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os bastidores da guerra interna da quadrilha do bicheiro Rogério Andrade

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‘E aí, mano! Tô de bobeira. Vamos logo resolver isso”, disse o sargento PM Bruno Marques da Silva, o Bruno Estilo, numa mensagem de áudio enviada a um comparsa na tarde de 4 de setembro de 2021. “Tô esperando o moleque informar que o rapaz tá lá”, respondeu o interlocutor. Após quatro horas, Estilo cansou de esperar: “Daqui a pouco vou ficar louco aqui, e o moleque não apareceu!”, enviou num novo áudio, acompanhado de uma foto que mostrava uma pistola, um carregador e um copo de cerveja sobre uma mesa. Pouco depois das 21h, a empreitada foi adiada. “Nem sinal do moleque. Não apareceu no barbeiro”, informou o comparsa ao PM.

  • Relembre denúncia e prisões: Rogério de Andrade tem 11 anotações criminais na Justiça
  • Ação anterior: Rogério Andrade e presidente da Mocidade são alvos de operação sobre assassinato feita pela Polícia Civil do Rio e pelo Ministério Público

Para a Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio (Gaeco/MPRJ), o negócio que seria “resolvido” pela dupla naquela noite era a execução de um desafeto, Fábio Romualdo Mendes, que acabou adiada porque o alvo não foi cortar o cabelo. Três semanas depois, Mendes foi executado com mais de dez tiros quando aguardava, em seu carro, sua esposa se vacinar num posto médico em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio.

As trocas de mensagens — Foto: Editoria de Arte

Mensagens extraídas do celular de Bruno Estilo com autorização da Justiça e o depoimento de uma testemunha-chave revelam que esse crime faz parte de uma guerra interna na quadrilha de Rogério Andrade, patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel e contraventor mais poderoso do Rio. Os bastidores do conflito têm traições, espionagem, atuação de um agente duplo e até uma aliança dos bicheiros com milicianos, que fornecem as armas usadas nas execuções.

Os bastidores da guerra — Foto: Editoria de Arte
Os bastidores da guerra — Foto: Editoria de Arte

As provas que estão na investigação — obtidas pelo GLOBO — mostram que dois grupos passaram a disputar poder dentro da organização criminosa após o assassinato de Fernando Iggnácio, arquirrival de Rogério numa guerra de mais de 20 anos pelo espólio criminoso do capo Castor de Andrade. De um lado, estava o braço direito de Rogério, Flávio da Silva Santos, presidente da Mocidade e investigado por gerenciar pontos de jogo ilegal do chefe em Bangu, Realengo e Padre Miguel. A região era o cerne da disputa com Iggnácio e, após o homicídio, passou a ser monopolizada pelo grupo, que também é integrado pelo sargento Bruno Estilo e pelo ex-PM Thiago Soares Andrade Silva, o Batata.

Já o bando rival é chefiado pelo sargento reformado Márcio Araújo de Souza, ex-chefe de segurança de Andrade, hoje réu sob a acusação de ser mandante do homicídio de Iggnácio num heliponto na Barra da Tijuca, em 2020. Fábio Mendes, alvo de Bruno Estilo, seria seu secretário e o responsável por recolher o dinheiro proveniente do jogo ilegal no Recreio e nas Vargens, área sob controle de Araújo. Nos seis meses antes de ser morto, Mendes fazia visitas semanais ao chefe na Unidade Prisional da PM, onde Araújo estava preso à época pelo homicídio de Iggnácio. Outros acusados do crime também integrariam o grupo, como o ex-PM Rodrigo Silva das Neves e Ygor Rodrigues Santos da Cruz, o Farofa, cujo corpo foi encontrado pela polícia com marcas de tiros, em 2022, na Zona Oeste.

Doze policiais penais participaram de escolta de bicheiro até o aeroporto do Galeão

Doze policiais penais participaram de escolta de bicheiro até o aeroporto do Galeão

Além do homicídio de Mendes, a guerra contabiliza pelo menos mais dois assassinatos e um atentado malsucedido: em dezembro de 2023, homens encapuzados atiraram contra casa de Araújo, chefe de um dos grupos rivais, mas ele sobreviveu. Conversas extraídas do aparelho de Bruno Estilo, no entanto, indicam que a guerra pode estar por trás de mais execuções. Apenas três dias após o assassinato de Mendes, o PM Bruno Estilo, que conciliava sua escala no 39º BPM (Belford Roxo) com a atuação como pistoleiro, escreveu a um comparsa: “Tem que deixar as armas com quem pode pegar rápido. Toda hora tem missão. Nunca vi tanta gente pra morrer”. Atualmente, Bruno Estilo está preso pelo homicídio de Mendes.

As provas — Foto: Editoria de Arte
As provas — Foto: Editoria de Arte

O conflito interno foi revelado à polícia, pela primeira vez, em novembro de 2021 durante um depoimento prestado à Delegacia de Homicídios (DH) por um ex-integrante da quadrilha de Andrade, que estava sendo ameaçado por ex-comparsas que descobriram que ele atuava como agente duplo. No depoimento, revelou a existência dos dois grupos, identificou seus integrantes e confirmou que, de fato, “pegava informações do grupo de Flávio Santos e passava para Araújo”. O homem esperava que o chefe da segurança pudesse colocá-lo na folha de pagamento de Rogério.

Segundo o depoimento, Araújo chegou até a emprestar um carro para que ele pudesse “investigar” quem estava matando seus comparsas. As táticas de espionagem usadas pelo homem incluíam até um rastreador, que ele colocou no carro de um rival para monitorar seus passos. O objetivo era passar a localização de seus desafetos à polícia. Menos de 24 horas após o depoimento, Bruno Estilo, ligado a Flávio Santos, já teve acesso a uma cópia, enviada por um comparsa preso: “Falso do c.”, escreveu o PM.

O rastro de sangue — Foto: Editoria de Arte
O rastro de sangue — Foto: Editoria de Arte

  • Contravenção e guerra: bicheiro Rogério Andrade é preso por envolvimento na morte de Fernando Iggnácio e vai para presídio federal

A investigação também escancarou os laços entre a quadrilha de Andrade e a milícia: o fornecedor de armas que seriam usadas em execuções pelo bando de Flávio Santos era André Costa Bastos, o Boto, chefe do grupo paramilitar que domina Curicica, em Jacarepaguá, e o Terreirão, no Recreio. Numa troca de mensagens com Bruno Estilo em 1º de novembro, Boto diz para o comparsa pegar uma pistola para usar num crime. Já no depoimento do ex-integrante do grupo, ele contou que foi até Jacarepaguá com Bruno Estilo buscar três fuzis com integrantes da milícia de Boto que seriam usadas pelo bando. Atualmente, Boto está preso e condenado por tráfico internacional de armas e munição.

A origem da guerra ainda é um mistério. Uma das linhas de investigação apura se o estopim do conflito foi o homicídio de Iggnácio: após o crime, integrantes do bando de Flávio Santos teriam começado a matar os rivais, que estavam envolvidos na morte, como queima de arquivo. Após ser preso em outubro passado por jogar uma arma de uso restrito pela janela de seu prédio durante o cumprimento de um mandado de busca em sua casa, Flávio Santos foi libertado e é investigado por participação em homicídios. Procurada, sua defesa afirmou que “se reserva o direito de prestar os seus esclarecimentos nos autos”. Já Rogério também foi preso em outubro, sob acusação de ser o mandante do homicídio de Iggnácio. O GLOBO não conseguiu contato com a sua defesa nem com a dos demais citados.

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Ufac promove ações pelo fim da violência contra a mulher — Universidade Federal do Acre

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A Ufac realizou ações de conscientização pelo fim da violência contra a mulher, em alusão à campanha Agosto Lilás. A programação, que ocorreu nesta segunda-feira, 25, incluiu distribuição de adesivos na entrada principal do campus-sede, às 7h, com a participação de pró-reitores, membros da administração superior e servidores, que entregaram mais de 2 mil adesivos da campanha às pessoas que acessavam a instituição. Outro adesivaço foi realizado no Restaurante Universitário (RU), às 11h.

“É uma alegria imensa a Ufac abraçar essa causa tão importante, que é a não violência contra a mulher”, disse a reitora Guida Aquino. “Como mulher, como mãe, como gestora, como cidadã, eu defendo o nosso gênero. Precisamos de mais carinho, mais afeto, mais amor e não violência. Não à violência contra a mulher, sigamos firmes e fortes.”
Até 12h, o estacionamento do RU recebeu o Ônibus Lilás, da Secretaria de Estado da Mulher, oferecendo atendimento psicológico, jurídico e outras orientações voltadas ao enfrentamento da violência contra a mulher.

Agosto Lilás



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Evento no PZ para estudantes do Ifac difunde espécies botânicas — Universidade Federal do Acre

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A Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex) da Ufac realizou a abertura do Floresta em Evidência, nesta quarta-feira, 20, no auditório da Associação dos Docentes (Adufac). O projeto de extensão segue até quinta-feira, 21, desenvolvido pelo Herbário do Parque Zoobotânico (PZ) da Ufac em parceria com o Instituto Federal do Acre (Ifac) e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A iniciativa tem como público-alvo estudantes do campus Transacreana do Ifac.

O projeto busca difundir conhecimentos teóricos e práticos sobre coleta, identificação e preservação de espécies botânicas, contribuindo para valorização da biodiversidade amazônica e fortalecimento da pesquisa científica na região.

Representando a Proex, a professora Keiti Roseani Mendes Pereira enfatizou a importância da extensão universitária como espaço de democratização do conhecimento. “A extensão nos permite sair dos muros da universidade e alcançar a sociedade.”

O coordenador do PZ, Harley Araújo, destacou a contribuição do parque para a conservação ambiental e a formação de profissionais. “A documentação botânica está diretamente ligada à conservação. O PZ é uma unidade integradora da universidade que abriga mais de 400 espécies de animais e mais de 340 espécies florestais nativas.”

A professora do Ifac, Rosana Cavalcante, lembrou que a articulação entre instituições é fundamental para consolidar a pesquisa no Acre. “Ninguém faz ciência sozinho. Esse curso é fruto de parcerias e amizades acadêmicas que nos permitem avançar. Para mim, voltar à Ufac nesse contexto é motivo de grande emoção.”

A pesquisadora Viviane Stern ressaltou a relevância da etnobotânica como campo de estudo voltado para a interação entre pessoas e plantas. “A Amazônia é enorme e diversa; conhecer essa relação entre comunidades e a floresta é essencial para compreender e preservar. Estou muito feliz com a recepção e em poder colaborar com esse trabalho em parceria com a Ufac e o Ifac.”

O evento contou ainda com a palestra da professora Andréa Rocha (Ufac), que abordou o tema “Justiça Climática e Produção Acadêmica na Amazônia”.

Nesta quarta-feira, à tarde, no PZ, ocorre a parte teórica do minicurso “Coleta e Herborização: Apoiando a Documentação da Sociobiodiversidade na Amazônia”. Na quinta-feira, 21, será realizada a etapa prática do curso, também no PZ, encerrando o evento.



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Ufac recebe deputado Tadeu Hassem e vereadores de Capixaba para tratar de cursos e transporte estudantil — Universidade Federal do Acre

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A reitora da Universidade Federal do Acre (Ufac), Guida Aquino, recebeu, na manhã desta segunda-feira, 18, no gabinete da reitoria, a visita do deputado estadual Tadeu Hassem (Republicanos) e de vereadores do município de Capixaba. A pauta do encontro envolveu a possibilidade de oferta de cursos de graduação no município e apoio ao transporte de estudantes daquele município que frequentam a instituição em Rio Branco.

A reitora Guida Aquino destacou que a interiorização do ensino superior é um compromisso da universidade, mas depende de emendas parlamentares para custeio e viabilização dos cursos. “O meu partido é a educação, e a universidade tem sido o caminho de transformação para jovens do interior. É por meio de parcerias e recursos destinados por parlamentares que conseguimos levar cursos fora da sede. Precisamos estar juntos para garantir essas oportunidades”, afirmou.

Atualmente, 32 alunos de Capixaba estudam na Ufac. A demanda apresentada pelos parlamentares inclui parcerias com o governo estadual para garantir transporte adequado, além da implantação de cursos a distância por meio do polo da Universidade Aberta do Brasil (UAB), em parceria com a prefeitura.

O deputado Tadeu Hassem reforçou o pedido de apoio e colocou seu mandato à disposição para buscar soluções junto ao governo estadual. “Estamos tratando de um tema fundamental para Capixaba. Queremos viabilizar transporte aos estudantes e também novas possibilidades de cursos, seja de forma presencial ou a distância. Esse é um compromisso que assumimos com a população”, declarou.

A vereadora Dra. Ângela Paula (PL) ressaltou a transformação pessoal que viveu ao ingressar na universidade e defendeu a importância de ampliar esse acesso para jovens de Capixaba. “A universidade mudou minha vida e pode mudar a vida de muitas outras pessoas. Hoje, nossos alunos têm dificuldades para se deslocar e muitos desistem do sonho. Precisamos de sensibilidade para garantir oportunidades de estudo também no nosso município”, disse.

Também participaram da reunião a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Abreu Damasceno; o presidente da Câmara Municipal de Capixaba, Diego Paulista (PP); e o advogado Amós D’Ávila de Paulo, representante legal do Legislativo municipal.



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