EUHá exactamente meio século, no início da presidência de Valéry Giscard d’Estaing, o cientista político Maurice Duverger publicou uma obra intitulada A Monarquia Republicana ou Como as democracias criam reis (Robert Laffont, 1974). Ele já descreveu lá, mas sem denegrir, a evolução do Ve República para um regime semipresidencialista, baseado desde 1962 na eleição do Presidente da República por sufrágio universal e no facto de existir maioria. Desde então, a tendência autocrática da prática presidencial confirmou o seu diagnóstico.
Os frutos venenosos desta deriva multiplicaram-se sob a presidência de Emmanuel Macron. Tal como os seus antecessores, todos eleitos numa forma de entusiasmo encantatório pelo homem providencial, ele não tardou a experimentar a desgraça que inevitavelmente acompanha o estado de graça quando se espera tudo do salvador. Este estado de desgraça assumiu formas particularmente violentas contra ele, devido às expectativas de que a promessa de “novo mundo” deu origem entre os franceses. E questionamos uma prática presidencial vista, com ou sem razão, como autoritária e afastada das expectativas dos franceses.
Tendo como pano de fundo uma sociedade fraturada e preocupada, a crítica a Macron parece ser uma rejeição da “monarquia republicana”. E chegamos a este paradoxo: neste regime desenhado por De Gaulle em torno da preeminência presidencial, o chefe de Estado, por se considerar todo-poderoso, está mais enfraquecido do que nunca.
Mudar de República?
A actual crise política é uma ilustração flagrante deste paradoxo. O presidente jupiteriano é hoje considerado o principal responsável pelo caos político, por ter utilizado indevidamente a ferramenta constitucional da dissolução. A sequência seguinte, dedicada à procura de um novo primeiro-ministro, suscitou mais uma vez críticas à natureza monárquica da abordagem presidencial.
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