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DNA antigo ajuda a compreender extinção das espécies – 03/01/2025 – Ciência

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Ana Bottallo

Estudos evolutivos a partir do DNA das espécies já são conhecidos desde meados dos anos 1970, com as primeiras técnicas para leitura de material genético. Com uma sequência de letrinhas (algumas centenas ou milhares de pares de bases, dependendo do fragmento do DNA em questão), é possível identificar a origem e relações de parentesco das espécies, isto é, montar suas “árvores genealógicas”.

O que não é tão novo assim é o emprego dessas ferramentas para o estudo de organismos já extintos, uma vez que o material genético é facilmente degradado no processo de fossilização.

O advento de novas ferramentas de sequenciamento genético, contudo, ajudou a mudar esse cenário. Com o aprimoramento de técnicas para recuperar, isolar e analisar fragmentos de DNA antigo preservados, surge a área conhecida como arqueogenética. Nesta técnica, a extração é feita a partir da destruição dos ossos, gerando um pó que depois é purificado para conseguir obter o DNA de interesse.

“Essas abordagens tornaram possível sequenciar genomas antigos inteiros, expandindo o alcance geográfico e temporal das espécies das quais o DNA pode ser analisado e até mesmo tornaram possível caracterizar ecossistemas completos usando DNA preservado em sedimentos”, explica Beth Shapiro, bióloga evolucionista e professora do departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.

Shapiro atuou, nos últimos 20 anos, com o processo de extração de plantas e animais extintos na última Era Glacial, como o mamute-lanoso, e foi recentemente contratada pela empresa Colossal Biosciences com o objetivo de trazer de volta à vida espécies já extintas, como o dodô, a partir da inserção de seu DNA em organismos atuais.

Segundo ela, algumas das descobertas das últimas décadas com DNA antigo incluem o conhecimento do cruzamento de espécies antes consideradas distintas, como ursos pardos e ursos polares, e a detecção de que mais de 93% do genoma neandertal persiste em populações modernas de hoje —este último estudo rendeu ao cientista sueco, Svante Pääbo, do Instituto Max Planck, o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2022.

Mas especialistas vêm usando a arqueogenética também para compreender a história de organismos não tão antigos assim, como povos primitivos das Américas, ou ainda espécies que se extinguiram recentemente devido à degradação ambiental.

Foi pensando nisso que pesquisadores da USP montaram o primeiro laboratório de DNA antigo do Brasil. A universidade concentra hoje dois laboratórios onde são empregadas técnicas para extração e análise de material genético antigo ou hDNA (de histórico).

André Strauss, coordenador do Laaae (Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental e Evolutiva) do Museu de Arqueologia e Etnologia da universidade, busca compreender quatro linhas distintas de pesquisa: a origem dos primeiros americanos, a migração pelo litoral, os povos tradicionais da Amazônia e os do norte do Peru.

“A arqueogenética é um exemplo clássico de uma ideia que parece óbvia, mas que na prática é bem difícil de fazer funcionar. As técnicas que utilizamos levaram anos para serem aprimoradas, porque o DNA antigo é ‘podre’, então as técnicas tradicionais de sequenciamento não funcionam”, diz.

Para isso, as técnicas empregadas são de destruição de fragmentos de fósseis humanos encontrados nessas regiões, como ossos e dentes, até obter um pó, que aumenta a área de superfície disponível para “pegar” o material genético.

“Basicamente, temos um DNA que fica suspenso no líquido e esse líquido é usado para fazer a extração, amplificação [técnica que produz um maior número de cópias do DNA para a leitura] e sequenciamento genético”, diz. A principal dificuldade aqui é manter o material isolado de possível contaminação humana, por isso são seguidos protocolos rígidos de segurança biológica –como nos laboratórios onde são estudados vírus e bactérias.

Já a outra frente de estudos com DNA antigo na USP busca compreender como a ação humana e a fragmentação de habitat podem impactar espécies endêmicas de animais.

No Laboratório de hDNA do Departamento de Zoologia da USP, coordenado pelo professor Taran Grant, é feita a extração do material genético de anfíbios preservados em coleções científicas há algumas dezenas até centenas de anos. Neste caso, não é o tempo de conservação do material que conta, como nos fósseis, mas sim a preservação inadequada.

“A preservação ideal do DNA é em álcool 95%, ou seja, com uma concentração elevada de álcool e pouca água, e depois mantido em freezers de -20 °C a -70 °C. Mas a maioria dos exemplares nas coleções foi primeiro fixado em formol [concentração baixa de formaldeído] e depois preservado em álcool 70% [alta concentração de água] em temperatura ambiente e, nessas condições, o DNA está em situações bem precárias, porque a água degrada o material genético e o próprio formol induz modificações na cadeia de DNA”, explica. “Por essa razão, as técnicas tradicionais de sequenciamento não funcionam.”

O uso dos equipamentos e técnicas empregadas na arqueogenética permitem extrair o máximo de material genético destes exemplares já degradados para responder, essencialmente, a duas perguntas: a diversidade dos anfíbios e as mudanças temporais nas populações que podem ter levado à extinção de espécies.

Ele cita o caso de um sapinho diminuto endêmico da mata atlântica, conhecido popularmente como rã-foguete (Allobates olfersioides). Tradicionalmente, os cientistas consideravam as diferentes populações como uma única espécie em toda a sua área de distribuição. “Quando você olha as diferentes populações de Allobates, eu não consigo diferenciá-las morfologicamente. Mas chegamos ao resultado de pelo menos 12 espécies distintas, várias delas já extintas, usando os dados de hDNA de exemplares preservados em museus.”

Um exemplo é a população originária da Floresta da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, e que era considerada uma subespécie de A. olfersioides. Mas nenhum indivíduo de rã-foguete foi visto na Tijuca desde a década de 1970. “Agora, sabemos que era uma espécie distinta, A. carioca, e que foi provavelmente extinta por destruição do habitat.”

Para ele, os estudos sendo feitos com DNA antigo podem ajudar a entender como as ações humanas e, mais recentemente, as mudanças climáticas, podem impactar as diferentes espécies na natureza. “Primeiro, precisamos resolver essas questões da taxonomia [delimitação de espécies]. Compreendendo melhor essa diversidade passada e a atual podemos, então, planejar o futuro para proteger a biodiversidade que ainda existe.”



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MUNDO

Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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