POLÍTICA
Maior favorito na disputa das capitais, João Campo…

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Valmar Hupsel Filho
O prefeito de Recife, João Campos (PSB), iniciou sua busca pela reeleição apoiado em simbolismos. Nos primeiros minutos do último dia 16, início oficial da campanha, foi com sua mãe, Renata, e três irmãos ao Morro da Conceição, um lugar religioso onde os moradores da capital de Pernambuco vão pedir proteção e boas energias. Lá, a família posou ao pé da estátua da Imaculada Conceição, de 3 metros de altura e 2 toneladas, trazida de navio da França em 1904. Naquela semana completavam-se dez anos do acidente fatal de seu pai, Eduardo Campos (por queda de avião na eleição presidencial de 2014), e dezenove da morte do bisavô Miguel Arraes, ambos ex-governadores de Pernambuco e que, numa coincidência infeliz, faleceram em um 13 de agosto.
As referências ao pai e ao bisavô foram uma constante nos dias que marcaram o início da nova empreitada de João Campos. “A maior homenagem é seguir trabalhando, honrando sua história e legado”, disse em 26 de julho, em São Paulo, na entrega póstuma do título de cidadão paulistano ao pai pela Câmara de Vereadores. Foi alavancado pela família que João entrou na política. Em sua primeira disputa, aos 24 anos, elegeu-se o deputado federal mais votado do estado, em 2018. Dois anos depois, conquistou a prefeitura. Aos 30, tenta a reeleição com alta taxa de aprovação e 76% das intenções de voto (veja quadro), que o consolidam como o herdeiro de uma das mais longevas dinastias políticas do Nordeste.
João parece estar decidido a renovar a hegemonia do clã. Confortável com a possibilidade de reeleição — segundo o Datafolha, o adversário mais próximo, o sanfoneiro e ex-ministro Gilson Machado (PL), tem 6% —, o prefeito já se movimenta para fora de Recife. Nas últimas semanas, emprestou seu prestígio para fechar pessoalmente acordos em cidades como Caruaru, Olinda e Jaboatão dos Guararapes. Em algumas, bancou candidatos do PSB, em outras costurou apoio a nomes do PT, um parceiro estratégico no estado. Já apontado como potencial candidato ao comando de Pernambuco em 2026, quando a governadora Raquel Lyra (PSDB) tentará a reeleição, o prefeito dá sinais de que tocará o projeto. Na escolha do vice, resistiu ao assédio do PT, indicando Victor Marques (PCdoB), amigo de faculdade e ex-chefe de gabinete, sinalizando que, se deixar a prefeitura, manterá o controle sobre ela. Questionado se ficará no cargo caso seja reeleito, tergiversa. “Nesta eleição vou falar apenas desta eleição”, repete.
João é um legítimo representante das oligarquias que se consolidaram no país desde a formação, estabeleceram-se como donas de latifúndios e símbolos de poder regional. “Pernambuco é uma das capitanias hereditárias que ‘deram certo’, e onde se formou uma elite política forte”, diz Leonardo Rodrigues, doutorando em ciências políticas da UFPE e estudioso das dinastias. O patriarca do clã, Miguel Arraes, foi uma espécie de “coronel de esquerda”: resistiu à ditadura, foi preso e exilado e se tornou o governador “pai dos pobres”, algo que permanece no inconsciente coletivo pernambucano. Esse legado elegeu pai, primos, irmão e tio de João. Para Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, o histórico ajuda a entrar na política, mas não basta. “Se não tiver talento ou vocação, não vai adiante, porque o político tem de alçar voo próprio”, diz.

A boa avaliação de João Campos é inconteste — apenas 4% dos recifenses, segundo o Datafolha, consideram seu trabalho ruim ou péssimo. A alta aprovação é resultado de entregas, principalmente na periferia, do que o prefeito chama de “infraestrutura social”, como escadarias, contenção de encostas e ampliação de serviços na assistência social, além de unidades habitacionais. Também fez obras viárias estratégicas e tem a zeladoria elogiada. Na educação, ampliou de 6 500 para 13 000 as vagas em creches. A comunicação é um ponto importante. Quando vai aos bairros, circula pelas ruas, cumprimenta as pessoas, almoça em restaurantes populares e capitaliza isso nas redes sociais, usando linguagem, edição e visual jovens.
Embora seja herdeiro de uma longa dinastia, João consegue com isso passar a imagem de novidade política. Para o PSB, o surgimento dele e de sua namorada, a deputada e candidata à prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral, simboliza a renovação da sigla. “O país sofre com a ausência de lideranças novas, e o PSB incentiva gente jovem”, diz o presidente, Carlos Siqueira. O caminho para João está aberto. Ele deu um passo decisivo em 2020, na disputa pela prefeitura, ao derrotar a prima Marília Arraes numa guerra eleitoral que rachou o clã, mas foi determinante para seu futuro. A partir dali, reagrupou a família e fez dela parte inseparável de sua identidade e propaganda política. A próxima batalha agora se desenha para além de Recife.
Publicado em VEJA de 30 de agosto de 2024, edição nº 2908
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POLÍTICA
A articulação para mudar quem define o teto de jur…

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6 meses atrásem
5 de maio de 2025
Nicholas Shores
O Ministério da Fazenda e os principais bancos do país trabalham em uma articulação para transferir a definição do teto de juros das linhas de consignado para o Conselho Monetário Nacional (CMN).
A ideia é que o poder de decisão sobre o custo desse tipo de crédito fique com um órgão vocacionado para a análise da conjuntura econômica.
Compõem o CMN os titulares dos ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento e da presidência do Banco Central – que, atualmente, são Fernando Haddad, Simone Tebet e Gabriel Galípolo.
A oportunidade enxergada pelos defensores da mudança é a MP 1.292 de 2025, do chamado consignado CLT. O Congresso deve instalar a comissão mista que vai analisar a proposta na próxima quarta-feira.
Uma possibilidade seria aprovar uma emenda ao texto para transferir a função ao CMN.
Hoje, o poder de definir o teto de juros das diferentes linhas de empréstimo consignado está espalhado por alguns ministérios.
Cabe ao Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), presidido pelo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, fixar o juro máximo cobrado no consignado para pensionistas e aposentados do INSS.
A ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, é quem decide o teto para os empréstimos consignados contraídos por servidores públicos federais.
Na modalidade do consignado para beneficiários do BPC-Loas, a decisão cabe ao ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias.
Já no consignado de adiantamento do saque-aniversário do FGTS, é o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que tem a palavra final sobre o juro máximo.
Atualmente, o teto de juros no consignado para aposentados do INSS é de 1,85% ao mês. No consignado de servidores públicos federais, o limite está fixado em 1,80% ao mês.
Segundo os defensores da transferência da decisão para o CMN, o teto “achatado” de juros faz com que, a partir de uma modelagem de risco de crédito, os bancos priorizem conceder empréstimos nessas linhas para quem ganha mais e tem menos idade – restringindo o acesso a crédito para uma parcela considerável do público-alvo desses consignados.
Ainda de acordo com essa lógica, com os contratos de juros futuros de dois anos beirando os 15% e a regra do Banco Central que proíbe que qualquer empréstimo consignado tenha rentabilidade negativa, a tendência é que o universo de tomadores elegíveis para os quais os bancos estejam dispostos a emprestar fique cada vez menor.
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