Matheus Leitão
Quando o futuro olhar para 2024… o que ficará de todas as confusões do período? O que foi realmente relevante?
Não o varejo das brigas políticas, mas o fato de que um filme capturou as emoções e levou o recado mais profundo e convincente contra o autoritatismo. Não a disparada do dólar, mas a subida das águas no Rio Grande do Sul como símbolo das muitas tragédias ambientais do ano.
Os dois eventos juntos dão um recado forte de que o clima está mudando agora e exige ação do Brasil e do mundo.
Em março o governo do presidente Lula decidiu não fazer atos de lembrança dos 60 anos da ditadura. O governo errou. O grande defeito do Brasil tem sido a desmemória. Mas pela arte, o ano será marcado pela espetacular bilheteria do “Ainda Estou Aqui” feito com base no maravilhoso livro de Marcelo Rubens Paiva, um herói do nosso tempo por ter enfrentado o que enfrentou com a força da literatura e por colocar no centro da cena uma mulher extraordinária que escolheu resistir à ditadura, sua mãe Eunice. Hoje ela é conhecida do Brasil. E isso faz muito bem ao Brasil.
Também os fatos da História mostram que não há como fugir dela, a História. O ano termina com generais de quatro estrelas e diversos tenentes coroneis presos. Um deles foi ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente e simbolicamente está preso na Vila Militar onde já esteve como comandante. E isso não foi revanche, nem cobrança da conta de 1964 que permanece aberta. É resultado da nova tentativa de golpe de Estado em que se envolveram os militares.
Na economia, ano foi de crescimento bom e queda do desemprego, mas houve na reta final a maior disparada do dólar desde 2020 e a maior operação de venda de dólares pelo Banco Central da história. O país não está em crise, mas o ambiente é de crise. No entanto o maior risco não é o temido pelo mercado financeiro, mas o que ficou claro em maio quando o Rio Grande do Sul enfrentou a maior enchente da sua história e por dias e dias, semanas, ficou em naufrágio.
Um cavalo que resistia no teto de uma casa cercado de água e determinado a viver foi o retrato do perigo que nos ronda. No Norte, o segundo ano de seca na Amazônia confirmou que o grande desafio do Brasil é como se proteger dos extremos da mudança climática. O dólar é o de menos, e dia desses ele volta a baixar. A mudança climática permanece com seus avisos de que é preciso repensar rapidamente nossa vida na Terra.
Em Belém no fim de 2025 temos um encontro marcado com essa verdade da qual não podemos fugir. Tempo bom para os leitores e as leitores das colunas. Feliz 2025.
