NOSSAS REDES

MUNDO

Por que a guerra comercial de Trump causará caos – 19/11/2024 – Martin Wolf

PUBLICADO

em

Donald Trump deve ser levado ao pé da letra ou a sério? Salena Zito ofereceu essas alternativas em uma coluna no The Atlantic publicada em setembro de 2016. Hoje, antes de ele obter poder pela segunda vez, Trump deve ser levado mais a sério e mais literalmente do que da última vez.

As evidências vêm de suas nomeações, notavelmente Robert F Kennedy Jr na saúde, Pete Hegseth na defesa, Tulsi Gabbard na inteligência nacional e Matt Gaetz na justiça. Essas pessoas mostram que Trump será muito mais radical. Além disso, a política comercial há muito é a área em que ele deve ser levado tanto a sério quanto literalmente; o protecionismo não é apenas uma crença pessoal de longa data, mas uma à qual ele já estava dedicado da última vez.

Infelizmente, o fato de que Trump precisa ser levado ao pé da letra e a sério não significa que ele (ou aqueles ao seu redor) entendam a economia do comércio. Se ele está disposto a acreditar nas bobagens “anti-vacina” de Kennedy, por que se importaria com o que os economistas pensam sobre isso?

Ele comete dois grandes erros: primeiro, não tem noção de vantagem comparativa; segundo e pior, não entende que o saldo comercial é determinado pela oferta e demanda agregadas, não pela soma dos saldos bilaterais. É por isso que sua guerra tarifária não reduzirá os déficits comerciais dos Estados Unidos. Pelo contrário, especialmente no contexto atual, é mais provável que leve à inflação, conflito com o Federal Reserve e perda de confiança no dólar.

Se alguém quer produzir mais de algo —substitutos de importação, por exemplo, como Trump deseja— os recursos devem vir de algum lugar. As perguntas são “de onde?” e “como?”. A resposta pode ser “das exportações, via um dólar mais forte”, já que as tarifas reduzem a demanda por moeda estrangeira, com a qual se compram importações. Dessa forma, um imposto sobre importações acaba sendo um imposto sobre exportações. O saldo comercial não melhorará.

Fundamentalmente, a macroeconomia sempre vence, como Richard Baldwin do IMD em Lausanne nos lembra em uma nota para o Peterson Institute for International Economics. O saldo comercial é a diferença entre rendas e gastos agregados (ou poupança e investimento). Enquanto isso não mudar, o saldo comercial também não mudará.

Os EUA têm gasto consideravelmente mais do que sua renda há muito tempo. Isso é mostrado no fornecimento líquido consistente de poupança estrangeira, que em média foi de 3,9% do PIB, entre o segundo trimestre de 2021 e 2024. Assim, os setores domésticos devem, em conjunto, ter registrado déficits correspondentes.

De fato, o superávit de poupança sobre investimento no setor doméstico foi em média de 2,3% do PIB e no setor corporativo de 0,5%. Em suma, apenas o governo registrou um déficit, que em média foi de enormes 6,7% do PIB. Se alguém quer eliminar os déficits externos, os setores domésticos devem ajustar-se na direção oposta, em direção a superávits maiores de poupança, com o maior ajuste certamente vindo desses enormes déficits fiscais.

No entanto, como Olivier Blanchard observa em outro artigo para o Peterson Institute, Trump prometeu estender os cortes de impostos promulgados em 2017. Além disso, ele sugeriu que os benefícios da Seguridade Social e gorjetas se tornem totalmente não tributáveis, que as deduções de impostos estaduais e locais sejam aumentadas, e que a taxa de imposto corporativo, que foi reduzida de 35% para 21% em 2017, seja ainda mais diminuída para 15% para empresas de manufatura. Ele também sugeriu a deportação em massa de cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados.

Em resumo, ele planeja reduzir a oferta e estimular a demanda. Isso piorará o saldo comercial, não o melhorará. Além disso, também criará pressão inflacionária, que o Fed terá que reprimir. Enquanto isso, a dívida federal continuará em seu caminho explosivo, talvez ameaçando a confiança no próprio dólar.

Em suma, não há possibilidade de reduzir o déficit comercial geral com as políticas que Trump propõe. Reduzir o déficit bilateral com a China apenas aumentaria os déficits com outros. Isso é inevitável, dadas as pressões macroeconômicas persistentes. Além disso, suas políticas comerciais discriminatórias, com tarifas de 60% sobre a China e de 10% a 20% sobre outros, estão destinadas a se espalhar.

Trump e seus funcionários verão que as exportações de outros países estão substituindo as da China via transbordo, montagem em outros países ou competição direta. As respostas serão ou a imposição de “regras de origem”, com toda a burocracia que isso requer, ou um aumento nas tarifas para 60% sobre todas as importações de manufaturados. Enquanto isso, sem dúvida, também haverá retaliação.

Tal disseminação de altas tarifas nos EUA e em todo o mundo provavelmente levará a um rápido declínio no comércio e na produção mundial. O Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Social do Reino Unido prevê: “Cumulativamente, o PIB real dos EUA pode ser até 4% menor do que seria sem a imposição de tarifas.”

Meu palpite é que isso é muito otimista, dada a incerteza que também seria desencadeada. No entanto, mesmo assim, os déficits externos dos EUA podem não encolher. Isso dependeria de se os gastos caíssem ainda mais do que a produção. Se isso acontecesse, o saldo comercial melhoraria. Mas isso também significaria uma recessão profunda.

Na semana passada, apontei que a política comercial é muito improvável de reverter o declínio de longo prazo na participação de empregos na manufatura dos EUA. Esta semana, acrescento que tarifas não apoiadas por uma redução nos gastos agregados em relação à produção não eliminarão déficits externos. Tarifas sozinhas, especialmente tarifas discriminatórias sobre um país, apenas causarão uma bagunça econômica e política, à medida que se espalham como ervas daninhas pelo globo.

Quando o rei Canuto da Inglaterra supostamente se sentou diante da maré que subia, ele o fez para provar que não podia comandar o mar. Donald Trump acredita que pode. Ele ficará desapontado. E, infelizmente, nós também.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Leia Mais: Folha

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

MUNDO

Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

PUBLICADO

em

O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

Leia mais notícia boa

Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MUNDO

Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

PUBLICADO

em

Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

Leia mais notícia boa

A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MUNDO

Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

PUBLICADO

em

O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

Leia mais notícia boa

Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

//www.instagram.com/embed.js



Leia Mais: Só Notícias Boas

Continue lendo

MAIS LIDAS