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O fim da democracia dos EUA era previsível demais – 14/11/2024 – Mundo

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Assim como outras pessoas, desde a vitória de Donald Trump meu telefone está cheio de mensagens de texto perguntando como isso pode ter acontecido (como alguns de meus amigos, colegas e conhecidos sabem, eu estava totalmente convencido de que Trump venceria essa eleição com folga). Em vez de responder detalhadamente a cada mensagem, darei minha explicação aqui.

Há 2.300 anos, pelo menos desde “A República”, de Platão, os filósofos já sabiam como os demagogos e aspirantes a tiranos vencem eleições democráticas. O processo é simples, e agora acabamos de assisti-lo.

Numa democracia, qualquer pessoa é livre para concorrer a um cargo, inclusive pessoas que são totalmente inadequadas para liderar ou presidir as instituições do governo. Um sinal revelador de inadequação é a disposição de mentir com desprendimento, especificamente ao se apresentar como um defensor contra os inimigos percebidos pelo povo, tanto externos quanto internos.

Platão considerava que as pessoas comuns eram facilmente controladas por suas emoções e, portanto, suscetíveis a esse tipo de mensagem —um argumento que forma a verdadeira base da filosofia política democrática (como argumentei num trabalho anterior).

Os filósofos também sempre souberam que esse tipo de política não está necessariamente destinado ao sucesso. Como argumentou Jean-Jacques Rousseau, a democracia é mais vulnerável quando a desigualdade numa sociedade está enraizada e se torna muito evidente.

As profundas disparidades sociais e econômicas criam as condições para que os demagogos se aproveitem dos ressentimentos das pessoas e para que a democracia acabe caindo da maneira descrita por Platão. Assim, Rousseau concluiu que a democracia exige igualdade generalizada; somente assim os ressentimentos das pessoas não poderão ser explorados tão facilmente.

Em meu próprio trabalho, tentei descrever, em detalhes minuciosos, por que e como as pessoas que se sentem prejudicadas (material ou socialmente) acabam aceitando patologias —racismo, homofobia, misoginia, nacionalismo étnico e fanatismo religioso— que, em condições de maior igualdade, elas rejeitariam.

E é exatamente dessas condições materiais para uma democracia saudável e estável que os Estados Unidos carecem hoje. Na verdade, os EUA passaram a ser definidos de forma singular por sua enorme desigualdade de riqueza, fenômeno que não pode deixar de minar a coesão social e gerar ressentimento. Com 2.300 anos de filosofia política democrática sugerindo que a democracia não é sustentável sob tais condições, ninguém deveria se surpreender com o resultado da eleição de 2024.

Mas por que, podemos nos perguntar, isso ainda não aconteceu nos EUA? O principal motivo é que houve um acordo tácito entre os políticos para não se envolverem numa forma de política tão extraordinariamente divisiva e violenta.

Lembrem-se da eleição de 2008. John McCain, o republicano, poderia ter apelado para estereótipos racistas ou teorias de conspiração sobre o nascimento de Barack Obama, mas se recusou a seguir esse caminho, corrigindo uma de suas próprias apoiadoras quando ela sugeriu que o candidato democrata fosse um “árabe nascido no exterior”. McCain perdeu, mas é lembrado como um estadista americano de integridade irrepreensível.

É claro que os políticos americanos apelam regularmente de forma mais sutil ao racismo e à homofobia para vencer as eleições; afinal, essa é uma estratégia bem-sucedida. Mas o acordo tácito de não conduzir essa política de forma explícita —o que o teórico político Tali Mendelberg chama de norma da igualdade— impediu o apelo muito aberto ao racismo. Em vez disso, isso tinha de ser feito por meio de mensagens ocultas, linguagem cifrada e estereótipos (como falar sobre “preguiça e crime no centro da cidade”).

Contudo, em condições de profunda desigualdade, esse tipo de política codificada acaba se tornando menos eficaz do que o tipo explícito. O que Trump tem feito desde 2016 é jogar fora o antigo acordo tácito, rotulando os imigrantes como vermes e seus oponentes políticos como “os inimigos internos”. Essa política explícita de “nós contra eles”, como os filósofos sempre souberam, pode ser altamente eficaz.

A filosofia política democrática, portanto, está correta em sua análise do fenômeno Trump. Tragicamente, ela também oferece uma previsão clara do que virá a seguir. De acordo com Platão, o tipo de pessoa que faz campanha dessa forma governará como um tirano.

Com base em tudo o que Trump disse e fez durante a campanha e em seu primeiro mandato, podemos esperar que Platão seja justificado mais uma vez. O domínio do Partido Republicano sobre todos os ramos do governo tornaria os EUA um Estado de partido único. O futuro pode oferecer oportunidades ocasionais para que outros disputem o poder, mas quaisquer que sejam as disputas políticas que se avizinham, muito provavelmente não se qualificarão como eleições livres e justas.

Tradução por Fabrício Calado Moreira



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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

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Kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues no Centro de Convivência — Universidade Federal do Acre

Os kits da 2ª Corrida da Ufac serão entregues aos atletas inscritos nesta quinta-feira, 23, das 9h às 17h, no Centro de Convivência (estacionamento B), campus-sede, em Rio Branco. O kit é obrigatório para participação na corrida e inclui, entre outros itens, camiseta oficial e número de peito. A 2ª Corrida da Ufac é uma iniciativa que visa incentivar a prática esportiva e a qualidade de vida nas comunidades acadêmica e externa.

 



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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

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Ufac homenageia professores com confraternização e show de talentos — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, e a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, realizaram nessa quarta-feira, 15, no anfiteatro Garibaldi Brasil, uma atividade em alusão ao Dia dos Professores. O evento teve como objetivo homenagear os docentes da instituição, promovendo um momento de confraternização. A programação contou com o show de talentos “Quem Ensina Também Encanta”, que reuniu professores de diferentes centros acadêmicos em apresentações musicais e artísticas.

“Preparamos algo especial para este Dia dos Professores, parabenizo a todos, sou muito grata por todo o apoio e pela parceria de cada um”, disse Guida.

Ednaceli Damasceno parabenizou os professores dos campi da Ufac e suas unidades. “Este é um momento de reconhecimento e gratidão pelo trabalho e dedicação de cada um.”

O presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Minoru Kinpara, reforçou o orgulho de pertencer à carreira docente. “Sinto muito orgulho de dizer que sou professor e que já passei por esta casa. Feliz Dia dos Professores.”

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

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PZ e Semeia realizam evento sobre Dia do Educador Ambiental — Universidade Federal do Acre

O Parque Zoobotânico (PZ) da Ufac e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) realizaram o evento Diálogos de Saberes Ambientais: Compartilhando Experiências, nessa quarta-feira, 15, no PZ, em alusão ao Dia do Educador Ambiental e para valorizar o papel desses profissionais na construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a sustentabilidade. A programação contou com participação de instituições convidadas.

Pela manhã houve abertura oficial e apresentação cultural do grupo musical Sementes Sonoras. Ocorreram exposições das ações desenvolvidas pelos organizadores, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sínteses da Biodiversidade Amazônica (INCT SinBiAm) e SOS Amazônia, encerrando com uma discussão sobre ações conjuntas a serem realizadas em 2026.

À tarde, a programação contou com momentos de integração e bem-estar, incluindo sessão de alongamento, apresentação musical e atividade na trilha com contemplação da natureza. Como resultado das discussões, foi formada uma comissão organizadora para a realização do 2º Encontro de Educadores Ambientais do Estado do Acre, previsto para 2026.

Compuseram o dispositivo de honra na abertura o coordenador do PZ, Harley Araújo da Silva; a secretária municipal de Meio Ambiente de Rio Branco, Flaviane Agustini; a educadora ambiental Dilcélia Silva Araújo, representando a Sema; a pesquisadora Luane Fontenele, representando o INCT SinBiAm; o coordenador de Biodiversidade e Monitoramento Ambiental, Luiz Borges, representando a SOS Amazônia; e o analista ambiental Sebastião Santos da Silva, representando o Ibama.

 



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