O poeta Luís de Camões é, certamente, um dos autores mais estudados do mundo, embora sua vida continue a ser um grande mistério, mesmo passados cinco séculos após ter nascido.
Ainda sobre dúvidas e incertezas, uma nova biografia nos chega para revisitar sua vida e obra. Em “Fortuna, Caso, Tempo e Sorte – Biografia de Luís de Camões” (Contraponto), a experiente historiadora portuguesa Isabel Rio Novo perfaz o percurso vivido pelo poeta do épico “Os Lusíadas” até a sua morte, ocorrida em 10 de junho de 1580, como doente comum, em um hospital na cidade de Lisboa.
Trabalho de grande fôlego, bem documentado e escrito, que lhe consumiu anos de pesquisas, a nova biografia de Camões é o resultado mais bem realizado sobre a vida e a obra do poeta —e foi lançado, em Portugal, durante os festejos comemorativos dos 500 anos de seu nascimento. A data exata, defendida como sendo 1524 (ou 1525, para outras opiniões), ainda é vista com bastante controvérsia, assim como a região onde teria nascido o “príncipe dos poetas do seu tempo” —se Lisboa ou Coimbra.
A biógrafa se esmera em argumentos, citações e referências, muitas delas consultadas em fontes primárias, mas, ela mesma, não consegue dá por conclusa sua investigação. Nascido ou não em Lisboa, tendo estudado ou não na Universidade de Coimbra, o fato é que Isabel Rio Novo faz um levantamento minucioso e digno, e que estabelece, com muitos acertos, uma linha evolutiva sobre a trajetória de um dos mais lidos e importantes poetas do mundo.
Com base em suas pesquisas, vamos percorrer a mais secular origem do poeta, e a autora passa a inventaria o apelido Camões, informando que seu topônimo tinha certo significado e “estava no nome de uma ave aquática pernalta” — na grafia atual, seria “camão” ou “caimão”. Por aproximação ou analogia, o sobrenome do grande poeta português deriva dessa ave, que “ainda hoje encontra refúgio na área protegida dos terrenos alagadiços”. Como o poeta também foi homem das armas e do mar, além da pena, tendo participado de diversas batalhas, o significado da ave tem tudo a ver com a história de sua vida.
A biografia evoluiu para o legado literário de Camões, com foco na poesia lírica e épica, procurando elucidar a forma pela qual foi composto “Os Lusíadas”, a publicação do livro e a fama alcançada através dele. Nesse ínterim, se refere ao naufrágio e fala do “manuscrito molhado”, como está em um dos cantos do poema. A pesquisadora também trata do Camões missivista e dramaturgo e comenta, com ótimos detalhes, as peças teatrais escritas e encenadas ainda em vida do poeta, como o caso do “Auto do Filodemo”.
O livro se configura em excelente oportunidade de revisitar o poeta tantos séculos após seu nascimento e morte. Além disso, oferece farto material sobre o estudo da história da navegação portuguesa, com seus feitos marítimos, que tiveram impactos no mundo, especialmente no Brasil, “descoberto” em abril de 1500, ou seja, duas décadas antes do nascimento do poeta.
Publicado em edição portuguesa, os leitores brasileiros podem estranhar o linguajar e a escrita da obra, mas, pelo poeta, vale a pena a aventura.
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