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Lamentações e esperanças para o mundo – DW – 16/01/2025

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5 meses atrásem
Às vezes, quando o autor de “Esperança” escreve sobre a destruição da cultura cortês na Cúria e noutros lugares, ele soa como um jovem revolucionário católico declarando guerra à tradição. Ele lembra-nos que a Igreja Católica não é um tribunal, nem um lugar de nepotismo, e certamente não é o mais alto tribunal de uma monarquia absoluta.
Mas, claro, não estamos falando de um revolucionário. O autor deste livro tem 88 anos, mora no Vaticano e é líder da Igreja Católica. Papa Franciscoque já é chefe da Igreja há quase doze anos, publicou sua autobiografia. É um livro cheio de memórias e visões, uma história de tristeza quase terna e de afinidade sincera com todas as coisas humanas, de raiva juvenil e de grande esperança.
Esta é a primeira vez que o chefe da Igreja Católica publica uma obra tão pessoal durante a sua vida. Segundo a editora, a obra de 300 páginas está sendo publicada em dezenas de idiomas e em cerca de 100 países em todo o mundo.
Ano Santo 2025
No epílogo do livro, o coautor Carlo Musso, que trabalha no livro com Francisco desde 2019, explica que originalmente era desejo de Francisco que a sua autobiografia fosse publicada após a sua morte. No entanto, o Ano Santo de 2025 e os desafios dos tempos atuais levaram-no a publicar mais cedo. O lema deste Ano Santo é “Peregrinos da Esperança”, o que, dado o título do livro, faz deste livro de memórias uma espécie de companheiro de leitura. Musso escreve: “Avante! Um homem nascido em 1936 que, se olhar para trás, é apenas para olhar ainda mais para a frente”.
Francisco aborda muitas questões urgentes dos nossos tempos e reitera alguns dos seus pontos de discussão mais conhecidos: sobre a razão pela qual a economia “mata”, ou como o mundo já está a escorregar, centímetro a centímetro, para uma terceira guerra mundial; que muitas pessoas ainda veem a migração como uma “invasão” ou como os seres humanos são enviados de um lado para o outro como bolas de pingue-pongue. Como sul-americano, ainda se refere à Europa como o “velho continente” e, para ele, o refugiado O acampamento na ilha mediterrânica de Lesbos, que visitou duas vezes, representa a “vergonha da União Europeia”.
Ele também lamenta a catástrofe global das alterações climáticas e a destruição dos ecossistemas. Não há mais tempo a perder, diz ele. Ele condena Agressão russa na Ucrâniao terrorismo do Hamas (“barbárie”, “massacre”) e a guerra em Gaza. Ele descreve alguns As ações militares de Israel como “terror”.
E, claro, Francisco aborda o estado da Igreja. “A dor das vítimas é um lamento que sobe ao céu”, escreve ele a certa altura. Mas então gasta apenas mais algumas linhas abordando este escândalo agora internacional.
Francisco fala contra o tradicionalismo eclesiástico, que, segundo ele, transforma a liturgia numa forma de ideologia. Ele escreve sobre uma demonstração de clericalismo e trajes. E menciona o debate que se arrasta há anos sobre a ordenação de mulheres como diaconisas, chamando-o de uma questão em aberto que ainda requer uma discussão aprofundada.
O Papa lamenta as mortes no Mediterrâneo
Mas, abrangendo estes chavões e pontos controversos, o livro em si tem uma grande narrativa sobre as pessoas e a condição humana, e sobre aqueles que inspiraram a sua esperança. Esta história começa no início do século XX no Piemonte, norte da Itália, onde começam as raízes de sua família e de onde emigraram para a Argentina. O navio que os avós e o seu filho – o pai do futuro papa – deveriam levar de Génova para a América Latina afundou, levando centenas de pessoas à morte.
É esta tragédia que leva Francisco a falar da sua primeira visita à ilha mediterrânica de Lampedusa e ao inúmeras mortes de refugiados no Mediterrâneo. Lamenta o que chama de “globalização da indiferença” e o encerramento das fronteiras europeias. Ele implora-nos: «As pessoas não podem e não devem permitir que as suas mentes e corações tenham a ideia de ver homens, mulheres e crianças a afogarem-se impunemente no Mediterrâneo, uma e outra vez, e mais uma vez. dificuldades são resolvidas construindo muros.”
Papa Francisco diz ao mundo para ‘parar de explorar África’
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Memórias familiares da guerra, críticas ao comércio de armas
Existe um padrão contínuo que entrelaça a história familiar e pessoal e os trágicos acontecimentos globais. A partir das memórias de guerra de seu avô, ele se volta para os conflitos atuais e a indústria de armas. As armas com as quais as guerras são travadas “são produzidas em regiões completamente diferentes – nessas mesmas regiões que depois recusam e rejeitam os refugiados que foram gerados por essas armas e por esses conflitos”.
Ele detalha os anos de formação de sua infância e juventude e os primeiros tempos de doenças graves. Começando com uma história inicial de paixão, ele passa para um momento estranho e misterioso em uma manhã em Buenos Aires, em 1953, que atraiu o jovem de 26 anos para a Igreja Católica. Foi o momento em que ele soube que se tornaria padre.
Em seguida, discute a guerra civil e a ditadura militar na Argentina, uma época de sofrimento e perdas. “Foram anos terríveis”, escreve ele, com “milhares de assassinatos, torturas, desaparecimentos”. Muitos padres, até mesmo bispos, também foram mortos. Ao mesmo tempo, o papa admite que a Igreja daquela época não estava isenta do seu lado negro. É por isso que, diz ele, ordenou a abertura dos arquivos relevantes da igreja ao se tornar papa.
Na linguagem eclesiástica, a história que Francisco conta é a sua “teologia do povo”. A sua profissão pessoal de fé – um texto central e graficamente destacado no livro – enquadra-se nisso e funciona como um testamento pessoal.
Abalado pelo sofrimento das pessoas
Para Francisco, as figuras mais importantes da sua grande narrativa não são os poderosos, mas sim pessoas que passaram por sofrimentos terríveis. Nestes momentos, Francisco parece um pastor abalado pela dor dos outros.
Ele cita pessoas que conheceu na sua mais recente viagem a África em 2023, incluindo uma jovem e outras pessoas do Congo. “Um compêndio de horror, estupro, destruição, pilhagem, brutalidade indescritível”, escreve ele. “Estou chocado, permaneço em silêncio diante de “tal abismo de dor”. Ele também descreve seu encontro com um sobrevivente do campo de concentração durante uma visita a Auschwitz em 2015.
Ele fala detalhadamente sobre seus encontros com Nadia Murad, uma jovem yazidi que conheceu em 2017 e que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2018. Ele ficou comovido com o destino dela, típico de muitas mulheres yazidi, um caminho de sofrimento envolvendo rapto e estupro. Ele descreve como a história dela influenciou sua decisão de viajar para o Iraque.
“Encontrei tantos testemunhos corajosos durante aquela viagem. Tantas pessoas santas que vivem na casa ao lado… Enquanto eu viver, o Iraque permanecerá sempre comigo”, escreve ele.
Essas pessoas, conclui Francisco, dão-lhe esperança. Pessoas que, mesmo em meio à guerra e ao desespero, não desistem. Ele nos diz que não pode haver futuro se não estiver enraizado no realismo, na razão, nas ações daqueles que semeiam as sementes da paz e da esperança.
Este artigo foi publicado originalmente em alemão.
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MUNDO
Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

PUBLICADO
1 mês atrásem
26 de maio de 2025
Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.
Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.
Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.
Amor e semente
Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.
Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.
E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.
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Cantos de agradecimento
E a recompensa vem em forma de asas e cantos.
Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.
O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.
Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?
Liberdade e confiança
O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.
Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.
“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.
Internautas apaixonados
O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.
Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.
“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.
“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.
Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:
Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok
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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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1 mês atrásem
26 de maio de 2025
O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.
No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.
“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.
Ideia improvável
Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.
“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.
O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.
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A ideia
Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.
Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.
E o melhor aconteceu.
A recuperação
Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.
Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.
À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.
Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.
“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.
Cavalos que curam
Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.
Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.
Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.
“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”
A gente aqui ama cavalos. E você?
A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News
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MUNDO
Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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1 mês atrásem
26 de maio de 2025
Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.
O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.
O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.
Da tranquilidade ao pesadelo
Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.
Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.
A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.
Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.
Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.
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Caminho errado
Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.
“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.
Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.
Caiu na neve
Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.
Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.
Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.
“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”
Luz no fim do túnel
Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.
De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.
“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.
A gentileza dos policiais
Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.
“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.
Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!
Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:
Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni
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