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Manuela d’Ávila: ‘A esquerda precisa se abrir’

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Paula Freitas

Meus quatro irmãos não entendiam como, ainda criança, queria mudar tudo ao meu redor. Eram problemas bem maiores do que eu, tão pequena. Esse idealismo foi amadurecendo com a passagem do tempo, e acabei desaguando na política durante a juventude. Comecei os trabalhos na União Nacional dos Estudantes (UNE), equilibrando duas graduações — jornalismo e ciências sociais — com a militância. Tinha na cabeça que precisava agir no combate às mazelas sociais. E, seguindo essa trilha, fui eleita aos 23 anos como a mais jovem vereadora da história de Porto Alegre pelo Partido Comunista do Brasil, o PCdoB, onde permaneci por mais de duas décadas. Mas, depois de muito refletir, optei pelo afastamento do partido, por diferenças que debati exaustivamente, em processo longo, que vivi de forma discreta, em respeito à história que construímos juntos por tanto tempo. O PCdoB me deu régua e compasso, como diz a música do Gilberto Gil, e o final dessa relação foi como um divórcio muito doloroso.

Uma das grandes divergências que tive no partido foi a formação da Federação Brasil da Esperança, que abrangeu PT, PV e PCdoB. Entendia que isso enfraqueceria nossa sigla, que perderia voz nas tomadas de decisão e seria, cada vez mais, relegada a um papel secundário. Claro que não foi apenas essa a razão que me fez mudar de rumo. Muitas outras vezes, nestes 25 anos, fui voto vencido dentro do próprio partido. Saber lidar com a derrota é parte integrante e inescapável do exercício da política — é desse jeito que a coisa funciona. Já senti em várias ocasiões o gosto amargo de ser derrotada nas urnas, como quando ocupei a vaga de vice na chapa de Fernando Haddad à Presidência, em 2018. Hoje, não sou uma mulher sem partido por opção, mas por falta de opção, de caminhos a seguir neste momento. E esta situação que agora experimento em minha trajetória que me deixa mais livre para falar. Precisamos de mais debate.

Apesar de ser atualmente uma pessoa sem partido, acredito na relevância deles para a democracia. A esquerda é muito diversa, não é um bloco único, o que torna vital reconhecer essa variedade para construir uma unidade. Defendo com unhas e dentes, aliás, a criação de uma frente ampla que englobe os mais distintos setores da sociedade, ultrapassando barreiras ideológicas, para juntar o maior número possível de vozes contra o avanço da extrema direita e as ameaças à democracia. O que não pode acontecer é a esquerda deixar de debater sua própria agenda com medo de ser acusada de fortalecer o bolsonarismo. A pauta de valores é frequentemente usada como bode expiatório para nossas derrotas. Será que não estamos conseguindo mostrar nossos valores à sociedade? Ou estamos deixando a extrema direita falar por nós? Enquanto eles trazem à luz a ideia de mulheres troféus, submissas aos maridos, estamos verdadeiramente iluminando a discussão com alternativas para que a fatia feminina da população viva com dignidade diante de uma realidade de violência crescente?

Tudo o que eu quero é ajudar a formar um movimento que acredite na necessidade de entrar na disputa política com uma visão transformadora para o país. Não ocupo cargos públicos desde janeiro de 2019. Não sou herdeira de nada, por isso trabalho com o que sei fazer — e faço bem. Sou sócia da D’Ávila & Schaidhauer, uma consultoria focada na área política. Em nossa empresa, atendemos campanhas as mais diversas. Só neste pleito, foram sete, todas à esquerda. Em 2022, auxiliamos o PSD, em Minas Gerais, que também estava junto à esquerda. Como estrategista, escolho a dedo clientes que, de uma forma ou outra, se alinhem com meu ideário. Atuo com toda a independência, apostando que a esquerda vai voltar a travar o bom diálogo com o povo.

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Manuela d’Ávila em depoimento a Paula Freitas

Publicado em VEJA de 1º de novembro de 2024, edição nº 2917



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CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go…

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CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go...

Marcela Rahal

Como se não bastasse a ideia de uma CPI na Câmara, ainda a depender do aval do presidente Hugo Motta (o que parece que não deve acontecer), o governo pode enfrentar uma investigação para apurar os desvios bilionários do INSS nas duas Casas.

Já são 211 assinaturas de parlamentares a favor da CPMI, 182 deputados e 29 senadores, o suficiente para o início dos trabalhos. A deputada Coronel Fernanda, autora do pedido na Câmara, vai protocolar o requerimento nesta terça-feira, 6. Caberá ao presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, convocar o plenário para a leitura da proposta e, consequentemente, a criação da Comissão.

Segundo a parlamentar, que convocou uma entrevista coletiva para amanhã às 14h30, agora o processo deve andar. O governo ficará muito mais exposto com um escândalo que tem tudo para ficar cada vez maior, segundo as investigações ainda em andamento.

O desgaste será inevitável. O apelo do caso é forte e de fácil entendimento para a população. O assalto bilionário aos aposentados e pensionistas do INSS.



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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg…

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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg...

Ludmilla de Lima

Presidente da Federação União Progressista, Antonio Rueda passará por uma cirurgia nesta segunda-feira, 05, devido a um cálculo renal. Por causa de fortes dores, o procedimento, que estava marcado para amanhã, terá que ser antecipado. Antes do anúncio da federação, na terça da semana passada, ele já havia sido operado por causa do problema, colocando um cateter.

Do União Brasil, Rueda divide a presidência da federação com Ciro Nogueira, do PP. Os dois partidos juntos agora têm a maior bancada do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores. O PP defendia que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira ficasse no comando do bloco, mas o União insistia no nome de Rueda. A solução foi estabelecer um sistema de copresidentes, que funcionará ao menos até o fim deste ano. 

A “superfederação” ultrapassa o PL na Câmara – o partido de Jair Bolsonaro tem 92 deputados – e se iguala ao PSD e ao PL no Senado. O poder do grupo, que seguirá unido nos próximos quatro anos, também é medido pelo fundo partidário, de R$ 954 milhões.

A intensificação das agendas políticas nos últimos dias agravou o quadro de saúde de Rueda, que precisou também cancelar uma viagem ao Rio.



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POLÍTICA

Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu…

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Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu...

Matheus Leitão

A mais nova dobradinha contra Alexandre de Moraes tem gerado frisson nas redes bolsonaristas, mas parece mesmo uma novela de mau gosto. Protagonizada por Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três licenciado da Câmara, e Paulo Figueiredo, neto do último general ditador do Brasil, os dois se uniram para tentar punir o ministro do Supremo Tribunal Federal nos EUA.

Em uma insistente tentativa de se portarem com alguma relevância perante o governo Donald Trump, os dois agora somam posts misteriosos de Eduardo com promessas vazias de Figueiredo após uma viagem por alguns dias a Washington.

Um aparece mostrando, por exemplo, a lateral da Casa Branca em um ângulo no qual parece, pelo menos nas redes sociais, a parte interna da residência oficial do presidente dos Estados Unidos. O outro promete que as sanções ao ministro do STF estão 70% construídas e pede mais “72 horas” aos seus seguidores.

“Aliás, hoje aqui de manhã, eu tive um [inaudível] com eles, no caso o Departamento de Estado especificamente, e o termo que usaram para mim foi: olha, nós não queremos criar excesso de expectativa, mas nós estamos muito otimistas que algo vai acontecer e a gente vai poder fazer num curto prazo”, disse Paulo Figueiredo.

A ideia dos dois é que, primeiro, Alexandre de Moraes, tenha seu visto cancelado e não possa mais entrar nos Estados Unidos. Depois, que ele tenha algumas sanções econômicas, caso tenha bens nos Estados Unidos, como o bloqueio financeiro a instituições do país, como empresas de cartão de crédito.

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“O que eu posso dizer para você é que a gente nunca esteve tão perto. Eu não posso dizer quando e nem garantir que vão acontecer”, prometeu ainda Paulo Figueiredo. A novela ainda vai ganhar novos ares nesta semana com a chegada de David Gamble, coordenador para Sanções do governo de Trump, ao Brasil nesta semana. 

A seguir as cenas dos próximos capítulos…



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