POLÍTICA
É sempre mais fácil culpar as mulheres

PUBLICADO
5 meses atrásem
Matheus Leitão
Na minha vida e na minha atuação feminista, esta história começou em 2018.
Sob a ameaça de o Brasil eleger um presidente declaradamente misógino, cujo ideário se construía em torno de um discurso de hipermasculinidade (para citar algumas temáticas: ode ao porte de armas, defesa do papel tradicional das mulheres na relação conjugal, descaso com o assassinato de Marielle Franco), muitas mulheres fomos às ruas, acompanhadas ou não de homens, mas puxando o movimento que teve seu ápice na passeata do “Ele Não”. No dia 30 de setembro de 2018, em todo o Brasil, milhares; milhões ocupamos as praças e avenidas.
O que aconteceu pouco depois, é fácil de lembrar: Jair Bolsonaro derrotou Fernando Haddad nas urnas e passamos quatro anos aturando não apenas ele e os seus, bem como uma ministra das mulheres contrária a políticaspara mulheres. Mas não somente isso. Nos quatro anos seguintes, tivemos de lidar com a mesma suspeição, com jeito de acusação, por parte dos nossos em perguntas que nos chegavam em qualquer palestra ou entrevista de que participávamos: “Você não acha que o Ele Não foi crucialpara a eleição de Bolsonaro?”
Bolsonaro, assim, seria o retrato do backlash, a reação a uma dinâmica em que um grupo pedia por seus direitos.
Li e ouvi isso vindo de jornalistas, cientistas políticos, amigos e sei lá mais de quem. Diante da incredulidade sobre como o Brasil permitiu que um candidato afeito à ditadura fosse eleito, muitos optaram pela saída simples: a culpa é dos “identitários”; mulheres, pessoas negras, LGBTQIAP+. Desde aquela época, o argumento era o mesmo: a “política identitária” causou a nossa derrota porser desagregadora, diferentemente das grandes demandas de classe.
Na recente eleição de Trump para um novo mandato, eis que voltamos a ouvir mais um monte de vezes “a culpa é do identitarismo”. Não me arrisco a entrar no debate sobre eleições nos Estados Unidos, uma vez que pouco conheço sobre o assunto, entretanto, uma vez que o argumento ganha novamente espaço no Brasil, retorno também a ele.
No caso brasileiro, existem duas maiorias contundentes: mulheres (de acordo com o último censo, 51,5% da população) e pessoas negras (56%). Se ambos os grupos majoritários se tornam minorias nos espaços de poder (na Câmara Federal, respectivamente, 18% e 26%), recebemsistematicamente salários menores e, no caso das pessoas negras, sofrem em escala muito maior com a violência policial, é mais que esperado que esses grupos se organizem politicamente, justamente para pedir por taisdireitos que lhes estão sendo negados.
Focando especificamente no caso das mulheres e do feminismo, em toda a história, a sua agregação se deu muito mais por esse caminho (a ausência de poder que as mulheres têm na sociedade por serem classificadas como mulheres) do que por conta de questões de identidades, ou seja, de características suas consideradas inatas. Não nos reunimos porque temos órgãos sexuais e reprodutivos os quais se categorizam como femininos, mas, sim, porque, ao apresentarmos essas características, somos vítimas de uma série de violências, assim como nos são limitadosinúmeros direitos.
Querer utilizar o discurso de que se trata de uma disputa política de segundo escalão por “identitária” demonstra ignorância sobre a natureza desses movimentos, bem como de sua atuação, a qual se localiza, de forma inegável, no espaço da disputa política.
Grupos em situação de vulnerabilidade – e aqui não pretendo elencar maiores ou menores – têm todo o direito de se organizar, inclusive apoiando uns aos outros (ou se interseccionando, ou seja, trabalhando conjuntamente diferentes vulnerabilidades).
Seja no Brasil ou nos Estados Unidos, jogar a culpa pela derrota da esquerda nas mulheres, no feminismo ou no movimento negro é negar o direito de reivindicação de maiorias vulnerabilizadas, bem como simplificar o que constrói as preferências do eleitorado. Mais que isso: é argumentar que a única perspectiva válida e não “identitária” é a luta que se constrói em torno das preferências dos homens brancos, aqueles que, à direita e à esquerda, ainda controlam o poder político em ambos os países.
* Débora Thomé é cientista política, pesquisadora da FGV/Cepesp. Autora de “Mulheres e Poder” (FGV Editora)
Relacionado
POLÍTICA
Mario Sarrubbo é o próximo entrevistado do Amarela…

PUBLICADO
1 hora atrásem
7 de abril de 2025
Marcela Rahal
O secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Mario Sarrubbo, é o convidado desta segunda-feira, 7, do Amarelas On Air, programa de entrevistas de VEJA. O secretário será abordado sobre as ações que o governo federal tem feito na área, considerada uma das principais preocupações dos brasileiros, segundo pesquisas recentes.
O Palácio do Planalto vai enviar em breve a PEC da Segurança Pública ao Congresso Nacional que vai funcionar como uma espécie de SUS com informações compartilhadas entre todas as polícias. Sarrubbo também deve avaliar a decisão do STF sobre a ADPF das Favelas que prevê uma série de regras para o combate a letalidade policial.
Além disso, o secretário vai falar sobre as ações relacionadas ao crime organizado nos presídios, tráfico de drogas na região amazônica e uma proposta que o governo lançou para reduzir o número de roubo de celulares.
O Amarelas On Air, apresentado por Marcela Rahal, inspirou-se nas tradicionais Páginas Amarelas, que estampam a edição impressa de VEJA. O programa sempre recebe um nome relevante da cena política e econômica.
A entrevista será transmitida simultaneamente no YouTube, Facebook e Twitter. Também ganhará versões para Instagram e LinkedIn.
Inscreva-se nos canais de VEJA nas redes sociais e fique por dentro de tudo sobre o novo programa.
YouTube: https://www.youtube.com/c/veja
Facebook: https://www.facebook.com/Veja/
Instagram: https://www.instagram.com/vejanoinsta/
Leia mais sobre o Amarelas On Air e sobre bastidores da política nacional:
Relacionado
POLÍTICA
Motta e Alcolumbre acertam volta de comissões de m…

PUBLICADO
2 horas atrásem
7 de abril de 2025
Nicholas Shores
Um acordo entre os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), vai permitir a volta das comissões mistas de medidas provisórias (MPs).
Nesta semana, o primeiro colegiado a ser instalado vai se debruçar sobre a MP 1.290 de 2025, que permite que trabalhadores que optaram pelo saque-aniversário FGTS e tiveram seus contratos de trabalho encerrados ou suspensos desde janeiro de 2020 possam movimentar suas contas vinculadas.
Segundo o acerto entre Motta e Alcolumbre, todas as MPs anteriores a essa que ainda não foram analisadas devem ser transformadas pelo governo Lula em projetos de lei de iniciativa do Executivo acompanhados de pedidos de tramitação em regime de urgência.
A Constituição determina que, toda vez que o presidente da República publicar uma MP, o Congresso deverá instalar uma comissão formada por número igual de deputados e senadores para analisar e votar a proposta antes de ela seguir para cada um dos plenários das Casas.
Excepcionalmente durante a pandemia, o rito constitucional foi suspenso devido às restrições à aglomeração de parlamentares na sede do Legislativo federal.
Mas, em 2023, mesmo com o funcionamento do Congresso normalizado, o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), rejeitou a retomada das comissões mistas de medidas provisórias, inaugurando um conflito com Rodrigo Pacheco (PSD-MG), à época o chefe do Senado.
Só agora, dois anos depois, com o acordo entre Motta e Alcolumbre, é que a determinação da Constituição voltará a ser seguida.
Relacionado
POLÍTICA
Agora réu, Bolsonaro eleva pressão por anistia, ma…

PUBLICADO
11 horas atrásem
6 de abril de 2025
Da Redação
Em seu primeiro ato após virar réu no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro reuniu neste domingo, 6, na Avenida Paulista, governadores, parlamentares e familiares dos condenados no 8 de janeiro para elevar a carga sobre o Congresso em busca da aprovação do projeto que concede uma anistia aos participantes dos atentados.
Embora Bolsonaro afirme que não será beneficiado, aliados admitem que a anistia seria a primeira etapa na construção de algum tipo de salvo-conduto ao ex-presidente. Se for condenado pelo STF, ele pode pegar até 40 anos de prisão por crimes como tentativa de golpe e de abolição violenta do Estado democrático.
O movimento hoje é para que o Congresso dê aval a uma proposta que enquadre os manifestantes do 8 de janeiro apenas nos crimes de dano ou depredação, o que, se aprovado, enfraqueceria a acusação de que Bolsonaro liderou os atos do 8 de janeiro para dar um golpe e retomar o poder.
“Eu não tenho adjetivo para qualificar uma mãe de dois filhos a uma pena tão absurda por um crime que ela não cometeu. Só um psicopata para falar que aquilo que aconteceu no 8 de janeiro foi uma tentativa armada de golpe militar”, afirmou Bolsonaro. Ele recebeu sobre o carro de som familiares de Débora Rodrigues, presa após escrever de batom “Perdeu, mané” em uma estátua.
Voto a voto
Deputados bolsonaristas tentam convencer o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a pular etapas da tramitação e levar o projeto da anistia a votação diretamente no plenário. Para isso, é necessária a apresentação de um requerimento de urgência com a assinatura de pelo menos 257 deputados ou de líderes de partidos cujas bancadas somem esse número.
Até o momento, porém, o PL vem encontrando dificuldades em arregimentar os votos. Sobre o carro de som, o líder da legenda, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), afirmou ter conseguido a assinatura de 162 deputados. Ele disse que a partir desta segunda-feira, 7, vai divulgar o nome de todos os que já indicaram ser favoráveis à matéria. Numa contraofensiva, o parlamentar afirmou que também vai expor quem ainda está indeciso.
“Até quarta-feira nós teremos as 257 assinaturas, se Deus quiser. E aí será pautado, querendo ou não, na Câmara dos Deputados. Ninguém vai nos parar até que a anistia seja pautada”, disse Sóstenes.
Antes, o vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes, chamou todos os governadores presentes para indicar ao microfone que seus partidos são favoráveis ao projeto da anistia.
Estiveram no ato Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Mauro Mendes (União Brasil), de Mato Grosso; Ratinho Júnior (PSD), do Paraná; Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás e Wilson Lima (União Brasil), do Amazonas. A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), também compareceu.
Ataques a Hugo Motta
Eleito em fevereiro com o apoio da direita, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi alvo de ataques neste domingo. O pastor Silas Malafaia, organizador do evento, afirmou que Motta pediu aos líderes partidários para que não assinem a urgência ao projeto da anistia.
“Eu espero, Bolsonaro, [que] se Hugo Motta está assistindo isso aqui, que ele mude. Porque você, Hugo Motta, está envergonhando o honrado povo da Paraíba”, disse Malafaia.
Nos bastidores, o chefe da Câmara vem dizendo que acatará a decisão da maioria dos líderes. Ele, por outro lado, sinalizou a preferência por instalar uma comissão especial para analisar o tema – o colegiado foi criado ainda durante a gestão de Arthur Lira (PP-AL), mas, sem os membros indicados, seus trabalhos sequer tiveram início.
O Congresso, como se sabe, costuma guiar-se por pressões populares para dar andamento a temas espinhosos. Pesquisa Quaest divulgada neste domingo indicou que ainda há uma divisão notória sobre a anistia. Conforme o instituto, 56% dos brasileiros defendem que os participantes do 8 de janeiro continuem presos – o índice dos que defendem a soltura é de 34%.
Relacionado
PESQUISE AQUI
MAIS LIDAS
- POLÍTICA7 dias ago
Bolsonaro muda a narrativa. E se enrola ainda mais.
- ACRE7 dias ago
Com tripulação acreana, governo prestigia reinauguração de voo direto entre Rio Branco e São Paulo
- JUSTIÇA5 dias ago
Moraes manda PGR se manifestar sobre prisão de Bolsonaro
- Tecnologia5 dias ago
ChatGPT enfrenta instabilidade e fica fora do ar nesta quarta-feira (02)
Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48
You must be logged in to post a comment Login