POLÍTICA
Lula e a crise de credibilidade
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10 meses atrásem
Murillo de Aragão
No início de 2025, o Brasil enfrenta uma grave crise de credibilidade econômica e fiscal, com a desvalorização de 27% do real frente ao dólar e uma fuga maciça de capitais nos últimos meses de 2024. A queima de reservas cambiais e a transferência de recursos por grandes investidores refletem a descrença no potencial de longo prazo do país. Se essa tendência continuar, as consequências serão juros mais altos, câmbio elevado, desinvestimento, desemprego e inflação, criando um cenário desastroso para o governo Lula 3.
A cotação de 6 reais por dólar se consolidou como o novo piso, resultado da desvalorização acumulada. O desafio imediato é impedir que o próximo patamar chegue a 7 reais. As medidas fiscais apresentadas até agora foram insuficientes, falhando em alcance, execução e comunicação, algo que o governo já reconheceu. A questão central é: como reagir rapidamente para evitar o aprofundamento da crise?
A demora em adotar medidas firmes custará caro ao país e será politicamente devastadora. Alguns setores já consideram que o governo não conseguiu começar de fato, apesar do crescimento do PIB e da redução do desemprego em 2024. O momento exige união. Enquanto os mais ricos se protegem com hedges cambiais, são os mais pobres que acabam pagando o preço da crise de credibilidade.
O governo precisa agir rapidamente para impedir que os juros futuros e a cotação do dólar subam ainda mais
Lula precisa agir imediatamente em várias frentes: negociar um novo pacote fiscal, melhorar o diálogo com o Congresso, reduzir a tensão sobre emendas parlamentares e fortalecer a comunicação com tomadores de decisão e formadores de opinião. As novas medidas devem promover cortes reais de gastos, com aprovação urgente. A inação permitirá que os juros futuros subam ainda mais e o dólar ultrapasse os 7 reais, agravando o cenário econômico.
O governo também precisa entender que suas narrativas moldam expectativas. Em 2024, o governo falhou ao não capitalizar boas notícias e recorreu a declarações inadequadas, como “pobre não come dólar”, ou a ataques à Faria Lima e ao agronegócio, que apenas alimentaram a desconfiança. A comunicação, até agora improvisada e dependente de publicidade, precisa ser substituída por uma estratégia sólida e orientada ao diálogo com stakeholders essenciais. O anúncio de medidas como a isenção de imposto de renda para a faixa de 5 000 reais, inesperado e fora de contexto, apenas reforça a impressão de falta de planejamento.
Uma reforma ministerial também é urgente. O atual ministério, desunido e marcado por desconfianças internas, não colabora para uma narrativa de governo coesa e efetiva. Essa configuração confusa parece mais uma farta distribuição de cargos do que um plano coerente de governo. O presidente precisa de uma equipe mais integrada e capaz de enfrentar os desafios com unidade e clareza. E dar a mensagem real do que está em curso na economia do país.
Até aqui Lula 3 se apresenta como uma versão deteriorada de Lula 1, correndo o risco de se transformar em um Dilma 2 se não reconhecer a gravidade da crise de credibilidade e a fragilidade gerencial do governo. Mas o potencial do Brasil e a qualidade de suas instituições não devem ser subestimados, assim como a capacidade de Lula de se reinventar. O tempo está passando. Sem ações decisivas, 2025 pode ser pior do que está agora.
Publicado em VEJA de 3 de janeiro de 2025, edição nº 2925
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POLÍTICA
A articulação para mudar quem define o teto de jur…
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6 meses atrásem
5 de maio de 2025Nicholas Shores
O Ministério da Fazenda e os principais bancos do país trabalham em uma articulação para transferir a definição do teto de juros das linhas de consignado para o Conselho Monetário Nacional (CMN).
A ideia é que o poder de decisão sobre o custo desse tipo de crédito fique com um órgão vocacionado para a análise da conjuntura econômica.
Compõem o CMN os titulares dos ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento e da presidência do Banco Central – que, atualmente, são Fernando Haddad, Simone Tebet e Gabriel Galípolo.
A oportunidade enxergada pelos defensores da mudança é a MP 1.292 de 2025, do chamado consignado CLT. O Congresso deve instalar a comissão mista que vai analisar a proposta na próxima quarta-feira.
Uma possibilidade seria aprovar uma emenda ao texto para transferir a função ao CMN.
Hoje, o poder de definir o teto de juros das diferentes linhas de empréstimo consignado está espalhado por alguns ministérios.
Cabe ao Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), presidido pelo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, fixar o juro máximo cobrado no consignado para pensionistas e aposentados do INSS.
A ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, é quem decide o teto para os empréstimos consignados contraídos por servidores públicos federais.
Na modalidade do consignado para beneficiários do BPC-Loas, a decisão cabe ao ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias.
Já no consignado de adiantamento do saque-aniversário do FGTS, é o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que tem a palavra final sobre o juro máximo.
Atualmente, o teto de juros no consignado para aposentados do INSS é de 1,85% ao mês. No consignado de servidores públicos federais, o limite está fixado em 1,80% ao mês.
Segundo os defensores da transferência da decisão para o CMN, o teto “achatado” de juros faz com que, a partir de uma modelagem de risco de crédito, os bancos priorizem conceder empréstimos nessas linhas para quem ganha mais e tem menos idade – restringindo o acesso a crédito para uma parcela considerável do público-alvo desses consignados.
Ainda de acordo com essa lógica, com os contratos de juros futuros de dois anos beirando os 15% e a regra do Banco Central que proíbe que qualquer empréstimo consignado tenha rentabilidade negativa, a tendência é que o universo de tomadores elegíveis para os quais os bancos estejam dispostos a emprestar fique cada vez menor.
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