NOSSAS REDES

ACRE

Sexo: Por que o tema não é assunto nas famílias? – 14/01/2025 – Equilíbrio

PUBLICADO

em

Bárbara Blum

A família tradicional brasileira vive um momento conservador, segundo a psicanalista e professora de psicologia do mestrado de Educação Sexual da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Patrícia Porchat. Tão conservador que falar sobre sexo está rarefeito —reflexo de um momento político fechado para questões da sexualidade, ela diz.

A conversa sobre sexo acontece pouco na esfera doméstica, diz Porchat. “Existe na forma de um alerta contra um perigo ou como uma proibição.” A constatação parte do contato com as secretarias de educação e escolas públicas, feito a partir da universidade e do programa de educação sexual.

A psicóloga observou que as conversas tendem a ser associadas a moralismo —sexo só depois do casamento, meninas tomarem cuidado para não ficar malfaladas— e pouco se fala sobre as ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e o “praticamente nada sobre prazer”.

Segundo a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, que é professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, muitas famílias temem que a educação sexual precipite o início da vida sexual dos adolescentes. “Mas estudos indicam que o contrário acontece: quanto mais educado o jovem [sobre o tema], mais ele aguarda.” De fato, um documento de 2019 da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) analisou programas de educação sexual ao redor do mundo e concluiu que nenhum deles gerou maior atividade sexual em jovens.

Abdo diz que a questão da falta de diálogo sobre sexo nas famílias não é novidade —a questão está no cerne do início da educação sexual nas escolas, na década de 1970. “Como [a educação sexual] não era fornecida pelas famílias, delegou-se esse papel às escolas”, conta.

Para ela, era a alternativa possível no momento, mas não a melhor. “É uma educação coletiva, não é personalizada. Acaba apresentando temas inéditos para uns e que não interessam a outros, que têm mais experiência.”

O modelo ganhou força, mas nunca livre de embates, que persistem até hoje. Segmentos conservadores da sociedade brigam para que as escolas tirem a educação sexual e qualquer menção ao tema de seus currículos. O deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS) protocolou um projeto de lei, em 2023, para proibir a educação sexual no ensino básico.

Abdo diz que, inicialmente, as famílias se mostraram interessadas na educação sexual nas escolas, cenário diferente do que se apresenta hoje. “A maioria achava interessante porque os livrava dessa tarefa”, diz.

Para Regina Schwandner, diretora do Instituto Criança É Vida, que dá formação no tema em parceria com ONGs, o assunto já foi mais fácil de ser tratado. Hoje, até o nome educação sexual foi substituído por um mais brando: educação em sexualidade.

Abdo observa que os pais não são contra a educação sexual, mas que eles “não se sentem à vontade para falar disso”. Ela conta que nas escolas em que aplica educação sexual, o convite para as aulas é estendido aos pais, mas eles não costumam comparecer aos eventos.

A questão é que o assunto vai muito além de como colocar camisinha na banana —clássico das aulas de educação sexual. “É importante falar dos riscos do sexo não consensual“, diz Abdo. A sexóloga diz que o tema é, ainda, termômetro de saúde. “É um excelente parâmetro de qualidade de vida. Como vou mensurar isso se eu não dou educação sobre isso?”

Mas a família pode não ser o ambiente mais adequado para ter toda e qualquer conversa sobre sexo. Para Porchat, a professora da Unesp, não precisa tornar a dimensão do prazer sexual explícita na conversa entre pais e filhos, mas ela não precisa ser negada. “Os pais não têm que ficar contando a vida sexual para os filhos e nem o contrário”, diz. “Não é a conversa da ordem de: ah, você já experimentou sexo oral? Mas não faz sentido uma contradição explícita, tipo pais que transaram antes do casamento querendo proibir os filhos de fazer o mesmo.”

Para Schwandner, o aspecto erótico deve ficar de fora da equação na hora de ensinar sobre sexo para adolescentes. Ela diz que, com o ensino do consentimento, o desejo vem depois, “na hora certa”.

Segundo Abdo, a ideia das conversas em família não é que os pais entrem na intimidade dos filhos. “Por incrível que pareça, os jovens são mais caretas que as pessoas mais velhas. É delicado falar disso para quem está dando os primeiros passos.”

Porchat diz que é normal haver alguns tabus entre pais e filhos —e eles não precisam ser quebrados para que haja uma conversa franca sobre sexo. “Tem uma diferença geracional”, diz. “Filho não é amigo de igual para igual, não é uma relação horizontal.”

Abdo diz que, se existe um espaço para diálogo na família, o sexo pode ser uma conversa como qualquer outra —mas não precisa forçar a mão para parecer mais contemporâneo. Para ela, a sexualidade mudou muito e, hoje, começa de formas mais solitárias e virtuais. O contato físico pode demorar para entrar em pauta, mas deve ser pró-ativo e ocorrer, idealmente, antes do início da vida sexual. “Educação sexual não significa passar experiência pessoal”, diz.

Porchat recomenda que os pais observem se os filhos estão passando pelas mudanças típicas da puberdade, por exemplo, e usem esse gancho para puxar uma conversa. Ela ressalta que não precisa ser uma lição formal, na mesa do jantar, sobre a origem dos bebês, mas um diálogo que comece com perguntas sobre as mudanças do corpo e interesse afetivo por alguém especial.

“[A sexualidade] não é uma coisa que você transmite como se estivesse ensinando a lavar roupa”, afirma Porchat, “é uma transmissão da ordem do respeito de si mesmo e do outro e da ideia que não há verdades absolutas”.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis



Leia Mais: Folha

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

ACRE

Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou o encerramento do curso de aperfeiçoamento em cuidado pré-natal na atenção primária à saúde, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (Semsa). O evento, que ocorreu nessa terça-feira, 11, no auditório do E-Amazônia, campus-sede, marcou também a primeira mostra de planos de intervenção que se transformaram em ações no território, intitulada “O Cuidar que Floresce”.

Com carga horária de 180 horas, o curso qualificou 70 enfermeiros da rede municipal de saúde de Rio Branco, com foco na atualização das práticas de cuidado pré-natal e na ampliação da atenção às gestantes de risco habitual. A formação teve início em março e foi conduzida em formato modular, utilizando metodologias ativas de aprendizagem.

Representando a reitora da Ufac, Guida Aquino, o diretor de Ações de Extensão da Proex, Gilvan Martins, destacou o papel social da universidade na formação continuada dos profissionais de saúde. “Cada cursista leva consigo o conhecimento científico que foi compartilhado aqui. Esse é o compromisso da Ufac: transformar o saber em ação, alcançando as comunidades e contribuindo para a melhoria da assistência às mulheres atendidas nas unidades.” 

A coordenadora do curso, professora Clisângela Lago Santos, explicou que a iniciativa nasceu de uma demanda da Sesacre e foi planejada de forma inovadora. “Percebemos que o modelo tradicional já não surtia o efeito esperado. Por isso, pensamos em um formato diferente, com módulos e metodologias ativas. Foi a nossa primeira experiência nesse formato e o resultado foi muito positivo.”

Para ela, a formação representa um esforço conjunto. “Esse curso só foi possível com o envolvimento de professores, residentes e estudantes da graduação, além do apoio da Rede Alyne e da Sesacre”, disse. “Hoje é um dia de celebração, porque quem vai sentir os resultados desse trabalho são as gestantes atendidas nos territórios.” 

Representando o secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, a diretora de Políticas de Saúde da Semsa, Jocelene Soares, destacou o impacto da qualificação na rotina dos profissionais. “Esse curso veio para aprimorar os conhecimentos de quem está na ponta, nas unidades de saúde da família. Sei da dedicação de cada enfermeiro e fico feliz em ver que a qualidade do curso está se refletindo no atendimento às nossas gestantes.”

A programação do encerramento contou com uma mostra cultural intitulada “O Impacto da Formação na Prática dos Enfermeiros”, que reuniu relatos e produções dos participantes sobre as transformações promovidas pelo curso em suas rotinas de trabalho. Em seguida, foi realizada uma exposição de banners com os planos de intervenção desenvolvidos pelos cursistas, apresentando as ações implementadas nos territórios de saúde. 

Também participaram do evento o coordenador da Rede Alyne, Walber Carvalho, representando a Sesacre; a enfermeira cursista Narjara Campos; além de docentes e residentes da área de saúde da mulher da Ufac.

 



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

ACRE

CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

O Colégio de Aplicação (CAp) da Ufac realizou uma minimaratona com participação de estudantes, professores, técnico-administrativos, familiares e ex-alunos. A atividade é um projeto de extensão pedagógico interdisciplinar, chamado Maracap, que está em sua 11ª edição. Reunindo mais de 800 pessoas, o evento ocorreu em 25 de outubro, no campus-sede da Ufac.

Idealizado e coordenado pela professora de Educação Física e vice-diretora do CAp, Alessandra Lima Peres de Oliveira, o projeto promove a saúde física e social no ambiente estudantil, com caráter competitivo e formativo, integrando diferentes áreas do conhecimento e estimulando o espírito esportivo e o convívio entre gerações. A minimaratona envolve alunos dos ensinos fundamental e médio, do 6º ano à 3ª série, com classificação para o 1º, 2º e 3º lugar em cada categoria. 

“O Maracap é muito mais do que uma corrida. Ele representa a união da nossa comunidade em torno de valores como disciplina, cooperação e respeito”, disse Alessandra. “É também uma proposta de pedagogia de inclusão do esporte no currículo escolar, que desperta nos estudantes o prazer pela prática esportiva e pela vida saudável.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou a importância do projeto como uma ação de extensão universitária que conecta a Ufac à sociedade. “Projetos como o Maracap mostram como a extensão universitária cumpre seu papel de integrar a universidade à comunidade. O Colégio de Aplicação é um espaço de formação integral e o esporte é uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento humano, social e educacional.”

 



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

ACRE

Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

PUBLICADO

em

Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

O curso e o Centro Acadêmico de Letras/Português da Ufac iniciaram, nessa segunda-feira, 10, no anfiteatro Garibaldi Brasil, sua 24ª Semana Acadêmica, com o tema “Minha Pátria é a Língua Pretuguesa”. O evento é dedicado à reflexão sobre memória, decolonialidade e as relações históricas entre o Brasil e as demais nações de língua portuguesa. A programação segue até sexta-feira, 14, com mesas-redondas, intervenções artísticas, conferências, minicursos, oficinas e comunicações orais.

Na abertura, o coordenador da semana acadêmica, Henrique Silvestre Soares, destacou a necessidade de ligar a celebração da língua às lutas históricas por soberania e justiça social. Segundo ele, é importante que, ao celebrar a Semana de Letras e a independência dos países africanos, se lembre também que esses países continuam, assim como o Brasil, subjugados à força de imperialismos que conduzem à pobreza, à violência e aos preconceitos que ainda persistem.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, salientou o compromisso ético da educação e reforçou que a universidade deve assumir uma postura crítica diante da realidade. “A educação não é imparcial. É preciso, sim, refletir sobre essas questões, é preciso, sim, assumir o lado da história.”

A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou a força do tema proposto. Para ela, o assunto é precioso por levar uma mensagem forte sobre o papel da universidade na sociedade. “Na própria abertura dos eventos na faculdade, percebemos o que ocorre ao nosso redor e que não podemos mais tratar como aula generalizada ou naturalizada”, observou.

O diretor do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela), Selmo Azevedo Pontes, reafirmou a urgência do debate proposto pela semana. Ele lembrou que, no Brasil, as universidades estiveram, durante muitos anos, atreladas a um projeto hegemônico. “Diziam que não era mais urgente nem necessário, mas é urgente e necessário.”

Também estiveram presentes na cerimônia de abertura o vice-reitor, Josimar Batista Ferreira; o coordenador de Letras/Português, Sérgio da Silva Santos; a presidente do Cela, Thaís de Souza; e a professora do Laboratório de Letras, Jeissyane Furtado da Silva.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 

//www.instagram.com/embed.js



Leia Mais: UFAC

Continue lendo

MAIS LIDAS