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Éle Semog traz para a poesia todo sentido da luta negra – 30/10/2024 – Tom Farias

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Para a poesia negra, nada faz mais sentido do que uma produção militante. O poeta Éle Semog, ativista literário desde a década de 1970, que acaba de lançar “Todo Preto” (Ogum’s Toques Negros), é um desses autores –seu livro reúne sua produção entre 1977 e 2020.

Para quem conhece sua obra poética, bem como a forma combatente com que escreve seus poemas, sempre engajados à causa da negritude e às desigualdades provocadas pelo racismo, pode ter ideia do quanto seu livro tem força estética e perfila feito manifesto de causas sociais, direcionado a um protesto sentido na própria pele, frente a uma sociedade fundada na escravidão e exclusão do negro.

A poesia de Éle Semog se pauta no sujeito que, ao denunciar os males de um sistema marcado colonialmente, empresta sua voz com o fim de combater, como faz em “Duras Cicatrizes”, quando diz que as “rugas em meu rosto/proliferam como ave daninha/e os sonhos inúteis/que vejo em teu passado/me doem tanto que não tenho/forças para só te amar.”

Rejeita “tramas e tratados”, e “a paz/que você me oferece/para sermos vítimas/dessa dor obscura.” O mesmo se dá no belo poema “Variáveis de um estudo poético sobre fenômenos e/ou transformações decorrentes do trabalho humano”, onde formula, falando da “cor da emoção”, ou do “mal coletivo”, ou da “miséria indivisível” e, afinal, escreve, como em luta pela vida, que o “tempo comeu o corpo/para garantir o produto”, do mesmo modo que o “corpo do povo arde nesse caos/nesse inferno de dinheiro e explosão.”

Em “Todo Preto”, Semog reúne seus melhores livros de poesias, com poemas marcantes de sua carreira. Partindo do inovador “Ebulição da Escravatura” — coletânea que reúne outros 12 autores (1978) —, o poeta, cercando-se da sua “maturidade”, busca “muitos sentidos de escrever poemas”, traduzindo “a síntese do outro — o ser humano — e das coisas do mundo.”

À lista de bons livros, todos agora reunidos, acrescem o clássico “Atabaques” (1983); o emblemático “Curetagem” (1986); o maduro “A Cor da Demanda” (1997); o lúdico “Guarda pra Mim” (2015); a antologia “Poesia Negra – Poesia Afrobrasileira Presente”, lançada na Alemanha (1988), ano do centenário da abolição da escravatura no Brasil.

Cria do movimento negro, oriundo de Nova Iguaçu, e do subúrbio carioca, em Vila Valqueire e Bangu, Éle Semog está entre os poetas mais genuínos de sua geração, do tipo que empunhou megafones em praça pública, gritando poesia, na época do grupo “Garra Suburbana” e do jornal “Maioria Falante”, escrito e editado por ele, Ykenga, Krisnas e Togo Yoruba — o tambor que ecoa sua revolta e dor na forma de verso e prosa

Da mesma geração de José Carlos Limeira e Paulo Colina, trajetória de escrita marcada pelo canônico Oswaldo de Camargo, Semog é o tipo ubuntu —”sou porque somos” —, navegando, dentro da oralidade afro-brasileira, por dever de ofício, como alguém que não respira se não puder escrever.

Dono de uma narrativa pautada na sua negritude, Éle Semog é um digno construtor de aprendizados e de múltiplas consciências negras coletivas. Não lê-lo é deixar de beber na fonte de sua sabedoria poética.


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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

Os kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues aos atletas inscritos nesta quinta-feira, 23, das 9h às 17h, no Centro de Convivência (estacionamento B), campus-sede, em Rio Branco. O kit é obrigatório para participação na corrida e inclui, entre outros itens, camiseta oficial e número de peito. A 2ª Corrida da Ufac é uma iniciativa que visa incentivar a prática esportiva e a qualidade de vida nas comunidades acadêmica e externa.

 



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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, e a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, realizaram nessa quarta-feira, 15, no anfiteatro Garibaldi Brasil, uma atividade em alusão ao Dia dos Professores. O evento teve como objetivo homenagear os docentes da instituição, promovendo um momento de confraternização. A programação contou com o show de talentos “Quem Ensina Também Encanta”, que reuniu professores de diferentes centros acadêmicos em apresentações musicais e artísticas.

“Preparamos algo especial para este Dia dos Professores, parabenizo a todos, sou muito grata por todo o apoio e pela parceria de cada um”, disse Guida.

Ednaceli Damasceno parabenizou os professores dos campi da Ufac e suas unidades. “Este é um momento de reconhecimento e gratidão pelo trabalho e dedicação de cada um.”

O presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara, reforçou o orgulho de pertencer à carreira docente. “Sinto muito orgulho de dizer que sou professor e que já passei por esta casa. Feliz Dia dos Professores.”

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

O Parque Zoobotânico (PZ) da Ufac e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) realizaram o evento Diálogos de Saberes Ambientais: Compartilhando Experiências, nessa quarta-feira, 15, no PZ, em alusão ao Dia do Educador Ambiental e para valorizar o papel desses profissionais na construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a sustentabilidade. A programação contou com participação de instituições convidadas.

Pela manhã houve abertura oficial e apresentação cultural do grupo musical Sementes Sonoras. Ocorreram exposições das ações desenvolvidas pelos organizadores, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sínteses da Biodiversidade Amazônica (INCT SinBiAm) e SOS Amazônia, encerrando com uma discussão sobre ações conjuntas a serem realizadas em 2026.

À tarde, a programação contou com momentos de integração e bem-estar, incluindo sessão de alongamento, apresentação musical e atividade na trilha com contemplação da natureza. Como resultado das discussões, foi formada uma comissão organizadora para a realização do 2º Encontro de Educadores Ambientais do Estado do Acre, previsto para 2026.

Compuseram o dispositivo de honra na abertura o coordenador do PZ, Harley Araújo da Silva; a secretária municipal de Meio Ambiente de Rio Branco, Flaviane Agustini; a educadora ambiental Dilcélia Silva Araújo, representando a Sema; a pesquisadora Luane Fontenele, representando o INCT SinBiAm; o coordenador de Biodiversidade e Monitoramento Ambiental, Luiz Borges, representando a SOS Amazônia; e o analista ambiental Sebastião Santos da Silva, representando o Ibama.

 



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