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Opinião: Eleitores das elites: estão me vendo agora? – 07/11/2024 – Mundo

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David Brooks

Entramos em uma nova era política. Nos últimos 40 anos ou mais, vivemos na era da informação. Nós, da classe educada, decidimos, com alguma justificativa, que a economia pós-industrial seria construída por pessoas como nós, então adaptamos políticas sociais para atender às nossas necessidades.

Nossa política educacional direcionou as pessoas para o caminho que seguimos —faculdades de quatro anos para que estivessem qualificadas para os “empregos do futuro”. Enquanto isso, o treinamento vocacional definhou. O livre comércio transferiu empregos industriais para o exterior, focando na economia do conhecimento e em empresas geridas por pessoas com diplomas avançados. Os setores financeiro e de consultoria cresceram, enquanto o emprego na manufatura diminuiu.

A geografia foi desconsiderada, concentrando capital e mão de obra qualificada em cidades como Austin, San Francisco e Washington, negligenciando outras comunidades. Políticas de imigração favoreceram mão de obra barata e qualificada, enquanto trabalhadores menos qualificados enfrentaram concorrência. A transição para tecnologias verdes beneficiou trabalhadores digitais, prejudicando aqueles na manufatura e transporte dependentes de combustíveis fósseis.

Essa grande transformação redistribuiu o respeito. Aqueles que avançaram na hierarquia acadêmica foram celebrados, enquanto os que não conseguiram foram ignorados. Isso impactou especialmente os meninos. No ensino médio, dois terços dos alunos entre os 10% com as melhores notas são meninas, enquanto cerca de dois terços dos alunos entre os 10% com as piores notas são meninos. As escolas não são estruturadas para promover o sucesso masculino, o que gera consequências pessoais ao longo da vida e, agora, nacionais.

A sociedade funcionava como um vasto sistema de segregação, elevando os academicamente talentosos acima de todos os outros. Em pouco tempo, a divisão do diploma se tornou o abismo mais importante na vida americana. Os graduados do ensino médio morrem nove anos mais cedo do que as pessoas com diploma universitário. Eles morrem de overdose de opioides a uma taxa seis vezes maior. Eles se casam menos, se divorciam mais e têm mais probabilidade de ter um filho fora do casamento. Eles têm mais probabilidade de ser obesos. Um estudo recente do American Enterprise Institute descobriu que 24% das pessoas que se formaram apenas até o ensino médio não têm nenhum amigo próximo. Eles são menos propensos do que os graduados universitários a visitar espaços públicos ou se juntar a grupos comunitários e ligas esportivas. Eles não falam a linguagem correta de justiça social nem têm o tipo de crenças de luxo que são marcadores de virtude pública.

Os abismos levaram a uma perda de fé, uma perda de confiança, um sentimento de traição. Nove dias antes das eleições, visitei uma igreja nacionalista cristã no Tennessee. O culto foi iluminado por uma fé genuína, é verdade, mas também por uma atmosfera corrosiva de amargura, agressão, traição. Enquanto o pastor falava sobre os Judas que buscam nos destruir, a frase “mundo sombrio” me veio à mente —uma imagem de um povo que se percebe vivendo sob ameaça constante e em uma cultura de extrema desconfiança. Essas pessoas, e muitos outros americanos, não estavam interessados na política de alegria que Kamala Harris e os outros graduados em direito estavam oferecendo.

O Partido Democrata tem um trabalho: combater a desigualdade. Aqui estava um grande abismo de desigualdade bem diante de seus olhos e de alguma forma muitos democratas não o viram. Muitos à esquerda focaram na desigualdade racial, de gênero e LGBTQ. Acho que é difícil focar na desigualdade de classe quando você frequentou uma faculdade com uma verba de vários bilhões de dólares e faz greenwashing e seminários de diversidade para uma grande corporação. Donald Trump é um narcisista monstruoso, mas há algo errado em uma classe educada que se olha no espelho da sociedade e vê apenas a si mesma.

Enquanto a esquerda se voltava para a arte performática identitária, Trump mergulhava na guerra de classes com os dois pés. Seu ressentimento nascido no Queens em relação às elites de Manhattan se alinhou magicamente com a animosidade de classe sentida pelas pessoas rurais em todo o país. Sua mensagem era simples: essas pessoas te traíram, e além disso são idiotas.

Em 2024, ele construiu exatamente o que o Partido Democrata tentou construir —uma maioria multirracial da classe trabalhadora. Seu apoio aumentou entre trabalhadores negros e hispânicos. Ele obteve ganhos impressionantes em lugares como Nova Jersey, Bronx, Chicago, Dallas e Houston. De acordo com as pesquisas de boca de urna da NBC, ele ganhou um terço dos eleitores de cor. Ele é o primeiro republicano a ganhar no voto popular em 20 anos.

Os democratas obviamente precisam fazer um exame de consciência. O governo Biden tentou atrair a classe trabalhadora com subsídios e estímulos, mas não há solução econômica para o que é principalmente uma crise de respeito. Haverá alguns à esquerda que dirão que Trump venceu por causa do racismo, sexismo e autoritarismo inerentes ao povo americano. Aparentemente, essas pessoas adoram perder e querem fazer isso de novo e de novo e de novo.

O restante de nós precisa olhar para esse resultado com humildade. Os eleitores americanos nem sempre são sábios, mas geralmente são sensatos, e têm algo a nos ensinar. Meu pensamento inicial é que tenho que reexaminar minhas próprias convicções. Sou moderado. Gosto quando os candidatos democratas se movem para o centro. Mas tenho que confessar que Kamala fez isso de forma bastante eficaz e não funcionou. Talvez os democratas tenham que adotar uma ruptura ao estilo Bernie Sanders —algo que fará pessoas como eu se sentirem desconfortáveis.

O Partido Democrata pode fazer isso? O partido das universidades, dos subúrbios abastados e dos núcleos urbanos hipster pode fazer isso? Bem, Trump sequestrou um partido corporativo, que dificilmente parecia ser um veículo para uma revolta proletária, e fez exatamente isso. Aqueles de nós que menosprezam Trump deveriam baixar a guarda —ele fez algo que nenhum de nós foi capaz de fazer.

Mas estamos entrando em um período de águas turbulentas. Trump é um semeador de caos, não de fascismo. Nos próximos anos, uma praga de desordem descerá sobre a América, e talvez sobre o mundo, abalando tudo. Se você odeia a polarização, espere até experimentarmos a desordem global. Mas no caos há oportunidade para uma nova sociedade e uma nova resposta ao assalto político, econômico e psicológico trumpista. Estes são tempos que testam as almas das pessoas, e veremos do que somos feitos.



Leia Mais: Folha

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Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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