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Seven, 30 anos depois, é referência sobre serial killers – 31/01/2025 – Ilustrada

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Marcelo Miranda

“O que tem na caixa?”. Entre desespero e raiva, o detetive David Mills, interpretado por Brad Pitt, vocifera ao parceiro William Somerset, papel de Morgan Freeman, sobre o conteúdo do pacote enviado pelo ardiloso John Doe, assassino serial vivido por Kevin Spacey. O desfecho de “Seven: Os Sete Crimes Capitais” até hoje reverbera no imaginário, mesmo 30 anos depois do lançamento do filme.

Apesar do tempo decorrido, vamos preservar aqui os momentos-chave deste segundo longa-metragem de David Fincher, especialmente porque ele teve reestreia nesta quinta-feira, dia 30, numa cópia restaurada e em algumas salas de cinema Imax.

É a oportunidade de toda uma geração ver ou rever “Seven” no esplendor da tela grande e absorver as minúcias que um cineasta obsessivo como Fincher faz questão de explorar nos sons e nas imagens. Mais que a trama policial, o impacto está na geografia e atmosfera de uma cidade não nomeada, onde a chuva não dá trégua, o crime domina as ruas e a melancolia da violência e da desesperança contamina todo tipo de relação.

A trama escrita por Andrew Kevin Walker trata de dois investigadores na caçada a um metódico matador que está na autodeclarada missão divina de extirpar pessoas que cometeram os chamados sete pecados capitais: avareza, gula, ira, luxúria, preguiça, soberba e inveja. Ratificada pela Igreja Católica desde o século 13, a lista move as idas e vindas de Mills e Somerset, mas é Doe quem revela domínio da situação, culminando no desfecho devastador, que por décadas assombra espectadores entusiastas.

“Seven” chegou aos cinemas apenas três anos depois do sucesso de público e crítica de “O Silêncio dos Inocentes”, ganhador de cinco estatuetas do Oscar.

O filme de Jonathan Demme esculpiu um tipo de suspense psicológico de crime, no qual os antagonistas revelam métodos de ação profundamente detalhados, com propósitos definidos e muitas vezes desafiando a polícia com a certeza narcísica de serem superiores a quem os persegue.

Após estrear, “Seven” se tornou a sétima maior bilheteria norte-americana de 1995 e angariou mais e mais fãs no boca a boca. O fenômeno surpreendeu os executivos do estúdio New Line, que chegaram a pedir a Fincher para amenizar o final, sob risco de rejeição das plateias. Pois a conclusão de “Seven” não só abalou espectadores, mas serviu para catapultar uma série de similares que dali adiante buscaram emular o estilo, a abordagem e a atmosfera de Fincher.

Alguns dos elementos de mais força hipnótica estão na mistura de referências estilísticas a formar um mosaico dramático de forte sensorialidade, reforçados pela fotografia granulada e de poucas cores, pela tensão minimalista da trilha sonora e pela gravidade com que o enredo se desenvolve.

A narrativa “neonoir”, absorvida de títulos como “Chinatown”, de 1974, divide-se ao ritmo frenético de “Perseguidor Implacável”, de 1971, ou à sujeira humana e urbana de “Taxi Driver”, de 1976. Algumas quebras de expectativa à época reforçavam o estranhamento, como Brad Pitt num papel a extrapolar a então conhecida persona de galã, inserindo beleza e carisma num enredo que não dependia exatamente disso, e sim da postura mais sóbria que o ator soube incorporar.

Ao lado dele, uma Gwyneth Paltrow em começo de carreira e um Morgan Freeman num ápice de experiência e integridade formavam o grupo positivo do filme.

Em contraponto, havia o assassino de Kevin Spacey, a causar arrepios no terço final com provocações ambíguas e mal-intencionadas. Curiosamente, no mesmo ano, Spacey, creditado apenas nos letreiros finais, talvez para manter mistério sobre sua participação, interpretara outro personagem pouco confiável em “Os Suspeitos”, de Bryan Singer. Todos os quatro nomes do elenco de “Seven” posteriormente foram premiados com algum Oscar de interpretação por filmes distintos ao longo dos anos.

A repercussão não se restringiu ao sucesso imediato. Assim como “Seven” veio de diversos referenciais, ele mesmo virou modelo a um punhado de histórias similares nos anos seguintes. Ainda na década de 1990, títulos como “Ressurreição: Retalhos de um Crime” e “O Colecionador de Ossos”, ambos de 1999, nem escondiam a carona no fascínio do público por mais suspenses como “Seven”.

No novo século, “Jogos Mortais” inaugurou em 2004 uma franquia até hoje em andamento, tendo por base o matador John Kramer, em muito similar às filosofias morais de John Doe e pegando dele até o nome parecido. A primeira temporada da série “True Detective”, em 2014, também é quase uma reimaginação do filme de Fincher.

O próprio diretor de “Seven” fez derivações de seu primeiro sucesso, retornando ao universo melancólico e violento na caçada a serial killers em “Zodíaco”, de 2007, “Os Homens que não Amavam as Mulheres”, de 2011, e a série “Mindhunters”, encerrada em 2019 com duas temporadas.

Produções recentes como “Batman”, de Matt Reeves, em 2022, e, “Longlegs: Vínculo Mortal”, com Nicolas Cage, em 2024, são herdeiros diretos e assumidos de muitos elementos de “Seven”.

Certo estava John Doe, que a certa altura, sendo levado pelos policiais ao terrível desfecho de seus planos, diz: “Quando isso acabar, as pessoas mal vão entender, mas não vão poder negar. Estou dando o exemplo. O que fiz vai fazê-las quebrarem a cabeça, estudarem e seguirem para sempre”.

De certa forma, David Fincher e o roteirista Andrew Walker se expressaram ali, na voz e mente de um personagem eternizado que sabia o tempo todo o que estava a fazer.



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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou o encerramento do curso de aperfeiçoamento em cuidado pré-natal na atenção primária à saúde, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (Semsa). O evento, que ocorreu nessa terça-feira, 11, no auditório do E-Amazônia, campus-sede, marcou também a primeira mostra de planos de intervenção que se transformaram em ações no território, intitulada “O Cuidar que Floresce”.

Com carga horária de 180 horas, o curso qualificou 70 enfermeiros da rede municipal de saúde de Rio Branco, com foco na atualização das práticas de cuidado pré-natal e na ampliação da atenção às gestantes de risco habitual. A formação teve início em março e foi conduzida em formato modular, utilizando metodologias ativas de aprendizagem.

Representando a reitora da Ufac, Guida Aquino, o diretor de Ações de Extensão da Proex, Gilvan Martins, destacou o papel social da universidade na formação continuada dos profissionais de saúde. “Cada cursista leva consigo o conhecimento científico que foi compartilhado aqui. Esse é o compromisso da Ufac: transformar o saber em ação, alcançando as comunidades e contribuindo para a melhoria da assistência às mulheres atendidas nas unidades.” 

A coordenadora do curso, professora Clisângela Lago Santos, explicou que a iniciativa nasceu de uma demanda da Sesacre e foi planejada de forma inovadora. “Percebemos que o modelo tradicional já não surtia o efeito esperado. Por isso, pensamos em um formato diferente, com módulos e metodologias ativas. Foi a nossa primeira experiência nesse formato e o resultado foi muito positivo.”

Para ela, a formação representa um esforço conjunto. “Esse curso só foi possível com o envolvimento de professores, residentes e estudantes da graduação, além do apoio da Rede Alyne e da Sesacre”, disse. “Hoje é um dia de celebração, porque quem vai sentir os resultados desse trabalho são as gestantes atendidas nos territórios.” 

Representando o secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, a diretora de Políticas de Saúde da Semsa, Jocelene Soares, destacou o impacto da qualificação na rotina dos profissionais. “Esse curso veio para aprimorar os conhecimentos de quem está na ponta, nas unidades de saúde da família. Sei da dedicação de cada enfermeiro e fico feliz em ver que a qualidade do curso está se refletindo no atendimento às nossas gestantes.”

A programação do encerramento contou com uma mostra cultural intitulada “O Impacto da Formação na Prática dos Enfermeiros”, que reuniu relatos e produções dos participantes sobre as transformações promovidas pelo curso em suas rotinas de trabalho. Em seguida, foi realizada uma exposição de banners com os planos de intervenção desenvolvidos pelos cursistas, apresentando as ações implementadas nos territórios de saúde. 

Também participaram do evento o coordenador da Rede Alyne, Walber Carvalho, representando a Sesacre; a enfermeira cursista Narjara Campos; além de docentes e residentes da área de saúde da mulher da Ufac.

 



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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

O Colégio de Aplicação (CAp) da Ufac realizou uma minimaratona com participação de estudantes, professores, técnico-administrativos, familiares e ex-alunos. A atividade é um projeto de extensão pedagógico interdisciplinar, chamado Maracap, que está em sua 11ª edição. Reunindo mais de 800 pessoas, o evento ocorreu em 25 de outubro, no campus-sede da Ufac.

Idealizado e coordenado pela professora de Educação Física e vice-diretora do CAp, Alessandra Lima Peres de Oliveira, o projeto promove a saúde física e social no ambiente estudantil, com caráter competitivo e formativo, integrando diferentes áreas do conhecimento e estimulando o espírito esportivo e o convívio entre gerações. A minimaratona envolve alunos dos ensinos fundamental e médio, do 6º ano à 3ª série, com classificação para o 1º, 2º e 3º lugar em cada categoria. 

“O Maracap é muito mais do que uma corrida. Ele representa a união da nossa comunidade em torno de valores como disciplina, cooperação e respeito”, disse Alessandra. “É também uma proposta de pedagogia de inclusão do esporte no currículo escolar, que desperta nos estudantes o prazer pela prática esportiva e pela vida saudável.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou a importância do projeto como uma ação de extensão universitária que conecta a Ufac à sociedade. “Projetos como o Maracap mostram como a extensão universitária cumpre seu papel de integrar a universidade à comunidade. O Colégio de Aplicação é um espaço de formação integral e o esporte é uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento humano, social e educacional.”

 



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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

O curso e o Centro Acadêmico de Letras/Português da Ufac iniciaram, nessa segunda-feira, 10, no anfiteatro Garibaldi Brasil, sua 24ª Semana Acadêmica, com o tema “Minha Pátria é a Língua Pretuguesa”. O evento é dedicado à reflexão sobre memória, decolonialidade e as relações históricas entre o Brasil e as demais nações de língua portuguesa. A programação segue até sexta-feira, 14, com mesas-redondas, intervenções artísticas, conferências, minicursos, oficinas e comunicações orais.

Na abertura, o coordenador da semana acadêmica, Henrique Silvestre Soares, destacou a necessidade de ligar a celebração da língua às lutas históricas por soberania e justiça social. Segundo ele, é importante que, ao celebrar a Semana de Letras e a independência dos países africanos, se lembre também que esses países continuam, assim como o Brasil, subjugados à força de imperialismos que conduzem à pobreza, à violência e aos preconceitos que ainda persistem.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, salientou o compromisso ético da educação e reforçou que a universidade deve assumir uma postura crítica diante da realidade. “A educação não é imparcial. É preciso, sim, refletir sobre essas questões, é preciso, sim, assumir o lado da história.”

A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou a força do tema proposto. Para ela, o assunto é precioso por levar uma mensagem forte sobre o papel da universidade na sociedade. “Na própria abertura dos eventos na faculdade, percebemos o que ocorre ao nosso redor e que não podemos mais tratar como aula generalizada ou naturalizada”, observou.

O diretor do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela), Selmo Azevedo Pontes, reafirmou a urgência do debate proposto pela semana. Ele lembrou que, no Brasil, as universidades estiveram, durante muitos anos, atreladas a um projeto hegemônico. “Diziam que não era mais urgente nem necessário, mas é urgente e necessário.”

Também estiveram presentes na cerimônia de abertura o vice-reitor, Josimar Batista Ferreira; o coordenador de Letras/Português, Sérgio da Silva Santos; a presidente do Cela, Thaís de Souza; e a professora do Laboratório de Letras, Jeissyane Furtado da Silva.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 

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