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Eunice Prudente é 1ª mulher negra em academia jurídica – 10/11/2024 – Poder

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Vitória Macedo

Desde a infância, a professora e acadêmica Eunice de Jesus Prudente teve claras noções de comunidade e direitos humanos. Seus pais, o metalúrgico Joaquim José de Jesus e a tecelã Orlanda Carmo Jesus, frequentavam reuniões da juventude operária católica e discutiam questões sociais a partir do Evangelho segundo São Mateus. Ela, ainda criança, viu a importância do que era discutido.

Dessa experiência surgiu seu interesse pela política e questões raciais e sociais, temas que a acompanham em sua carreira no direito. “Na minha casa sempre se discutiam muito questões políticas, questões de igualdade”, diz ela, que nasceu no bairro da Mooca, região leste de São Paulo. “Essa falácia de que o Brasil é uma democracia racial, na minha casa não foi discutida assim, não. Sempre foram posicionamentos muito críticos.”

Esses pensamentos moldaram seu propósito no direito, principalmente na área de direitos humanos, fazendo com que profissionalmente buscasse a igualdade no exercício de direito para todas as pessoas.

Estudante de escola pública, Eunice também foi aprovada em história na USP (Universidade de São Paulo), mas foi a advocacia que a ganhou por completo. Ela se formou na Faculdade de Direito da instituição, onde também fez mestrado e dourado. Em 1980, defendeu a dissertação sobre preconceito racial e igualdade jurídica no Brasil. Depois, virou professora na instituição.

Em agosto deste ano, Eunice se tornou a primeira mulher negra a tomar posse na Academia Paulista de Letras Jurídicas, fundada em 2009, ocupando a cadeira de número 17 (de um total de quase 80). “Me sinto muito honrada em integrar esta academia”, afirma.

Ela espera que o cargo seja o prenúncio de um novo momento. “Na minha área de estudo e de trabalho tem muitas mulheres negras muito bem preparadas”, diz. “A gente espera que em outras instituições e que nas academias elas também estejam presentes nos postos de direção.”

Para ela, o segredo para que essas mulheres alcancem mais espaço nas instituições é a participação política intensa, além de atuação do movimento negro. Eunice participou da campanha para a nomeação de uma mulher negra para ocupar a vaga da ex-ministra Rosa Weber no STF (Supremo Tribunal Federal). A indicação do presidente Lula (PT) foi a do ministro Flávio Dino.

Defensora ferrenha da democracia, ela ressalta a importância da Constituição de 1988, a qual diz ser inclusiva. “Ela [a Constituição] tem o nosso semblante, porque ela veio de uma luta unificada de todos os movimentos sociais contra a ditadura”, afirma.

Aluna do jurista Dalmo de Abreu Dallari, que ela descreve como “um humanista que enfrentou a ditadura e lutou pelos direitos humanos”, Eunice recorda uma fala do professor que destacava a interseccionalidade de seus ideais: “claro que você levanta a bandeira do racismo, mas lembre-se que você também é mulher, você também vem de uma família trabalhadora. Há outras opressões nessa sociedade que precisam ser enfrentadas pelo direito”.

Segundo ela, os movimentos sociais já foram pouco informados sobre a questão de gênero e etnia. “Hoje não há sindicato, associação de trabalhadores, que não tenham mulheres e negros lutando pela igualdade.”

Ela afirma, por exemplo, que o debate de gênero dentro do movimento negro resultou na visibilidade do ativismo de intelectuais negras. Ganharam destaque nomes como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento e Sueli Carneiro. “O movimento negro se inspirou muito nessas mulheres e a visão delas são as práticas interseccionais. É uma maneira muito inteligente, real, de enfrentar questões sociais muito complexas”, afirma.

Além da carreira acadêmica, Eunice tem experiência em cargos políticos no estado e na cidade de São Paulo. Em abril deste ano foi nomeada secretária municipal de Desenvolvimento Econômico.

Como secretária, Eunice tem se reunido com pessoas do meio corporativo e empresários. “Há muita gente, muita associação compromissada com essa justiça social”, diz ela, referindo-se ao artigo 170 da Constituição, que versa sobre o compromisso com responsabilidade social que deve permear o empreendedorismo. “Ser um capitalista no Brasil é ver bem além do lucro”, diz.

Raio-X

Eunice de Jesus Prudente, 78. Nascida no bairro da Mooca, em São Paulo, é graduada em direito (1972), mestre (1980) e doutora (1996) pela Faculdade de Direito da USP, onde é professora de direito do Estado. Integrou o conselho da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), bem como a diretoria da Seção São Paulo e a diretoria da Escola Superior de Advocacia da OAB-SP. Atuou como diretora-executiva da Fundação Procon-SP (2006) e foi secretária de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo (2007-2008). Atualmente é titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico.



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PPG em Educação da Ufac promove 4º Simpósio de Pesquisa — Universidade Federal do Acre

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PPG em Educação da Ufac promove 4º Simpósio de Pesquisa — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou, nessa terça-feira, 18, no teatro E-Amazônia, campus-sede, a abertura do 4º Simpósio de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE). Com o tema “A Produção do Conhecimento, a Formação Docente e o Compromisso Social”, o evento marca os dez anos do programa e reúne estudantes, professores e pesquisadores da comunidade acadêmica. A programação terminou nesta quarta-feira, 19, com debates, mesas-redondas e apresentação de estudos que abordam os desafios e avanços da pesquisa em educação no Estado.

Representando a Reitoria, a pró-reitora de Pós-Graduação, Margarida Lima Carvalho, destacou o papel coletivo na consolidação do programa. “Não se faz um programa de pós-graduação somente com a coordenação, mas com uma equipe inteira comprometida e formada por professores dedicados.”

O coordenador do PPGE, Nádson Araújo dos Santos, reforçou a relevância histórica do momento. “Uma década pode parecer pouco diante dos longos caminhos da ciência, mas nós sabemos que dez anos em educação carregam o peso de muitas lutas, muitas conquistas e muitos sonhos coletivos.”

 

A aluna do programa, Nicoly de Lima Quintela, também ressaltou o significado acadêmico da programação e a importância do evento para a formação crítica e investigativa dos estudantes. “O simpósio não é simplesmente dois dias de palestra, mas dois dias de produção de conhecimento.” 

A palestra de abertura foi conduzida por Mariam Fabia Alves, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), que discutiu os rumos da pesquisa educacional no Brasil e os desafios contemporâneos enfrentados pela área. O evento contou ainda com um espaço de homenagens, incluindo a exibição de vídeos e a entrega de placas a professores e colaboradores que contribuíram para o fortalecimento do PPGE ao longo desses dez anos.

Também participaram da solenidade o diretor do Cela, Selmo Azevedo Apontes; a presidente estadual da Associação de Política e Administração da Educação; e a coordenadora estadual da Anfope, Francisca do Nascimento Pereira Filha.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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Consu da Ufac adia votação para 24/11 devido ao ponto facultativo — Universidade Federal do Acre

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A votação do Conselho Universitário (Consu) da Ufac, prevista para sexta-feira, 21, foi adiada para a próxima segunda-feira, 24. O adiamento ocorre em razão do ponto facultativo decretado pela Reitoria para esta sexta-feira, 21, após o feriado do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.

A votação será realizada na segunda-feira, 24, a partir das 9h, por meio do sistema eletrônico do Órgão dos Colegiados Superiores. Os conselheiros deverão acessar o sistema com sua matrícula e senha institucional, selecionar a pauta em votação e registrar seu voto conforme as orientações enviadas previamente por e-mail institucional. Em caso de dúvidas, o suporte da Secrecs estará disponível antes e durante o período de votação.

 



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Professora Aline Nicolli, da Ufac, é eleita presidente da Abrapec — Universidade Federal do Acre

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Professora Aline Nicolli, da Ufac, é eleita presidente da Abrapec — Universidade Federal do Acre

A professora Aline Andréia Nicolli, do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela) da Ufac, foi eleita presidente da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (Abrapec), para o biênio 2025-2027, tornando-se a primeira representante da região Norte a assumir a presidência da entidade.

Segundo ela, sua eleição simboliza não apenas o reconhecimento de sua trajetória acadêmica (recentemente promovida ao cargo de professora titular), mas também a valorização da pesquisa produzida no Norte do país. Além disso, Aline considera que sua escolha resulta de sua ampla participação em redes de pesquisa, da produção científica qualificada e do engajamento em discussões sobre formação de professores, práticas pedagógicas e políticas públicas para o ensino de ciências.

“Essa eleição também reflete o prestígio crescente das pesquisas desenvolvidas na região Norte, reforçando a mensagem de que é possível produzir ciência rigorosa, inovadora e socialmente comprometida, mesmo diante das dificuldades operacionais e logísticas que marcam a realidade amazônica”, opinou a professora.

Aline explicou que, à frente da Abrapec, deverá conduzir iniciativas que ampliem a interlocução da associação com universidades, escolas e entidades científicas, fortalecendo a pesquisa em educação em ciências e contribuindo para a consolidação de espaços acadêmicos mais diversos, plurais e conectados aos desafios educacionais do país.

 



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