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Na Flip, autoras negras buscam o universal na experiência – 10/10/2024 – Ilustrada

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Bárbara Blum

A conversa que abriu a tarde de quinta-feira no auditório principal da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, foi antes de mais nada sobre a condição humana. Mas “a condição humana tem um rosto afrodescendente”, conforme afirmou Leónora Miano, uma das escritoras que é expoente da literatura francofona e convidada da mesa.

Sob mediação de Adriana Ferreira Silva, a camaronesa vencedora do prêmio Goncourt em 2019 conversou com com a brasileira Eliana Alves Cruz, autora de “Água de Barrela”. Cruz ecoou a fala de abertura de Luiz Antonio Simas ao dizer que existe um projeto político de exclusão no Brasil, que ela chamou de projeto de solidão. “Precisamos fazer esse projeto dar errado”, disse.

Miano, que carrega o afrofuturismo em sua obra, logo tentou apontar saídas. Ela parece enxergar potencial na literatura que se propõe universal a partir do particular. “Nos meus romances, falo da condição humana”, ela diz, “mas neles essa condição humana tem um rosto afrodescendente”.

Quando Miano escreve sobre as feridas abertas da escravização, acredita estar escrevendo para todos, não só para as vítimas diretas. O mecanismo que usa para tal é se afastar da ideia de que foi um processo econômico, por exemplo, e tratar como um sequestro e, portanto, uma falta. “Pessoas conheciam a voz delas, conheciam elas. Quero falar da dor dos que ficaram.”

Há uma ligação com a obra de Cruz nessa proposta. Em “Água de Barrela”, lembra a brasileira, ela fala das famílias que se formaram e das relações não sanguíneas que se dão em consequência da diáspora. “A família estendida é uma noção muito africana”, diz. Miano parece concordar. “Fazer a escolha de se ligar a alguém, apesar de tudo, é uma forma de resistência espiritual extremamente potente, que nunca é descrita como tal.”

Cruz aproveita para alfinetar outras noções bem brasileiras, como quando se diz que alguém “tem berço”. Se alguém tem berço, ela diz, outras pessoas não têm berço. Para ela, a noção de que existem “barrigas limpas e barrigas sujas” é um exercício de virulência feito pelas palavras –”as vezes mais cruéis que a violência física”.

Como Miano, ela vê um caminho. As mesmas palavras que podem machucar, para Cruz, podem “desatar esse nó”, podem “conjurar um futuro”.

As falas das autoras foram aplaudidas com entusiasmo pela plateia. Um engasgo, porém, quando Miano disse que não se considera uma superfeminista e não vê sentido em usar o vocabulário político do mundo branco. Alguém tenta puxar palmas na plateia e ela diz que não costuma ser aplaudida quando fala desse tema. Ai, sim, o auditório fez barulho.

Miano continuou a fala se distanciando da tradição branca do feminismo europeu e afirmou que as mulheres lideraram exércitos e governos primeiros no continente africano. “Fomos as primeiras em tudo”, disse.



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Curso de Letras/Libras da Ufac realiza sua 8ª Semana Acadêmica — Universidade Federal do Acre

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Curso de Letras/Libras da Ufac realiza sua 8ª Semana Acadêmica — Universidade Federal do Acre

O curso de Letras/Libras da Ufac realizou, nessa segunda-feira, 3, a abertura de sua 8ª Semana Acadêmica, com o tema “Povo Surdo: Entrelaçamentos entre Línguas e Culturas”. A programação continua até quarta-feira, 5, no anfiteatro Garibaldi Brasil, campus-sede, com palestras, minicursos e mesas-redondas que abordam o bilinguismo, a educação inclusiva e as práticas pedagógicas voltadas à comunidade surda.

“A Semana de Letras/Libras é um momento importante para o curso e para a universidade”, disse a pró-reitora de Graduação, Edinaceli Damasceno. “Reúne alunos, professores e a comunidade surda em torno de um diálogo sobre educação, cultura e inclusão. Ainda enfrentamos desafios, mas o curso tem se consolidado como um dos mais importantes da Ufac.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou que o evento representa um espaço de transformação institucional. “A semana provoca uma reflexão sobre a necessidade de acolher o povo surdo e integrar essa diversidade. A inclusão não é mais uma escolha, é uma necessidade. As universidades precisam se mobilizar para acompanhar as mudanças sociais e culturais, e o curso de Libras tem um papel fundamental nesse processo.”

A organizadora da semana, Karlene Souza, destacou que o evento celebra os 11 anos do curso e marca um momento de fortalecimento da extensão universitária. “Essa é uma oportunidade de promover discussões sobre bilinguismo e educação de surdos com nossos alunos, egressos e a comunidade externa. Convidamos pesquisadores e professores surdos para compartilhar experiências e ampliar o debate sobre as políticas públicas de educação bilíngue.”

A palestra de abertura foi ministrada pela professora da Universidade Federal do Paraná, Sueli Fernandes, referência nacional nos estudos sobre bilinguismo e ensino de português como segunda língua para surdos.

O evento também conta com a participação de representantes da Secretaria de Estado de Educação e Cultura, da Secretaria Municipal de Educação, do Centro de Apoio ao Surdo e de profissionais que atuam na gestão da educação especial.

 

(Fhagner Soares, estagiário Ascom/Ufac)

 

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Propeg — Universidade Federal do Acre

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Propeg — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propeg) comunica que estão abertas as inscrições até esta segunda-feira, 3, para o mestrado profissional em Administração Pública (Profiap). São oferecidas oito vagas para servidores da Ufac, duas para instituições de ensino federais e quatro para ampla concorrência.

 

Confira mais informações e o QR code na imagem abaixo:

 



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Atlética Sinistra conquista 5º título em disputa de baterias em RO — Universidade Federal do Acre

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Atlética Sinistra conquista 5º título em disputa de baterias em RO — Universidade Federal do Acre

A atlética Sinistra, do curso de Medicina da Ufac, participou, entre os dias 22 e 26 de outubro, do 10º Intermed Rondônia-Acre, sediado pela atlética Marreta, em Porto Velho. O evento reuniu estudantes de diferentes instituições dos dois Estados em competições esportivas e culturais, com destaque para a tradicional disputa de baterias universitárias.

Na competição musical, a bateria da atlética Sinistra conquistou o pentacampeonato do Intermed (2018, 2019, 2023, 2024 e 2025), tornando-se a mais premiada da história do evento. O grupo superou sete concorrentes do Acre e de Rondônia, com uma apresentação que se destacou pela técnica, criatividade e entrosamento.

Além do título principal, a bateria levou quase todos os prêmios individuais da disputa, incluindo melhor estandarte, chocalho, tamborim, mestre de bateria, surdos de marcação e surdos de terceira.

Nas modalidades esportivas, a Sinistra obteve o terceiro lugar geral, sendo a única equipe fora de Porto Velho a subir no pódio, por uma diferença mínima de pontos do segundo colocado.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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