamberts, professor titular do Departamento de Engenharia Civil da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e supervisor do Labeee (Laboratório de Eficiência Energética em Edificações).

Mesmo que uma diretriz, como a NBR 15.575, por exemplo, não seja obrigatória na construção de uma casa, ela pode ser usada como parâmetro caso o consumidor se sinta prejudicado com a falta de eficiência energética.

O comprador de um imóvel pode verificar junto ao Código de Defesa do Consumidor se o imóvel atende ao mínimo prescrito no regulamento, ou seja, se tem um desempenho energético mínimo de acordo com a norma.

De acordo com Lamberts, embora a norma estabeleça três níveis de classificação (mínimo, intermediário e superior), a maioria das construtoras ainda priorizam cumprir apenas as especificações mínimas, mesmo em imóveis de alto padrão.

Para contornar esse problema, o professor aconselha que o cliente solicite ao arquiteto e aos responsáveis pela construção que o projeto seja pensado para alcançar um desempenho superior.

O segundo mecanismo, o PBE Edifica, entra como método averiguador de um imóvel.

Assim como equipamentos eletrônicos são classificados conforme o consumo de energia, residências também possuem uma classificação, pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem de Edificações, como mais ou menos eficiente energeticamente.

Diferente da etiquetagem de produtos eletrônicos, que compara os aparelhos entre iguais, o PBE Edifica compara um edifício com o índice da NBR 15.575.

“Na etiquetagem residencial o nosso ‘C’ corresponde ao mínimo da 15.575, o ‘B’ ao intermediário e o ‘A’ ao superior”, diz Lambers. A passagem do nível ‘C’ para o ‘A’ proporciona uma economia de energia de entre 16% a 35%, variando entre as zonas climáticas, na qual regiões mais quentes apresentam porcentagens maiores de economia de energia.

Ainda dentro da categoria ‘A’, é possível diminuir mais os gastos, chegando ao nível dos edifícios que produzem energia suficiente para suprir a própria demanda ou mais. Esses são os chamados ZEB, sigla em inglês para prédios zero energia (zero energy building).

A tendência é que esses procedimentos evoluam, que haja políticas públicas que contribuam para que possamos chegar aos padrões internacionais, diz o professor. Segundo Lamberts, o programa ainda é pouco usado, mas há debates para que essa avaliação se torne obrigatória.

Lamberts destaca que todo arquiteto deveria se preocupar com a eficiência energética em um projeto, mas que hoje, “infelizmente, na arquitetura vemos muito a busca da estética, apenas”.

Ele exemplifica com produtos habitacionais que observou em Florianópolis: estúdios pequenos com uma fachada envidraçada e virada para oeste. “Vira uma estufa, não é possível ficar dentro dessa sala”.

Lucila Chebel Labaki, professora-colaboradora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, também relata um caso que experienciou há alguns anos.

Ao visitar Foz do Iguaçu, uma cidade de clima tipicamente quente na primavera e no verão, ficou em um hotel em que a fachada oeste era toda pintada de preto.

Como essa parede recebia luz solar direta no período da tarde e a tinta preta absorve o calor, o ambiente interno aquecia e o ar-condicionado não era suficiente para resfriar o quarto.

Casos como esses são exemplos de edificações que não respeitaram as diretrizes da eficiência energética. Para ter conforto térmico nesses locais, será preciso usar ar-condicionado, gasto que poderia ser evitado se o projeto tivesse levado as normas em conta.

Se o imóvel está em fase de planejamento, o primeiro passo é pedir ao arquiteto que elabore uma obra que atenda ao nível máximo da NBR 15.575.

Esse profissional levará em conta fatores como os materiais, a insolação e a ventilação, tripé essencial para uma casa eficiente energeticamente, segundo Labaki, que também é física e pesquisadora na área de conforto térmico e eficiência energética em ambientes construídos.

A professora explica pontos importantes durante o planejamento de um imóvel, sendo o primeiro passo estudar o clima e a região da construção.

O clima da cidade

O clima influencia diretamente na concepção de uma edificação. Uma casa em Belém (PA) não terá as mesmas necessidades que uma residência em Porto Alegre (RS). A especialista diz que é necessário considerar a amplitude térmica do local, ou seja, a diferença entre a temperatura máxima e a mínima do território.

Em geral, quanto mais distante da linha do equador, maior a amplitude térmica das cidades. E, quanto maior essa diferença de temperatura entre o verão e o inverno, maior é a dificuldade para projetar uma casa com conforto térmico e que consuma menos energia.

Labaki explica que essa dificuldade se dá porque, em ambientes onde há muita variação de temperatura, como no sul do Brasil, é preciso pensar em soluções para a residência reter calor durante o inverno e ainda sim ser fresca durante o verão.

O contrário acontece no norte do país, no qual a amplitude térmica é menor ao longo do ano e é necessário pensar em espaços que sejam adequados ao calor excessivo e à umidade.

Por outro lado, grande parte do Nordeste possui altas temperaturas e clima seco.

Para cada ambiente são necessárias soluções específicas para que o interior da casa mantenha-se confortável gastando o mínimo de energia possível.

Circulação de ar

“Janelas são elementos fundamentais de um projeto”, ressalta Labaki, já que permitem a troca de ar interior com o exterior. Para isso, é desejado posicioná-las no sentido dos ventos predominantes da região e com um sistema de ventilação cruzada.

Esse método implica ter uma abertura para a entrada dos ventos e uma para a saída, assim é possível que haja circulação do ar e a troca de temperatura com o ambiente externo.

Outro mecanismo para a dissipação da temperatura interna é o efeito chaminé, uma abertura projetada para que o calor seja dissipado pelo alto. O fenômeno ocorre porque o ar quente é menos denso que o ar frio e tende a subir, enquanto o segundo tende a descer. Com uma abertura superior, o ar quente tem por onde deixar o ambiente.

Espaços com o pé direito alto proporcionam o mesmo efeito, a parte inferior do cômodo tende a se manter resfriada e mais fresca, enquanto o ar mais quente se acumula perto do teto.

Casas com o pé direito alto e muitas aberturas são ótimas para climas quentes, pois contribuem para que haja essa circulação natural do ar, economizando com o uso de climatizadores.

A lógica é contrária para ambientes frios. Teto baixo permite que o ar aquecido fique mais próximo da altura dos moradores, além de exigir menos dos aquecedores por terem um espaço reduzido para aquecer.

As janelas menores contribuem para diminuir a perda de calor interior do imóvel. Lamberts ressalta que janelas possuem baixa resistência térmica, ou seja, deixam o calor passar facilmente, o que não é interessante em regiões mais geladas.

“O que dá para fazer para o clima frio é colocar vidro duplo ou uma segunda camada de vidro, caso já exista um instalado”, explica o especialista.

Outros mecanismos usados são as películas de isolamento térmico e as fitas de vedação. Elas impedem a passagem de ventos e chuva, ajudando a não entrar ar frio no imóvel.

Nos locais em que a amplitude térmica é grande, é necessário que a residência seja pensada para ser bem ventilada no verão, mas também tenha a capacidade de isolar o frio. Nesses casos, é preciso que o projeto seja pensado para suprir as duas necessidades, unindo soluções que conversem com altas e baixas temperaturas.

Posição solar

No hemisfério sul, o Sol nasce no leste e se põe no oeste. Por isso, as faces de uma casa que estiverem viradas para o leste recebem sol pela manhã e as viradas para o oeste, pela tarde.

Além disso, por causa da inclinação da Terra, no hemisfério Sul esse percurso do sol entre o leste e o oeste se dá em direção ao norte – quanto mais longe do Equador estiver uma região, mais essa inclinação fará diferença, principalmente no inverno.

Num país como o Brasil, portanto, as partes da casa que estiverem viradas para o norte receberão luz solar praticamente o dia todo, enquanto as que estiverem viradas para o sul serão menos atingidas pelo sol, principalmente no inverno.

Esse conhecimento é usado na arquitetura a fim de determinar a posição das aberturas de um imóvel e a posição das fachadas.

Ao planejar uma casa, é necessário levar em consideração a posição solar para determinar os espaços internos. Um quarto virado para o oeste, por exemplo, ficará quente à tarde e à noite, porque receberá a luz do sol após o meio-dia, quando o ar já está mais aquecido naturalmente.

O mesmo vale para janelas de vidro. Cômodos em que elas estejam voltadas para leste, norte ou oeste tenderão a se aquecer mais que aqueles com vitrôs voltados para o sul.

Materiais da construção

“Uma habitação conversa com o clima externo através da envoltória do ambiente: paredes, janelas, cobertura. É por aí que ocorre a troca de calor”, explica Labaki.

Alguns materiais possuem maior resistência térmica que outros. De acordo com Lamberts, paredes maciças de concreto, comumente usadas em programas de habitação popular, como o Minha Casa Minha

Vida, são as que mais conduzem calor.

Já entre materiais que são bons exemplos de resistência às variações de temperatura o professor cita tijolos furados de cerâmica, blocos de concreto e o material “wood frame” com isolantes.

“Wood frame” são paineis pré-moldados de madeira usados para a estrutura da construção. Combinados com isolantes térmicos, são opções eficazes na manutenção da temperatura interna da casa. Entretanto, não são tão comuns no Brasil. Atualmente, a alvenaria é a mais popular.

Segundo Lamberts, “o tijolo furado de cerâmica tende a ter uma resistência térmica um pouco maior que o bloco de concreto”. Ou seja, o bloco de concreto oferece menor conforto térmico, por perder mais calor que outros.

Também há diferença em relação à cobertura das casas. Telhas térmicas, chamadas de sanduíches, são ótimos isolantes. Feitas em três camadas, diminuem a variação de temperatura da residência bloqueando o calor exterior e também impedindo que ele saia, em dias mais frios.

As telhas de cerâmica e de concreto são mais conhecidas, sendo a primeira mais eficiente para propiciar conforto térmico, por apresentar níveis mais baixos de condutividade térmica.

O especialista diz que também é comum as residências terem laje, mas isso não garante um isolamento maior que um forro de pvc ou madeira. A diferença, segundo ele, é pequena, mesmo que a laje seja mais espessa.

Entretanto, caso a cobertura seja uma laje, é possível transformá-la em um telhado verde com o preparo e revestimento adequado para o plantio. Essa solução funciona como um isolante acústico e térmico para o interior da casa.

Além do material empregado, as tintas escolhidas fazem diferença: cores escuras esquentam mais. Se o objetivo for deixar o ambiente mais fresco, priorize pintar as paredes externas e o telhado de cores claras a fim de diminuir a absorção da radiação solar. Caso a intenção seja aquecer, escolha cores escuras.

Consumo de energia

A instalação elétrica da casa influencia diretamente na quantidade de energia consumida no dia a dia da família. Quando ela é feita de maneira ineficiente, tende a aumentar as perdas de energia.

O quadro de luz, a fiação, a quantidade de tomadas e a voltagem precisam estar de acordo com o consumo e os aparelhos conectados. Por exemplo, se os fios usados no sistema elétrico tiverem uma espessura abaixo do ideal para comportar a eletricidade que passa, poderá haver perda de energia no caminho e gerar falhas, como rompimentos do material.

Nesses casos, economizar no sistema elétrico gerará gastos no momento do consumo.

Também é possível prever economias, como a substituição do chuveiro elétrico por um com sistema de aquecimento solar. Essa tecnologia usa placas solares para aquecer a água por meio da radiação solar.

No modelo não há a geração de eletricidade, diferente das placas fotovoltaicas que também podem ser instaladas no telhado a fim de produzir eletricidade para o consumo doméstico.

Caso você vá comprar uma casa já finalizada, sem poder acompanhar o planejamento e a construção, os especialistas também dão algumas dicas de como escolher uma que tenha mais eficiência energética.

Leve uma bússola

Ao visitar um imóvel, seja casa, apartamento ou outro tipo de produto habitacional, leve uma bússola para entender quais espaços recebem luz solar a cada hora do dia. Por exemplo, se a visita foi agendada para o período da manhã, é comum que o interior esteja fresco, mesmo que haja sol direto. Entretanto, a fachada que estiver virada para o oeste receberá mais luz solar à tarde e, consequentemente, deixará aquele espaço mais aquecido.

Caso essa situação aconteça em um quarto ou espaço pequeno e sem ventilação, é possível que o ambiente precise de recursos extras para resfriá-lo, o que significa um aumento no consumo de energia.

Além de levar uma bússola, se possível, visite o imóvel em mais de uma hora do dia e dê preferência ao momento em que há maior incidência de luz solar nas fachadas e janelas.

Verifique a ventilação e a luz natural

Para que haja a circulação eficiente de ar, é necessário o sistema de ventilação cruzada. Abra as janelas e as portas e analise se há caminhos para os ventos entrarem e saírem do interior do imóvel.

Janelas que sejam inteiramente de vidro contribuem para a iluminação, porém podem superaquecer o ambiente interno se forem voltadas diretamente para o Sol em algum momento do dia. Por isso, venezianas são boas opções: ao serem fechadas, impedem a entrada de luz solar e continuam recebendo ventilação pelas frestas.

Analise o exterior

A cor das partes exteriores vai influenciar na absorção de calor do imóvel. Caso a compra seja uma casa e as paredes externas sejam escuras, é possível pintá-las. Entretanto, essa mudança é mais difícil em apartamentos, por existirem normas de padronização das fachadas.

Outro ponto é a vegetação. Plantas ajudam a diminuir a temperatura do ambiente por gerarem sombra, absorverem a radiação solar e usá-la como alimento, deixando o ambiente mais fresco.

Árvores caducas (que perdem suas folhas no inverno) são excelentes opções para sombreamento do exterior dos imóveis, pois no verão apresentam folhagem densa e projetam sombra. Já no inverno, elas permitem a passagem da luz solar.





Leia Mais: Folha

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Bannon vs Musk: Como a reviravolta de Trump nos vistos H-1B dividiu o MAGA | Notícias de Donald Trump

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Bannon vs Musk: Como a reviravolta de Trump nos vistos H-1B dividiu o MAGA | Notícias de Donald Trump

Dias antes de Donald Trump tomar posse como presidente dos Estados Unidos, explodiu uma disputa entre seus aliados tecnológicos e os defensores de sua agenda de extrema direita MAGA (Make America Great Again) sobre os vistos H-1B.

O ex-conselheiro da Casa Branca Steve Bannon acusou Elon Musk de tentar estabelecer “tecno-feudalismo em escala global” em um novo ataque contra o empresário bilionário esta semana.

A retórica dura de Bannon contra o controverso programa de vistos, que permite a contratação de trabalhadores tecnológicos altamente qualificados vindos do estrangeiro, surgiu num momento em que outros na órbita de Trump, como o empresário Vivek Ramaswamy, também tentaram argumentar que as empresas norte-americanas precisam de funcionários estrangeiros treinados.

Esse argumento foi criticado não apenas por Bannon, mas também por outros apoiantes de extrema-direita de Trump – mesmo quando Musk e Ramaswamy, a quem Trump encarregou de cortar gastos governamentais na sua nova administração, suavizaram agora a sua posição sobre o H-1B. vistos. Após a reação negativa, os barões da tecnologia disseram que o programa precisa ser reformado.

Mas qual é o esquema H-1B que está a dividir os aliados de Trump? Por que é tão divisivo? A reviravolta de Trump nesta questão contribuiu para tensões dentro do movimento MAGA? E como irá Trump gerir a divisão entre a sua base MAGA e as Big Tech – um setor que tradicionalmente se inclinava para os Democratas, mas que nas últimas semanas quase se curvou para apaziguar o novo presidente?

Trump deu uma reviravolta nos vistos H-1B?

O H-1B é um visto americano temporário e de não-imigrante que permite que empresas nos EUA tragam trabalhadores altamente qualificados do exterior.

Em 2016, Trump classificou o programa, que foi introduzido na década de 1990 sob o presidente republicano George HW Bush, como “muito, muito mau” para os trabalhadores norte-americanos.

Meses antes do final do seu primeiro mandato como presidente em 2020, Trump impôs uma proibição temporária aos vistos H-1B, que mais tarde foi anulada por um tribunal federal.

Mas menos de cinco anos depois, o presidente eleito dos EUA deu todo o seu peso ao esquema de vistos, dizendo: “É um excelente programa”.

“Tenho muitos vistos H-1B em minhas propriedades. Acredito no H-1B”, disse ele ao New York Post.

Esses comentários surgiram em um momento em que Musk enfrentava resistência dos apoiadores do MAGA.

Musk desempenhou um papel fundamental na vitória de Trump ao injetar dinheiro na campanha presidencial e usar o X para megafonar as opiniões linha-dura do MAGA. Isso lhe rendeu a boa vontade e a influência de Trump.

Mas Trump rejeitou a noção de que Musk goza de uma influência descomunal. “E não, ele não vai assumir a presidência”, disse Trump durante um discurso em dezembro, dias depois de o proprietário da Tesla ter liderado esforços para anular um projeto de lei de gastos no Congresso.

Especialistas dizem que Trump terá de gerir um equilíbrio delicado entre a elite do Vale do Silício, de quem ele precisa para os seus planos de criação de empregos, e a base MAGA, de onde ele tira o seu apoio político.

O que é um visto H-1B – e quais empresas se beneficiam mais?

O H-1B é “o maior programa de visto de trabalho temporário” nos EUA, disse Jeanne Batalova, analista política sênior do Migration Policy Institute, um think tank com sede em Washington, DC.

Há um limite anual para o número de vistos H-1B garantidos, definido em 65.000 vistos H-1B por ano fiscal. É decidido por um sistema de loteria, que seleciona aleatoriamente quando o número de petições de visto excede o limite.

O trabalhador estrangeiro deverá exercer atividade especializada com, no mínimo, bacharelado. O empregador patrocina trabalhadores estrangeiros das áreas de tecnologia da informação, medicina e publicação. O visto é concedido por três anos, mas pode ser estendido para seis anos.

As empresas tecnológicas americanas e indianas – e algumas empresas de consultoria – dominam o esquema. Seis dos 10 principais beneficiários do esquema em 2024 eram empresas dos EUA, de acordo com a National Foundation for American Policy (NFAP), um grupo de reflexão apartidário sobre comércio e imigração: Amazon, Cognizant, IBM, Microsoft, Google e Meta. Três são indianas: Infosys, TCS e HCL. A Capgemini, empresa francesa de tecnologia e consultoria, completa a lista.

Mas há outro novo e importante beneficiário do esquema, de acordo com os dados do NFAP: a Tesla, gigante dos automóveis eléctricos de Musk. Em 2024, a Tesla ganhou 742 novos vistos H-1B por meio da loteria, mais que o dobro dos 328 que obteve em 2023. Além disso, a Tesla teve outros 1.025 vistos H-1B existentes prorrogados em 2024.

“Devido às limitações de dados, não temos uma boa noção do total de portadores de visto H-1B atualmente nos EUA. No entanto, em 2019, perto de 600.000 imigrantes altamente qualificados trabalhavam na economia dos EUA com vistos H-1B. Aproximadamente 120.000 trabalhadores imigrantes receberam novos vistos H-1B em 2024”, disse Batalova.

No entanto, não são apenas os defensores do MAGA que criticam o esquema.

Ronil Hira, professor associado do Departamento de Ciência Política da Howard University, disse que o programa H-1B precisa ser reformado. Os problemas que afectam o programa, disse ele, incluem o fraco processo de selecção, onde “os padrões de elegibilidade são demasiado baixos, pelo que a lotaria de candidaturas fica inundada”, e “os vencedores dos vistos são seleccionados por sorteio em vez de critérios racionais”.

Qual é a discussão sobre os vistos H-1B?

A recente discussão começou quando a teórica da conspiração de extrema-direita Laura Loomer criticou a escolha de Trump para conselheiro de inteligência artificial (IA), Sriram Krishnan, que argumentou que os EUA precisam de mais trabalhadores estrangeiros qualificados para se manterem competitivos nas indústrias tecnológicas.

Em 28 de dezembro, Musk ameaçou “ir à guerra” por causa do assunto.

“A razão pela qual estou na América junto com tantas pessoas críticas que construíram a SpaceX, a Tesla e centenas de outras empresas que tornaram a América forte é por causa do H-1B”, postou Musk.

Musk nasceu na África do Sul e já possuía um visto H-1B antes de se naturalizar cidadão americano.

Ramaswamy aproveitou o debate, dizendo que as empresas de tecnologia contratam funcionários estrangeiros devido a uma diferença de cultura.

“Uma cultura que celebra a rainha do baile em vez do campeão da olimpíada de matemática, ou o atleta em vez do orador da turma, não produzirá os melhores engenheiros”, escreveu ele, sem mencionar o visto H-1B.

Mas mais tarde ele esclareceu que o sistema H-1B “está muito quebrado (e) deveria ser substituído”.

Bannon, que serviu no mandato anterior de Trump, chamou o programa H-1B de “fraude total”, pois permite que as empresas de tecnologia tragam mão de obra barata do exterior às custas dos trabalhadores americanos. Ele pediu a deportação de portadores de visto H-1B como parte dos planos mais amplos de deportação.

Ele criticou particularmente Musk, dizendo que o “único objetivo do proprietário da Tesla é tornar-se um trilionário. Esse é o objetivo dele”, Bannon disse ao jornal italianoCorriere della Sera, em 8 de janeiro

“Ele fará qualquer coisa relacionada para garantir que qualquer uma de suas empresas esteja protegida ou tenha um negócio melhor ou que ganhe mais dinheiro. A sua agregação de riqueza e depois – através da riqueza – o poder: é nisso que ele se concentra. Os trabalhadores americanos neste país não vão tolerar isso.”

Batalova explicou que a imigração tem sido uma área política controversa nos EUA. Existem “duas perspectivas existenciais disputando os corações e mentes do público e dos eleitores americanos”, disse ela.

Ela elaborou que uma perspectiva vê os trabalhadores imigrantes, como aqueles com vistos H-1B, como contribuintes para o poder económico dos EUA e para a competitividade global. A outra perspectiva vê os trabalhadores imigrantes como concorrentes por empregos e recursos económicos limitados.

Batalova acrescentou que esta luta ressurgiu, neste momento, e é “alimentada em grande parte pelo descontentamento dos eleitores sobre a forma como o governo lidou com a imigração após a pandemia da COVID-19, mas também por discussões sobre segurança económica e competitividade nacional, particularmente no que diz respeito à China”.

“As principais empresas tecnológicas e grupos empresariais continuam a fazer lobby para a expansão do programa, argumentando que é crucial para manter a vantagem inovadora da América. No entanto, as demissões no setor tecnológico, combinadas com casos de substituição de trabalhadores em diversas empresas, forneceram munição para os críticos do H-1B.”

Quem mais criticou o H-1B?

As críticas ao visto H-1B também vieram da esquerda.

Em 29 de dezembro, o representante democrata Ro Khanna disse à Fox News que o H-1B precisava ser reformado.

“Você não pode pagar menos que essas pessoas do H-1B que chegam”, disse Khanna. O programa “não deveria ser para contadores ou empregos iniciantes em TI. Realmente deveria ser para talentos excepcionais. Deveríamos ter esse equilíbrio”.

O senador de Vermont, Bernie Sanders, também criticou o programa de vistos H-1B. “A principal função do programa de visto H-1B não é contratar ‘os melhores e mais brilhantes’, mas sim substituir empregos americanos bem remunerados por empregados contratados estrangeiros de baixos salários”, postou ele no X.

Quem são os portadores do visto H-1B?

Cerca de 70% dos beneficiários do visto H-1B são da Índia e outros 10% são da China.

À medida que o debate se intensifica nos EUA, algumas empresas tecnológicas retiraram ofertas de emprego a trabalhadores indianos, de acordo com uma reportagem do jornal indiano Times of India.

Mas o Ministério das Relações Exteriores da Índia argumentou que os vistos H-1B beneficiam ambos os países.

“Os laços económicos Índia-EUA beneficiam muito do conhecimento técnico fornecido por profissionais qualificados, com ambos os lados a alavancar os seus pontos fortes e valor competitivo. Esperamos aprofundar ainda mais os laços económicos entre a Índia e os EUA, o que é para nosso benefício mútuo”, disse Randhir Jaiswal, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia, durante uma conferência de imprensa em 3 de Janeiro.

Trump suavizou outras questões de imigração?

As promessas de campanha de Trump durante as eleições incluíram uma política de imigração linha-dura. Ele ameaçou realizar a deportação em massa de imigrantes indocumentados e aumentar a segurança na fronteira para impedir a entrada de requerentes de asilo no país.

Um mês depois de ter sido eleito, ele disse a Kristen Welker, da NBC, em um episódio do Meet the Press, que planeja acabar com a cidadania por primogenitura nos EUA, uma política que está em vigor há mais de 150 anos. O direito é garantido na Décima Quarta Emenda da Constituição dos EUA.

No entanto, durante a entrevista, o presidente eleito disse que estava disposto a trabalhar com os democratas para manter “Sonhadores”pessoas sem documentos que chegaram aos EUA ainda crianças e viveram no país a maior parte de suas vidas.

Quando se trata do visto H-1B no segundo mandato de Trump, “ninguém sabe o que Trump fará. Ele não fez nada no seu primeiro mandato, embora tenha feito campanha para reformar o programa. Foi uma promessa flagrantemente não cumprida”, disse Hira, da Howard University.

“Os republicanos controlam o Congresso (tanto a Câmara como o Senado) e a Casa Branca, por isso têm o poder de mudar o programa para melhor ou para pior, ou manter o status quo. Irão exercer esse poder para a mudança? Cálculos políticos internos ditarão a direção que tomarão.”

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Agence France-Presse e empresa francesa Mistral assinam acordo

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Agence France-Presse e empresa francesa Mistral assinam acordo

Na sede da Mistral AI, em Paris, 15 de janeiro de 2025.

Esta é a primeira vez para a Agence France-Presse (AFP). A agência anunciou na quinta-feira, 16 de janeiro, que chegou a um acordo com a empresa de inteligência artificial (IA) Mistral – também francesa – que permitirá ao robô conversacional da start-up utilizar despachos de notícias para responder às solicitações dos seus utilizadores.

Nem o montante nem a duração deste contrato “plurianual” não foram revelados. Este é também o primeiro acordo deste tipo para a Mistral AI, concorrente de gigantes americanos como a OpenAI (designer da ferramenta ChatGPT), que pretende tornar-se o principal player europeu em IA.

Este acordo fornecerá à AFP “um novo fluxo de renda”sublinhou o CEO da agência, Fabrice Fries. Para Mistral, “a AFP fornece uma fonte jornalística verificada, que consideramos muito importante”segundo o chefe da start-up, Arthur Mensch.

Este tipo de acordo continua a ser relativamente raro, mesmo que as coisas tenham acelerado em 2024. A maioria diz respeito atualmente à OpenAI. A empresa californiana assinou notavelmente com O mundobem como com o jornal económico britânico Tempos Financeirosou o grupo alemão Springer (Foto).

Arquivos acessíveis até 1983

A partir de quinta-feira, os despachos da AFP em seis idiomas – francês, inglês, espanhol, árabe, alemão, português – poderão ser utilizados pelo robô conversacional da Mistral, denominado “Le Chat”. Funciona como o ChatGPT, que popularizou essas ferramentas entre o público em geral: o usuário faz uma pergunta que ele responde em poucos segundos.

Quando a questão for relativa à atualidade, o Le Chat formulará as suas respostas através dos despachos da AFP, ou seja, as informações enviadas em forma de texto pela agência aos seus clientes assinantes (meios de comunicação, instituições, empresas, etc.). Inicialmente ocorre uma fase de testes, com apenas alguns dos usuários.

Le Chat pode recorrer a todos os arquivos de texto da agência desde 1983, mas não às suas fotos, vídeos ou infográficos. No total, isso representa 38 milhões de despachos, produzidos a uma taxa de 2.300 por dia, segundo Fries. Segundo ele, esse uso visa “profissões liberais, executivos de grandes empresas”por exemplo para “preparar memorandos” ou qualquer documento relacionado a eventos atuais.

No público em geral, muitas pessoas têm usos diferentes para essas ferramentas generativas de IA. Eles o utilizam para questões cotidianas, às quais esses programas respondem extraindo elementos da internet.

O mundo

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Os dois usos “são complementares”estimou o Sr. Mensch. Para perguntas “que exigem informações verificadas, é a AFP quem irá fornecer” o material básico das respostas e, quando as dúvidas se relacionarem “nas compras ou no clima, por exemplo, é mais a web”ele explicou.

Fim do programa de verificação de fatos Meta

Esta assinatura surge pouco depois do anúncio do grupo Meta (Facebook, Instagram) da cessação nos Estados Unidos do seu programa de fact-checking, a verificação de informação. Globalmente, a AFP está na vanguarda deste programa.

Leia também | Artigo reservado para nossos assinantes O fim das parcerias de verificação de fatos na Meta, uma reviravolta simbólica

“Nossas discussões com Mistral começaram há pouco ano, portanto não estão relacionadas com a decisão da Meta”afirmou o Sr. Fries, alegando que seu “estratégia de diversificação” com as plataformas digitais enquanto os meios de comunicação tradicionais são atingidos por uma grave crise.

Em 2023, a AFP obteve lucro pelo quinto ano consecutivo, com um resultado líquido de 1,1 milhões de euros, segundo números publicados em abril de 2024. Além das receitas comerciais, a AFP recebe do Estado francês uma compensação pelos custos associados à as suas missões de interesse geral (113,3 milhões de euros em 2023).

Ao contrário de outros acordos deste tipo, o conteúdo da AFP não será utilizado para treinar e fazer avançar os modelos informáticos da Mistral, garantiram ambas as partes. Esses conteúdos são “um módulo que se conecta ao nosso sistema e pode ser desconectado” quando o contrato expirar, disse Mensch.

“Não se trata de um pagamento pelo saldo de qualquer conta, como costuma acontecer nos modelos de acordos de formação, mas sim pelo desenvolvimento de rendimentos recorrentes”argumentou o Sr. Fries.

Leia também a entrevista | Artigo reservado para nossos assinantes “O conteúdo usado para treinar IA tem valor e preço”

O mundo com AFP

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Jão encerra turnê em SP neste sábado (18) – 15/01/2025 – Shows

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Jão encerra turnê em SP neste sábado (18) - 15/01/2025 - Shows

Laura Lopes, Francielle Souza

Entre os dias 17 e 23 de janeiro, São Paulo recebe uma agenda musical com muitos destaques. No sábado (18) e domingo (19), o finalista do The Voice Brasil, Ayrton Montarroyos, apresenta seu novo espetáculo no Sesc Pompeia. Enquanto Jão encerra a “Super Turnê”, no Allianz Parque e a banda Fresno revive clássicos da carreira, além de mostrar novas composições no Terra SP.

Confira os principais shows da semana a seguir:

Shows

Ayrton Montarroyos

Finalista do The Voice Brasil, o recifense apresenta “A Lira do Povo”, seu novo espetáculo. O cantor explora a cultura do homem brasileiro, além de suas relações com o sertão, a cidade e o mar. No palco, traz o folclore, a oralidade e histórias de pescador.

Sesc Pompeia – r. Clélia, 93, Água Branca, região oeste. Sáb. (18), às 21h. Dom. (19), às 18h. Ingr.: a partir de R$ 18 em Sescsp


Claudette Soares Canta Chico

O repertório abrange décadas da obra de Chico, pela voz da cantora. Traz composições importantes, como “Carolina”, “Todo Sentimento” e “Futuros Amantes”, além de “Realejo”, uma música que Claudette lançou nos anos 60 e nunca mais cantou.

Casa de Francisca- r. Quintino Bocaiúva, 22, Sé, região central. Sáb. (18), às 22h. Ingre.: a partir de R$ 80 em Pixel Ticket


Fresno

A banda de rock brasileira, formada por Lucas Silveira, Gustavo Mantovani e Thiago Guerra, toca clássicos da carreira e canções do álbum “Eu Nunca Fui Embora” (2024). “Quando o Pesadelo Acabar”, “Quebre as Correntes” e “Camadas” podem aparecer no setlist.

Terra SP – av. Salim Antônio Curiati, 160, Campo Grande, região sul. Sáb. (18), à 0h. Ingr.: a partir de R$ 85 em Fever

Humamente Lvcas

Lucas Inutilismo, conhecido por produzir vídeos de retrospectivas musicais no YouTube, toca seu álbum de estreia “Humanamente” (2024), que traz referências de metal. O repertório deve incluir “Sem Controle”, “No Foco” e “Te espero Aqui”.

Audio – av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca, região oeste. Qui. (23), às 21h. Ingr.: a partir de R$ 85 em Ticket360


Jão

O cantor encerra a “Super Turnê”, que percorreu o país em arenas, e traz canções de todas as fases de sua carreira, com os albuns “Lobos” (2018), “Anti-Herói” (2019), “Pirata” (2021) e “Super” (2023). No setlist, devem aparecem as músicas “A Rua”, “Essa Eu Fiz para o Nosso Amor”, “Meninos e Meninas” e “Alinhamento Milenar”.

Allianz Parque – av. Francisco Matarazzo, 1.705, Água Branca, região oeste. Sáb. (18). Camarotes a partir de R$ 1.470 em Backstage Mirante


Lil Darkie

O americano, nome artístico de Joshua Jagan Hamilton, vem ao Brasil pela primeira vez no Cine Joia. Em São Paulo, o artista, também fundador dos grupos Gunk Rock e Spider Gang, traz músicas que misturam rap, trap, punk e metal.

Cine Joia – pça. Carlos Gomes, 82, Liberdade, região central. Dom. (19), às 20h30. Ingr.: a partir de R$ 320 em Sympla


Nayra Lays

No espetáculo, a artista canta músicas do primeiro álbum, “Feita de Samba”, e releituras de grandes referências. A apresentação mescla a música preta paulistana contemporânea, com destaque ao pagode e ao samba rock.

Sesc Ipiranga- r. Bom Pastor, 822, Ipiranga, região sul. Sex. (17), às 20h. Ingr.: a partir de R$ 18 em Sescsp





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