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Morte de jovem ‘obcecado’ por inteligência artificial levanta debate sobre como lidamos com a IA

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ALERTA DE GATILHO: ESTA REPORTAGEM ABORDA SOBRE SUÍCIDIO. AO FINAL DO TEXTO, HÁ DETALHES DE COMO ENTRAR EM CONTATO COM O CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA (CVV).
As inteligências artificiais (IA) já estão bastante integradas a serviços digitais e até em redes sociais ou mensageiros, fazendo cada vez mais parte do nosso cotidiano. Ao mesmo tempo, crescem as preocupações sobre esse papel presente de chatbots e assistentes, já que a estrutura que imita a comunicação humana traz consequências.
O debate sobre IA e saúde mental ainda ocorre em fases iniciais, mas talvez precise ser priorizado na área com o surgimento de incidentes envolvendo IAs que ainda são limitadas em interação e nada indicadas para lidar com questões emocionais.
Um triste caso recente nos Estados Unidos envolvendo um site de chatbots e um adolescente que tirou a própria vida pode signifiar mudanças no sentido de regulamentação — e talvez a maior fiscalização sobre consequências da IA na saúde mental, em especial do público jovem.
A tragédia de Sewell Setzer
O caso que levantou essa discussão foi o de Sewell Setzer III, adolescente de 14 anos que morava no estado norte-americano da Flórida com a mãe. O jovem cometeu suicídio no final de fevereiro deste ano.
De acordo com a mãe de Sewell, Megan Garcia, o menino estava “obcecado” e “viciado” no serviço de chatbots de IA da startup Character.AI. Ela abriu um processo contra a plataforma, responsabilizando ela pela tragédia.
Sewell e a mãe, que está processando a empresa de IA. (Imagem: Tech Justice Law Project/Divulgação)Fonte: Tech Justice Law Project
O jornal The New York Times trouxe detalhes do processo, que incluem trechos de interações do jovem com o chatbot. Sewell conversava com um chabot que simulava a personagem Daenerys Targaryen, da saga de livros Game of Thrones.
Com o passar do tempo, ele desenvolveu uma conexão emocional e passava horas conversando com a IA, desabafando sobre a vida e até vivendo um romance virtual. A mãe diz que ele aos poucos começou a se isolar da realidade, piorar o desempenho na escola e deixar de lado outros hobbies, enquanto virava a noite conectado.
A “paixão” por uma IA é possível, diz em entrevista ao TecMundo o psicólogo clínico Julio Peres, doutor em Neurociências e Comportamento pela USP. Porém, segundo ele, o relacionamento na verdade é “com a projeção que a pessoa faz de suas necessidades e carências sobre ela“, aproveitando-se de que do outro lado está um robô que age como um espelho de outra pessoa.
Em uma das conversas, o adolescente chegou a falar em tirar a própria vida. A IA repreendeu a ação, mas sem sair do contexto de encenação ou lidar da forma séria que o assunto demandava — em especial por se tratar de um menor de idade.
Na última interação com a IA, minutos antes da tragédia, ele falou em “ir para a casa agora mesmo”. Sem perceber a gravidade da situação ou diferenciar a metáfora da realidade, a resposta do chatbot foi “por favor, faça isso, meu doce rei”.
Um universo de chatbots
A Character.AI foi fundada em 2022 por Noam Shazeer e o brasileiro Daniel De Freitas, ambos ex-funcionários da Google e pioneiros em estudos de IA. A dupla foi recontratada pela Google em agosto, quando a companhia adquiriu licenças de parte das tecnologias da startup.
O serviço é uma espécie de catálogo com vários chatbots, permitindo que você escolha um perfil para conversar. É possível selecionar profissões (coach, personal trainer, poeta e até psicólogo, o que é bastante controverso), personagens da ficção (de animes, séries ou livros) e até figuras reais (como o bilionário Elon Musk ou personalidades históricas).
A página principal do serviço e alguns chatbots oferecidos. (Imagem: Character.AI/Reprodução)Fonte: Character.AI
Cada chatbot é moldado com características esperadas da sua personalidade, em vocabulário e tipos de resposta. Eles se mantêm no personagem, criando a sensação de que aquela é uma conversa de verdade. Se o usuário quiser, pode até criar o próprio chatbot do zero, personalizando “voz, inícios de conversa, entoação e muito mais“.
Para amenizar a ideia de que há um ser pensante do outro lado da tela, Peres sugere o reforço de que há um sistema automático do outro lado. “O primeiro passo é ter clareza de que uma IA não é uma ‘entidade viva’, um ser humano, e nunca será“, argumenta, defendendo que a IA até pode servir para casos de identificar padrões e gerar respostas específicas.
Qual a responsabilidade da IA nesses casos?
Como aponta Peres, IAs podem ter impactos positivos em saúde mental, mas há também riscos em especial pelo uso indevido das tecnologias. As IAs não leem as entrelinhas, por exemplo, e podem abrir espaço “para o isolamento social e dependências emocionais prejudiciais, intensificando sentimentos de solidão, alienação e decorrentes transtornos psiquiátricos”.
Shazeer, cofundador da Character.AI, disse em uma entrevista para um podcast recuperada pelo The New York Times que o serviço seria “super, super útil para muitas pessoas que estão sozinhas ou depressivas“. O chatbot, porém, não tinha até agora medidas de segurança para pessoas com questões de saúde mental. Sewell foi diagnosticado com síndrome de Asperger leve quando criança e, recentemente, com ansiedade e um transtorno de humor — questões que podem ser acentuadas na relação com a IA.
Psicólogo sugere reforçar que não é uma pessoa do outro lado da tela e regular tempo de uso de IAs. (Imagem: Getty Images)Fonte: GettyImages
“Em algum momento, as pessoas com tais vulnerabilidades percebem o vazio existencial, a aridez da não reciprocidade e, a despeito da tentativa de manterem a fantasia de uma relação, o sofrimento pode emergir com imensa força, às vezes devastadora“, explica o psicólogo.
A IA é só mais um dos riscos envolvendo a saúde mental de jovens, em uma lista que já inclui o uso exagerado de celulares até em salas de aula e questões de autoestima impulsionadas por redes sociais.
Como possíveis formas de reduzir essa convivência em excesso com um chatbot, Peres cita a promoção de atividades sociais e presenciais, como sair com amigos e parentes, além de regulação do tempo de uso dessas IAs. Outro ponto importante é manter o diálogo com crianças e adolescentes, “buscando entender e atender suas necessidades emocionais com qualidade e proximidade“.
O caso de Sewell é muito mais complexo do que colocar a culpa da IA: incidentes envolvendo questões de saúde mental exige, a compreensão do cenário completo para além do digital. Ainda assim, esses serviços devem se atentar a esses riscos — e talvez até responsabilizados — em especial agora que estão tão populares.
“Pode ser que tais relações se tornem mais comuns, mas isso não significa que elas serão saudáveis“, conclui o psicólogo.
O que diz a Character.AI?
Em nota após as reportagens sobre o processo, a Character.AI afirma que “leva a segurança dos usuários muito seriamente” e está “sempre procurando por formas de evoluir e melhorar a plataforma“. Ela também atualizou as medidas de proteção “incluindo novas barreiras para usuários abaixo de 18 anos“.
As mudanças incluem a alteração nos modelos liberados para menores de idade para reduzir “a probabilidade de encontrar conteúdos sensíveis ou sugestivos“; melhor detecção e intervenção para comandos “que violem os termos de uso da comunidade” e “notificações se a pessoa passou mais de uma hora em uma sessão“.
Ela ainda prometeu avisos reforçados a cada nova conversa iniciada de que o chat com a IA não envolve uma pessoal real do outro lado.
Prevenção de suicídio
O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma entidade fundada em 1962 que presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar.
Para entrar em contato, basta fazer uma ligação ao número 188 (que funciona 24 horas), mandar um e-mail para a entidade (apoioemocional@cvv.org.br) ou conversar pelo chat online no site https://www.cvv.org.br.
O chat funciona entre 9h e 01h (horário de Brasília) nas segundas e terças; entre 09h e 01, às quartas e quintas; de 13h e 01 nas sextas e sábados e entre 15h e 01h nos domingos.
Os voluntários do CVV são treinados para conversar com pessoas que procuram ajuda e apoio emocional e todas as conversas têm total sigilo e anonimato.
A posição do TecMundo sobre a regulação da IA
A Inteligência Artificial é uma realidade e vem se popularizando com uma velocidade incrível. Mas é preciso que a regulação dela siga no mesmo passo para evitar que o seu uso indiscriminado seja responsável por ferir pessoas — física ou psicologicamente.
No TecMundo acreditamos que a IA pode ser usada com sabedoria e — assim como toda a tecnologia — como uma forma de tornar a vida das pessoas melhor e mais simples.
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SUS vai distribuir vacina contra herpes-zóster, afirma ministro da Saúde; vídeo

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11 horas atrásem
24 de abril de 2025
Em breve, os brasileiros poderão se imunizar de graça contra uma doença silenciosa, muito dolorida, que atinge principalmente, quem tem mais de 50 anos. O SUS (Sistema Único de Saúde) vai incluir a vacina contra herpes-zóster na lista de prioridades. A notícia boa foi dada esta semana pelo Ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Atualmente, a vacina é oferecida apenas nas unidades privadas – em duas doses – e custa, em média, R$ 800. O pedido para a inclusão da vacina foi feito diretamente ao ministro durante audiência na Comissão de Saúde na Câmara, por uma deputada que teve a doença.
“É uma prioridade nossa, enquanto ministro da Saúde, que essa vacina possa estar no Sistema Único de Saúde. A gente pode fazer grandes campanhas de vacinação para as pessoas que têm indicação de receber essa vacina. Pode contar conosco”, afirmou Padilha.
Experiência dolorosa pessoal
O apelo partiu da deputada federal Adriana Accorsi (PT-GO), que ficou cinco dias internada em Goiânia, por uma crise causada pelo vírus que provoca herpes-zóster. Com dores pelo corpo, sentindo a pele queimar, ela disse que foi uma experiência muito dolorosa.
“Passei por essa doença recentemente e senti na pele o quanto ela é dolorosa, perigosa e pode deixar sequelas graves. Por isso, sei o quanto é fundamental garantir acesso à prevenção e à informação, especialmente para quem mais precisa”, afirmou a parlamentar.
As sequelas mais graves da doença podem provocar lesões na pele, cegueira, surdez e paralisia cerebral, por exemplo. Estudos indicam que os casos aumentaram 35% após a pandemia de Covid-19
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A doença herpes-zóster
Só em 2023, mais de 2,6 mil pessoas foram internadas com o diagnóstico da doença no Brasil.
O herpes- zóster, chamado popularmente como “cobreiro”, é infeccioso. A doença é causada pelo vírus varicela-zóster, o mesmo que causa a catapora.
A crise gera erupções na pele, febre, mal-estar e dor intensa fortes nos nervos.
Em geral as pessoas com baixa imunidade estão mais propensas.
Vai SUS!
A vacina contra herpes-zóster deve ser incluída na lista de prioridades, de acordo com o ministro Alexandre Padilha. Foto: Ministério da Saúde
A promessa do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, foi registrada:
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Anvisa aprova medicamento que pode retardar Alzheimer

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12 horas atrásem
24 de abril de 2025
Anvisa aprovou o Kinsula, primeiro medicamento que pode retardar a progressão do Alzheimer. Já provado nos EUA, ele é da farmacêutica Eli Lilly. – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Uma notícia boa para renovar a esperança de milhares de brasileiros. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo medicamento internacional para tratar o Alzheimer.
Indicado para o estágio inicial da doença, o Kisunla (donanemabe) é fruto de mais de três décadas de pesquisa. Em testes, o medicamento retardou em até 35% o avanço da doença em pacientes com sintomas leves.
Desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, o donanemabe foi aprovado nos Estados Unidos em julho de 2024. No Brasil, a aprovação foi divulgada nesta terça-feira (22). O Kisunla é injetável e deve ser administrado uma vez por mês.
Como funciona
A principal função do fármaco é remover as chamadas placas amiloides, os acúmulos anormais de proteínas no cérebro.
São esses acúmulos que atrapalham a comunicação entre os neurônios e estão associados ao surgimento e à progressão da doença.
Nos testes clínicos, o remédio conseguiu eliminar até 75% das placas após 18 meses de tratamento.
Leia mais notícia boa
Quem se beneficia
O tratamento é indicado apenas para pacientes com comprometimento cognitivo leve e demência leve.
Por outro lado, o Kisunla não é recomendado para quem usa anticoagulantes ou sofre de uma condição chamada angiopatia amiloide cerebral.
Também há restrições para pacientes que não possuem uma variante específica do gene ApoE ε4.
Em comunicado à imprensa, Luiz Magno, diretor médico sênior da Lilly do Brasil, comemorou a aprovação pela Anvisa:
“Estamos vivendo um momento único na história da neurociência. Depois de mais de trinta e cinco anos de pesquisa da Lilly, finalmente temos o primeiro tratamento que modifica a história natural da doença de Alzheimer aprovado no Brasil. Claro, esse é um marco para nós como companhia e para a ciência, mas principalmente para as pessoas que vivem com a doença de Alzheimer e seus familiares – que há anos buscam por mais esperança. Essa é nossa missão, transformar vidas.”
Estudo clínico
A avaliação para a aprovação foi feita a partir de um estudo clínico de 2023. Ao todo, a pesquisa envolveu 1.736 pacientes de 8 países com Alzheimer em estágio inicial.
Aqueles que receberam o Kisunla tiveram uma progressão clínica da doença menor em comparação aos pacientes tratados com o placebo.
Segundo a Anvisa, assim como qualquer outro remédio, o medicamento vai continuar sendo monitorado.
Disponível em breve
Apesar da aprovação, o Kisunla ainda não está disponível nas farmácias.
Para isso, é preciso esperar o medicamento passar pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
O processo pode levar semanas ou até meses.
Nos Estados Unidos, o tratamento com o fármaco custa por volta de US$ 12.522 por 6 meses e US$32.000 por 12 meses, aproximadamente R$ 183.192 na cotação atual.

O medicamento é injetável e deve ser administrado uma vez por mês. – Foto: Getty Images/Science Photo Libra
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China lança banda larga 10G; a primeira e mais rápida do mundo

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12 horas atrásem
24 de abril de 2025
Na vanguarda sempre, os chineses surpreendem mais uma vez. A China lança a primeira banda larga 10G do mundo. A expectativa é oferecer velocidades de download de até 9.834 Mbps, velocidades de upload de 1.008 Mbps e latência de 3 milissegundos, muito maiores do que as usadas atualmente.
Com o 10G vai ser possível baixar em apenas 20 segundos um filme completo em 4K (com cerca de 20 GB), que normalmente leva de 7 a 10 minutos em uma conexão de 1 Gbps.
A tecnologia de Rede Óptica Passiva (PON) 50G, que abastece a rede 10G, melhora a transmissão de dados pela infraestrutura – de fibra óptica atual.
Trabalho em parceria
A inovação foi anunciada, no Condado de Sunan, província de Hebei. O lançamento é resultado de um trabalho colaborativo da Huawei e da China Unicom.
Essa tecnologia permitirá, por exemplo, o uso de nuvem, realidade virtual e aumentada, streaming de vídeo 8K e integração de dispositivos domésticos inteligentes, tudo de uma só vez.
Com essa iniciativa, a China supera a banda larga comercial em países, como Emirados Árabes e Catar, de acordo com o Times of India.
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Expectativas de aplicações sociais
A implementação da banda larga 10G deve facilitar avanços em setores sociais, como saúde, educação e agricultura por intermédio da transmissão de dados mais rápida e confiável.
De acordo com os engenheiros e pesquisadores envolvidos, essa tecnologia será usada em aplicados “exigentes” de alta velocidade.
Com a banda larga 10G, a China se coloca à frente dos Emirados Árabes e do Catar em tecnologia comercial. Foto: Freepik
Leia Mais: Só Notícias Boas
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